A busca por uma maior interação nas redes sociais e o seu papel na divulgação da Ciência foram os temas centrais da plenária “Comunicação da Ciência e mídia Social”, realizada na 13ª Conferência Internacional de Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia
NÁDIA CONCEIÇÃO*
nadconceicao@gmail.com
Os espaços midiáticos como fomentador da comunicação da Ciência e sua repercussão na sociedade foram alguns dos temas abordados na plenária “Comunicação da Ciência e mídia Social”, que aconteceu na manhã desta terça-feira, dentro da 13ª Conferência Internacional de Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia, que acontece pela primeira vez na América Latina.
A plenária, moderada pelo pesquisador Brian Trench, membro do Comitê Científico da Rede PCST, na Irlanda; Dominique Brossard, membro do Comitê Científico da Rede PCST, dos Estados Unidos; Mohammed Yahia, editor da Nature do Médio Oriente, Egito; e da brasileira Juliana Santos Botelho, da Universidade Federal de Minas Gerais, buscou mostrar o papel social da comunicação científica desenvolvida nas redes sociais e a representação dos cientistas e da informação de ciência nesses espaços.
Diante de tantas mudanças e de uma busca incansável para o que é mais interativo, Trench fez um questionamento chave: Qual tipo de mídia não seria social? A proposta é uma reflexão para se chegar ao entendimento de como funcionaram e como ainda podem mudar as relações e os mecanismos de interação entre a mídia e o processo de transmissão de informação para a sociedade. De acordo com o mediador, o pensamento de que nem todos podem ter acesso é originário dos “limites culturais dos cientistas que militam negativamente no engajamento político na internet”.
A noção de interação tem que ser incorporada pelos cientistas que, segundo ele, está super-representada nas redes sociais, o que não pode ser aceitável, pois a “internet está presente em tudo que fazemos hoje em dia”, afirma Trench.
Para a pesquisadora da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, Dominique Brossard, é possível haver um engajamento público e a popularização da Ciência, contudo não podemos medir o impacto dessa popularização nas redes sociais, não ainda.
Em pesquisa realizada, Brossard mostrou o panorama de transformação no jornalismo cientifico, apontando que existe uma grande busca de temas ligados à Ciência. Segundo o estudo, o panorama de acesso à informação de Ciência no Brasil foi medido da seguinte forma: 47% das pessoas ainda buscam notícias por meios dos jornais tradicionais online; 44% as encontram em sites de pesquisas, como por exemplo, o Google; 60% são das redes sociais e 37% são oriundas do engajamento político na internet.
A pesquisa também constatou que é cada vez mais comum a produção de blogs de Ciência por pessoas que não são especializados, como cientistas e jornalistas científicos, o que é central para a Compreensão Pública de Ciência, bem como a contribuição das redes sociais para a difusão da notícia.
A única brasileira na mesa, Juliana Botelho, trouxe o exemplo do aumento dos blogs de Ciência no Brasil. A pesquisa foi feita em 150 blogs especializados, onde ela apontou alguns pontos que contribuem para esse aumento. A saber: a crise do jornalismo mundial e os altos números de demissões; o impacto dessas crises no Brasil.
“Este panorama, encontrado a partir da pesquisa, permite um impacto na qualidade da informação”, criando a partir daí uma homogeneização da cobertura (novas agências), pois coloca os países do norte no centro como produtores das notícias de Ciência, pois há uma grande replicação desses conteúdos ao redor do mundo. No caso do Brasil, há uma enorme perda nesse cenário, pois acaba saindo do protagonismo, gerando com isso uma inconsistência nas coberturas científicas locais.
De acordo com Botelho, é “importante esse papel de disseminação da Ciência na internet, pelo ganho na experimentação e pela criação de novos modos de se escrever, porém é fundamental que eles não substituam a cobertura científica dos jornais”, reforça.
Trazendo a visão do comunicador, dos jornalistas científicos para a discussão, Mohammed Yahia acredita que não há especialistas em mídias sociais, mas exploradores dessas redes sociais e de seus conteúdos, que constroem juntos as informações ao mesmo tempo.
Yahia mostra preocupação na descoberta de uma forma de provocar mais o engajamento dos jornalistas na busca da sua audiência e em como eles usam as redes para a busca de suas fontes e seu relacionamento com elas. “O grande desafio dos jornalistas é fazer com que o público participe e se envolva coma produção, da história das notícias, fazendo com que ele se torne confiante e leal à temática”.
Por outro lado, Yahia também reforça que é necessário que os jornalistas estejam preparados e se adaptem a essas novas mídias, de modo que eles sejam mais humanos e mais engajados. Afirma ainda que os cientistas no Oriente Médio não interagem com seu público, mas os que o fazem acreditam que a comunicação da ciência é positiva para a causa científica.
*Jornalista e mestranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – Ufba