Café Científico aborda a destruição da mata nativa e de suas espécies, discutindo a falta de compreensão por parte da sociedade
MATHEUS VIANNA*
Grande parte dos discursos ambientalistas são rechaçados por apresentarem, na opinião dos contrários, argumentos e resultados pouco palpáveis, concretos. São estereotipados como pessoas que simplesmente “adoram árvores”, sem apresentarem bases teóricas coesas para sustentar suas posições. Essa visão é extremamente combatida pela pesquisa apresentada no Café Científico da última terça-feira (25), na Biblioteca Central da Bahia, pelo professor Pedro Luis Bernardo da Rocha do Instituto de Biologia da Ufba.
A apresentação, cujo título é “Perda da vegetação nativa e a perda da biodiversidade: razões éticas e pragmáticas para nossa preocupação” foi dividida em dois blocos principais: levantamento teórico sobre o tema, apresentado os conceitos de valores éticos e pragmáticos para a preservação das espécies, e apresentando os dados coletados pela pesquisa elaborada pelo programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biomonitoramento, estabelecendo a relação entre a diminuição das manchas florestais e a consequente extinção de certas espécies.
Os valores éticos das espécies seria a percepção da sociedade de que tal espécie tem um valor intrínseco a sua existência enquanto ser vivo. “Pensando num exemplo de sapos localizados perto de estradas, eles podem não ter nenhum valor diretamente social, mas um estudo sobre substâncias liberadas na sua pele pode resultar num novo estudo medicinal”, comenta o professor Pedro Luis. Além de argumentar que cada espécie tem um potencial, o professor apresentou um infográfico que demonstra a curta duração da vida humana na história da vida na Terra, evidenciando a grande importância da diversa biodiversidade na construção da vida no planeta.
Já em relação aos valores pragmáticos, o professor elencou vários exemplos da importância social de diversos aspectos da biodiversidade. “Segundo pesquisa americana, 40% dos fármacos utilizados por nós derivam de produtos da biodiversidade existente”, exemplifica Pedro Luis. De acordo com ele, nós não pensamos nesse tipo de valor porque ele não pesa do nosso bolso, já que ”nós não pagamos nada à planta do nosso chazinho”.
A parte prática do estudo foi uma pesquisa realizada por esse grupo de professores e estudantes da Pós-Graduação em Ecologia e Biomonitoramento, além de professores e técnicos colaboradores de outras instituições. A pesquisa é feita a partir da constante diminuição e separação das manchas florestais devido aos desmatamentos e suas implicações na vida das mais variadas espécies.
De acordo com a pesquisa, quanto maior a distância entre as manchas de floresta maior é o risco de extinção de várias espécies daquele habitat. Um dado utilizado no planejamento de impactos ambientais em obras é que o limite de desmatamento é de 20% daquela determinada área. Mas o trabalho apresentado evidencia que esse limite é duvidoso. “Se tirarmos 20% de uma mata cheia, sem manchas, os impactos são mínimos, porém se tirarmos 20% de um ambiente já desgastado e cheio de pequenas manchas, os efeitos nas espécies daquele habitat são desastrosos.
O maior problema, porém é que tais efeitos podem ter consequências diretas na vida humana. Em entrevista da bióloga paulista Renata Pardini, feita pela Revista Caititu, produto do mesmo programa de Pós-Graduação, ela cita exemplo desse tipo de resultado direto da perda de biodiversidade. “Temos evidências de que essa perda abrupta de diversidade de espécies de pequenos mamíferos florestais esteja associada à explosão de certas espécies não florestais e generalistas, que são hospedeiros de patógenos que causam doenças no homem”, afirma a professora. O exemplo apresentado é o de um roedor que teve alto crescimento populacional á medida que foram desmatando áreas da Mata Atlântica, sendo que tal roedor é o principal reservatório do hantavírus, que causa a hantavirose humana que uma das formas mais graves é a febre hemorrágica.
Através desse panorama de estudos teóricos e práticos, a grande questão para o professor Pedro Luis é como realizar o desenvolvimento econômico e infraestrutural que o país requer sem causar danos irreversíveis à nossa biodiversidade. “O essencial é aliar um desenvolvimento socioeconômico com um planejamento ambiental e não tratá-los como aspectos antagônicos”, analisa o palestrante.
*Graduando do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura da Ufba