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Atualizado em 29 DE julho DE 2017 ás 10:53

Angela Davis: feminismo negro e resistência

A ativista esteve em Salvador para o movimento #julhodaspretas, organizado em parceria entre o Instituto Odara, Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM-UFBA) e Coletivo Angela Davis (UFRB)

POR LARISSA SILVA*
silva.larissa1@outlook.com

As 400 cadeiras do salão nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA) não foram suficientes para o público interessado em assistir à conferência “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”, que encerrou a passagem da escritora, professora e filósofa norte-americana Angela Davis pelo Brasil. Em sua sexta visita ao país, ela iniciou seu discurso revelando o entusiasmo em estar pela quarta vez em Salvador. A palestra da ativista também foi transmitida em telões instalados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), no Instituto de Saúde Coletiva da Ufba (ISC) e teve transmissão ao vivo da TV UFBA e da TVE.

O evento comemorou o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, comemorado no último dia 25 de julho. Na ocasião, Davis ressaltou o ativismo das mulheres negras no Brasil e inclusive celebrou o movimento das trabalhadoras domésticas negras brasileiras. Para ela, o movimento social liderado por mulheres negras é o mais importante do país. “Temos que aprender com o feminismo do Brasil”, acrescentou.

Liberdade - A professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia defendeu que a violência doméstica não será erradicada enviando os agressores ao sistema carcerário. “Se desejamos erradicar as formas mais endêmicas de violência do indivíduo da face da Terra, então devemos eliminar também as fontes institucionais de violência”, afirmou. Ela fez um chamado pelo fim do encarceramento como forma dominante de punição e ressaltou a necessidade de pensar em novas formas de justiça. “Não ao feminismo carcerário, sim ao feminismo abolicionista”, convocou Davis.

Angela relembrou militantes brasileiras como Luiza Bairros (1953-2016), ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Mãe Stela de Oxossi e a escritora Carolina de Jesus e destacou a importância de lideranças que enfatizem intervenções coletivas e dê apoio às comunidades em luta. “A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva” constatou.

Resistências - Ela também abordou os constantes esforços institucionais para conter a resistência dos movimentos sociais. “Quando nós resistimos, as instituições dominantes e, sobretudo, o Estado, tentam conter a nossa resistência”, argumentou. Nesse sentido, aproveitou a oportunidade para falar da professora Denise Carrascosa, coordenadora de um projeto social em uma penitenciária de Salvador (o Coletivo Corpos Indóceis), que está impedida de frequentá-la depois de protestar contra uma atitude policial que considerou inadequada. “O que vocês farão?”, Davis questionou à plateia, deixando a sugestão de que um abaixo-assinado em defesa da professora fosse realizado ali mesmo.

Davis encerrou a conferência afirmando a necessidade de estabelecer conexões entre os as várias formas de feminismo negro, mesmo reconhecendo a existência de diferenças entre eles. “Convocamos solidariedade para além das fronteiras nacionais”, sustentou. Ela afirma que as lutas das mulheres negras se conectam com as lutas das pessoas oprimidas de todas as partes. “Mulheres negras representam o futuro, porque representam uma possibilidade real de esperança na liberdade”, concluiu a conferencista enquanto a plateia vibrava com suas palavras.

Confira a conferência na íntegra:

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

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