A face indígena do Brasil

POR LUKAS BARBOSA MATTOS*
lukastrezentos@gmail.com

Há todo um folclore em torno da imagem do índio no Brasil algo que, na maioria das vezes, dificulta o processo de percepção clara não só da existência como da atuação do índio na sociedade brasileira. As reações do público em geral, quando a questão indígena é colocada em pauta, são baseadas na maneira como essa realidade é abordada.

Esse foi o tema do último seminário do projeto de pesquisa Faces do Brasil, ocorrido neste mês de abril, coordenado pelo professor Fernando Conceição, com a participação dos alunos envolvidos no grupo de pesquisa Etnomídia da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM – UFBA). O grupo, patrocinado pela Ford Foundation, monitora 23 veículos impressos desde 1998, verificando a imagem das etnias negra, indígena e cigana que tem sido passada pela mídia ao público.

Ciganos ainda têm imagem estereotipada pela mídia brasileira

O tema “índio” foi investigado pelo grupo por 19 meses e durante esse tempo foram encontradas 3.155 matérias sobre o tema. “Nós não podíamos pensar nos veículos como inimigos, para nos despirmos dos preconceitos com relação à mídia”, disse a aluna Marilúcia Leal, que junto com Joaci Conceição, coordenou o seminário. Mesmo com essa visão, os resultados apresentados não são os melhores: o índio aparecia muito nos casos de conflito de terras e grandes obras privadas ou governamentais, além ser mostrado como algoz e entrave para o desenvolvimento econômico. O agravante é que raramente os índios foram fontes de informações, demonstrando a parcialidade com a qual os veículos de comunicação tratam a questão, abordando a questão apenas sob o ponto de vista dos grandes agentes do capitalismo financeiro.

Os contrapontos a essas abordagens foram dados pela atriz Rita Pinheiro, conhecida como Garimpeira da Cultura, por Clélia Côrtes e Francisco Guimarães, ambos professores e pesquisadores de temas indígenas, e pelo Cacique Babau, líder dos índios tupinambás do sul da Bahia.

Os professores Clélia Côrtes e Francisco Guimarães destacaram que o sistema de educação brasileira continua mostrando o índio de forma caricata: sem levar em conta a existência de diferentes etnias indígenas, não considerando a história destes povos antes da chegada dos portugueses e afirmando que sua atitude quanto às imposições da cultura européia era de passividade. “A História não reconhece o índio como agente social ativo”, afirmou Guimarães.

O Cacique Babau foi quem pôde abordar a questão indígena do ponto de vista do próprio índio. Sua principal preocupação foi desmistificar a imagem distorcida que a mídia brasileira vem trazendo ao público sobre os índios: “Nossos costumes e cultura são folclorizados na imprensa. As matérias são majoritariamente pejorativas e difamatórias”, afirmou. O Cacique disse também que os veículos de comunicação estão a serviço dos grandes empresários e latifundiários que, segundo ele, necessitam que o índio estejam acuados e com baixa autoestima. “Nós indígenas, temos que provocar uma imprensa livre e democrática.”

Lukas Barbosa Mattos é estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA