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Atualizado em 10 DE julho DE 2013 ás 17:08

“Televisão aborda saúde sob o estigma das doenças”

A televisão enraizou o viés das doenças para discutir temas de saúde e se apropriou de uma abordagem “medicamentosa” desses assuntos, afirma Márcia Rocha, professora da UFRB

POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com

É corriqueiro assistir reportagens a respeito das doenças que acometem as pessoas na atualidade, sobre as últimas descobertas farmacêuticas ou tratamentos para combatê-las. Na televisão, a saúde é abordada sob o estigma das doenças. Esta é a constatação que as professoras Simone Bortoliero (Universidade Federal da Bahia) e Márcia Rocha (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) apresentaram durante palestra realizada no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.

O discurso televisivo explora o conceito de déficit cognitivo, acredita Bortoliero. E esse é um ponto chave na discussão. Tal crença, refere-se à separação entre especialistas e e a população, isto é, quem detém o conhecimento científico de um lado, e quem porta o conhecimento popular de outro. Enquanto o primeiro possui visibilidade na grande mídia, o segundo é relegado a exceções. Professora Simone Bortoliero (Facom-UFBA).

Professora Simone Bortoliero (Facom-UFBA). Foto: Edvan Lessa.

Professora Simone Bortoliero (Facom-UFBA). Foto: Edvan Lessa.

A professora de telejornalismo explicou que, por conta desse quadro, a capacidade crítica do telespectador dificilmente é levada em conta. “Isso [também] é o reflexo de como os intelectuais pensaram a informação: por uma única via”, critica a professora. Ela defende que a criticidade do público envolve diversas vias de acesso à informação. Os temas de saúde também são pautados por telenovelas e outros formatos audiovisuais. Ainda assim, Bortoliero discorda que a televisão possa mudar os hábitos da população.

A professora Márcia Rocha corrobora a ideia de que a mídia convencional, sobretudo a televisão, enraizou não apenas o viés das doenças para discutir temas de saúde, mas se apropriou de uma abordagem “medicamentosa”. “Que modelo de saúde nós queremos?”, questiona. “A saúde é um tema que desperta muita audiência”, lembra Márcia, que escolheu o programa Ser Saudável, uma série que aborda doenças e cuidados especiais para tratá-la, como objeto de sua pesquisa.

Professora Márcia Rocha, UFRB. Foto: Edvan Lessa.

Professora Márcia Rocha, UFRB. Foto: Edvan Lessa.

O Ser Saudável possui uma abordagem médico-científica, na qual especialistas conduzem as edições. “Mesmo assim, algumas posturas são reproduzidas por eles”, sublinha. O paradigma a ser superado na visão das pesquisadoras esbarra na qualificação de jornalistas que lidam com temas de saúde. Superar o interesse apenas pelo inédito também se configura como desafio no campo da comunicação e saúde. Além de tornar legítimo o discurso para além das áreas altamente especializadas.

*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.

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