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Atualizado em 5 DE dezembro DE 2012 ás 22:40

Ambientes virtuais não salvam a nós nem a democracia

Professor José Antônio de Pinho lança coletânea onde pesquisadores discutem a interação dos portais do governo com a sociedade.

POR NÁDIA CONCEIÇÃO*
nadconceicao@gmail.com

A utilização da internet pelo governo brasileiro, sua forma de interação com a sociedade e o modo como as transformações políticas ocorrem com essa ferramenta são interesses do livro “Estado, sociedade e interações digitais: expectativas democráticas”. A obra é organizada pelo professor e pesquisador José Antônio de Pinho, titular da Escola de Administração da UFBA (EAUFBA) e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Internet, Democracia, Estado e Sociedade (NIDES).

Pesquisador José Antônio de Pinho fala sobre o seu livro “Estado, sociedade e interações digitais: expectativas democráticas”

De acordo com o professor, apesar da difusão da internet, trata-se ainda de um campo novo de estudo. “A internet vem mudando o tempo todo, se configurando, e se recriando, isso porque os avanços tecnológicos têm ocorrido de forma brutal, célere, sempre à nossa frente. Dessa forma, todo estudo e toda publicação que trate desse tema é sempre muito importante”, afirma.

Os artigos, que têm a contribuição de pesquisadores de outras instituições de ensino superior do Brasil e da Argentina, procuram discutir a importância do papel da internet em uma possível reconfiguração dos espaços de discussão da política. Os trabalhos partem do pressuposto de que a sociedade também acompanha essas mudanças com o acesso as tecnologia. Entre outros temas discutidos na publicação estão: os portais do governo federal brasileiro; o papel da internet na participação política de organizações da sociedade civil; o uso do governo eletrônico no Brasil; e a relação entre política e internet.

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“Temos percebido uma maior tentativa de levar as relações entre o governo e a sociedade para além da ambiência de sociabilidade presencial. Sendo assim, tem se criado cada vez mais formas de participação eletrônica com portais, com conteúdos mais democráticos e uma possibilidade de abertura do governo. Os questionamentos também são maiores sobre o assunto”, afirmou o professor.

Pinho chama atenção, ainda, para os ganhos positivos com relação ao entendimento e à clareza da sociedade civil, contudo, a maioria das pessoas ainda não tem o discernimento de como usar as ferramentas disponibilizadas para o acesso a informações como transparência pública. “Demos passos excelentes, mas o que temos que questionar é: essa nova forma de participação política foi combinada com a sociedade? Mesmo tendo portais maravilhosos, não estou falando que temos, mas já combinou com a sociedade, ela vai participar, ela está interessada?”, questiona.

Outras pesquisas foram desenvolvidas pelo professor com jovens, sobretudo da graduação. O que se percebe é que existem muitos jovens que acessam a internet, mais em torno de interesses individuais. “Sabemos que os interesses pessoais são legítimos; é interação social, e longe de mim querer colocar que todos tenham que viver em um ambiente de coletividade feroz o tempo todo. As pessoas procuram a internet para várias coisas, buscam informações, emprego, interações, mas quando vamos ver o nível de participação política pela internet o percentual é mínimo. Então, temos tecnologia, mas não temos uma predisposição”.

Com relação a seu artigo publicado no livro, intitulado “Política presencial versus política virtual: uma investigação no Fórum digital de Debates entre docentes na Universidade Federal da Bahia”, com a participação da pesquisadora Ingrid Winkler, Pinho explica que o objeto de pesquisa foi o portal da UFBA, onde o público é mais específico, as pessoas são mais qualificadas e não têm maiores problemas de transitar nos meios digitais.

“O objetivo foi entender as disposições das pessoas para o uso das tecnologias no debate político e chegamos a algumas categorizações: temos os fãs da tecnologia, que são os otimistas; os reticentes, que olham a tecnologia como boa, mas não para o debate político, pois este tem que ser feito fundamentalmente presencialmente; e aqueles que têm aversão à tecnologia. Então, nosso objetivo foi tentar entender as vantagens e desvantagens de se fazer política em um ambiente e no outro.”

De acordo com o professor, não podemos atribuir a responsabilidade da melhora do mundo às interações ocorridas no ambiente virtual, pois o que se tem hoje em dia é uma sociedade contemporânea, complexa, cheia de interesses individualistas, onde o coletivo perdeu força.

“Será que esse ambiente virtual vai salvar a política feita de modo presencial? Eu acredito que não, porque se não existe a predisposição das pessoas em participar no ambiente presencial, logo no meio virtual fica ainda mais difícil, ainda existam algumas facilidades”, explica. Segundo o professor, a atuação nas redes não se resume a ter ou não acesso a tecnologia, mas no interesse em participar politicamente das arenas políticas. “Sabemos dos aspectos positivos da tecnologia, da instantaneidade, da rapidez, mas não creio que elas vão nos salvar, salvar a democracia”, finaliza Pinho.

O lançamento do livro “Estado, sociedade e interações digitais: expectativas democráticas”, aconteceu na última semana e foi uma iniciativa da Editora da UFBA (EDUFBA), que realiza lançamentos coletivos e tem como objetivo promover um diálogo entre os mais variados campos de estudos, além de difundir o conhecimento produzido na Universidade.

++Veja as demais publicações do lançamento coletivo da Edufba.

*Nádia Conceição é jornalista, estudante de produção cultural da UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.

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