Em seu primeiro dia, a Semana de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia, foi iniciada na Reitoria em uma cerimônia que recebeu representantes de diferentes instâncias da UFBA. Exposições, feira de livros e duas conferências integraram a ampla programação.
POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com
O tema “Economia verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza”, em discussão durante a Rio +20, evento mundial sobre compromisso político e desenvolvimento sustentável, também protagoniza a Semana de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia – ACTA 12, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O evento, iniciado ontem (15) com uma cerimônia na Reitoria da Universidade, contou com duas conferências, exposições e feira de livros, em uma ampla programação, que se estenderá até o próximo dia 19, integrando a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
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Melodias harmoniosas ecoaram durante a solenidade de abertura da ACTA 12, com a apresentação do Grupo de Percussão da UFBA, coordenado pelo Professor Jorge Sacramento da Escola de Música. Na sequência, a Magnífica Reitora, Dora Leal Rosa, celebrou a realização do evento que acontece pela segunda vez, destacando a sua principal expectativa. “Será uma semana de intensa programação que permitirá aprofundar ainda mais o tema [principal]. Esperamos agregar e congregar professores, estudantes e servidores técnicos-administrativos”.
“A ACTA não é um evento, mas sim, uma ideia de construção, sem definição de tempo e de espaço”, Marcelo Napoli. Foto: Lucas Silva Peixoto (Ascom-Seplan)
As palavras proferidas em seguida foram do coordenador de Pesquisa e Criação da Universidade, Marcelo Napoli, que exerga a ACTA 12 como uma iniciativa sem começo ou fim. “A ACTA não é um evento, mas sim, uma ideia de construção, sem definição de tempo e de espaço”. O diretor geral da Fundação Baiana de Amparo à Pesquisa, Roberto Paulo Machado, por sua vez, comemorou a realização da Semana, acreditando que ela é um esforço baiano de incorporar a inovação à estrutura produtiva local.
Também integrou a mesa o coordenador de Ensino e Pós Graduação da UFBA, Ronaldo Lopes, que foi enfático ao citar a iniciação científica como “nascedouro da pós-graduação”, e peculiar ao aconselhar a comunidade discente a aproveitar a Semana de Arte, Cultura, Ciência e Inovação para além do conteúdo das quase 50 atividades em torno dos campi. A Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação, representada por Marcelo Embiruçu, reiterou a atuação conjunta entre as instâncias da Universidade para a realização da Semana, e garantiu que, ao final dessa edição, serão iniciados os preparativos para a próximo ano.
Conferência “Universidade e Inovação”
Experiente e renomado na área em que atua, Sergio Gabrielli, atual Secretário do Planejamento do Estado da Bahia, conduziu a conferência “Universidade, Inovação e Economia Criativa: Novos Paradigmas para o desenvolvimento”. Durante a apresentação, o professor licenciado da Faculdade de Economia da UFBA problematizou a relação entre economia e conhecimento, no tripé universidade, mercado e sociedade, refletindo sobre a propriedade intelectual, Economia Verde e Indústria Criativa.
Sergio Gabrielli chamou a atenção para a importância econômica do conhecimento produzido na universidade, que se conecta com as empresas – ultrapassando a formação e consultoria – e a sociedade. “Não é verdade [porém] que a economia sempre foi baseada no conhecimento.” De acordo com o secretário, no passado, a inovação emergia da experiência empírica “do chão de fábrica”. Mas ainda segundo ele, novas demandas têm exigido mais do que ensino e pesquisa.
“Não é verdade que a economia sempre foi baseada no conhecimento.”, afirmou Sergio Gabrielli. Foto: Lucas Silva Peixoto (Ascom-Seplan)
O secretário do Planejamento reiterou a necessidade de organizar o que ele denomina “núcleo gerador de conhecimento”, a partir de um grau de cultura fértil para desenvolvimento científico em rede. Ele declarou acreditar na inovação a partir da produção colaborativa. “[Por esse motivo] precisamos repensar a estrutura da universidade para escapar da ideia de que é só professor quem ensina”, defendeu.
Ante as mudanças de paradigma debatidas em sua conferência, Gabrielli atenta que, no que diz respeito à propriedade intelectual, a pesquisa é parte da universidade. Para ele, a futura universidade – ou à universidade do futuro – precisa de expansões e incentivos. “Não basta fazer o curso [apenas] com a transmissão do conhecimento. É preciso vinculá-lo a temas reais”.
Sergio Gabrielli, durante a conferência, problematizou o tema propriedade intelectual. Foto: Lucas Silva Peixoto (Ascom-Seplan)
Economia Verde e Indústria Criativa
Sobre o tema Economia verde, Gabrielli explicou que trata-se do estímulo a “setores” que emitem baixas quantidades de carbono, e conseguem ser matrizes energéticas eficientes, como a energia eólica. “A Bahia é o maior centro potencial produtor de energia eólica do Brasil [e] nossos parques [com cerca de 1400 moinhos] estão [instalados] no semiárido”, lembrou.
Após citar as previsões para os próximos 5 anos, que sinalizam 72, 5 bilhões em investimentos da Secretaria do Planejamento – 6,5 bilhões para a indústria eólica, 485 empreendimentos, e incentivos de 25, 6% para o setor de energia e 24, 6% para a mineração, Gabrielli concluiu a apresentação, tratando dos desafios de outro campo que tem ganhado atenção econômica, a Indústria Criativa. As áreas que fazem parte desse campo ainda não estão definidas, e, segundo o Secretário, falta, dentre outras coisas, um levantamento de dados e a criação de marcos legais para que se possa investir de maneira adequada. “Nada desse tipo de trabalho pode ser baseado no conhecimento tradicional. Envolve a indústria do conteúdo. [Também é] preciso criar novas formas de relacionamento social”, finalizou.
Conferência “Novos/Velhos saberes”
Na manhã de ontem, a comunidade acadêmica prestigiou a Conferência “Novos/Velhos Saberes” com Peter Richerson, da University of California Davis. Durante a palestra mediada pelo Professor Charbel Niño El-Hani (Instituto de Biologia – UFBA), Richerson tratou da “Evolução Cultural”, tema explorado a partir da perspectiva evolucionista dasenvolvida por teóricos como Charles Darwin.
À luz da crença de que a cultura transformou a evolução humana, Peter Richerson defendeu que o aspecto cultural evolui mais rapidamente, do que os genes. Além disso, o estudioso destacou que os seres humanos se organizam em agrupamentos sociais, marcados simbolicamente por dialetos, modos de se vestir, costumes, rituais – mecanismos de diferenciação e seleção. Para ele, a origem destes agrupamentos sinalizam a dimensão dos processos evolutivos das sociedades.
Peter Richerson (UC Davis) apresentou a conferencia sobre "Evolução Cultural", durante a ACTA 12.
Richerson acredita que as pessoas internalizam os objetivos das organizações sociais nas quais se identificam. Os grupos humanos, por sua vez, tendem a competir como entidades corporativas e as crianças aprendem rapidamente as normas do contexto onde estão inseridas. E, dentre outras conclusões, o pesquisador acredita que a variação hereditária de cada grupo, somada a competição entre si, implica na seleção natural. Segundo o pesquisador, a boa notícia é que, com tecnologias como a internet, as diferenças culturais tem diminuído.
*Edvan Lessa é estudande de Jornalismo da Facom – UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.