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Atualizado em 30 DE novembro DE 2017 ás 17:39

Anticoncepcionais podem causar câncer

Pela facilidade de acesso e baixo custo, os anticoncepcionais são muito usados para evitar que fêmeas entrem no cio. Porém, apenas uma dose do medicamento já pode acarretar em graves doenças como o câncer de mama e infecções uterinas, além de complicações no parto

POR MARCELA VILAR*
marcelavilarms@gmail.com

Para aqueles que desejam evitar o cio, diminuir a atração dos machos e impedir que suas cadelas e gatas tenham filhotes, o uso de anticoncepcionais parece ser a solução perfeita. De maneira prática e barata, a “vacina anti-cio” pode ser encontrada facilmente em petshops e na internet, em sua fórmula injetável ou oral, a partir de apenas três reais.

Entretanto, o que muitos não sabem são as altas chances do animal adquirir infecções uterinas e até o câncer de mama. Segundo a médica veterinária e doutora em Patologia Experimental, Daniela Larangeira, os animais que usaram pelo menos uma vez têm 90% de probabilidade de desenvolver o câncer, se comparado aos que nunca tomaram. A médica completa que quanto mais aplicações forem feitas, maiores serão as chances de aquisição da doença.

Foto: Celso Ribeiro / Divulgação / goo.gl/Zx9RQz

O perigo – Um estudo realizado pelo Hospital Veterinário da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2013, analisou 193 prontuários de cadelas e gatas entre 2010 e 2011. A pesquisa mostrou que a piometra, que se caracteriza como uma grave infecção uterina, foi encontrada em mais de 50% das pacientes. O uso de anticoncepcionais foi fator relevante para o diagnóstico.

Além disso, foi investigado a relação dos partos de cadelas e gatas com o uso do medicamento. Todas que usaram anticoncepcionais durante a gestação apresentaram complicações no parto, como prolapsos (quando o aparelho reprodutivo é projetado pela vagina) e torções uterinas (anormalidade do trato reprodutivo).

Em mais de 80% desses casos, tiveram de ser realizados partos anormais (distocias). Esse evento ocorre quando há falha em iniciar o parto no momento correto ou quando há problemas na própria expulsão dos fetos, uma vez que o parto já tenha se iniciado.

Anticoncepcional não é aborto – Apesar da crença de muitos, o anticoncepcional não tem caráter abortivo, mas preventivo. Ele consegue impedir que as cadelas e gatas entrem no cio, porém, uma vez que já estejam em período de gestação, o uso da medicação não irá interrompê-la e sim impedir que os filhotes nasçam.

“Como o índice de progesterona fica muito alto, a gata ou a cadela não consegue ter a cria por não ter contração suficiente. Desse modo, os filhotes morrem dentro do próprio útero. Isso gera a piometra, podendo haver um grande risco de óbito”, explica Daniela, que também faz parte da equipe do Laboratório de Infectologia Veterinária (LIVE) da UFBA.

A médica afirma que desconhece clínicas e veterinários que prescrevam anticoncepcionais e que a venda desse produto no Brasil já deveria ser proibida. Entretanto, é possível encontrar petshops e até clínicas veterinárias em Salvador que vendem sem nenhuma restrição, aconselhamento ou prescrição médica. Seu valor está em torno de três e seis reais por mililitro.

“Não quis castrar minha cadela porque ainda quero que ela tenha filhotes, então apliquei o anticoncepcional. Na época, achei que a melhor opção para ela não entrar no cio”, relata Giovanna Hemerly, estudante da Faculdade de Jornalismo da UFBA, que aplicou duas doses da medicação. Segundo Giovanna, o vendedor não a informou sobre o risco de câncer de mama e a cadela apresentou alterações no pêlo após a primeira aplicação, que foi feita em 2014.

Apesar do animal não ter apresentado nenhum sintoma até agora, a estudante admite que se arrepende. “Se eu soubesse que poderia dar câncer eu não teria aplicado”, completa.  Na maioria dos casos, o câncer se manifesta dois a três anos após a aplicação da primeira dose da vacina.

Já outro estudante da UFBA, do Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades, Diogo Torres, optou pela castração para impedir que sua cadela tenha cria.

Campanha do outubro rosa realizada este ano pelo Hospital de Medicina Veterinária da UFBA

A castração – Uma alternativa mais segura e recomendada pelos veterinários para aqueles que não desejam que seus animais tenham filhotes é a castração. O procedimento é chamado de ovariosalpingohisterectomia (OSH), no qual tanto o útero quanto o ovário das fêmeas são retirados.

De acordo com um artigo publicado pela veterinária, especializada em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos, Ana Cláudia Andrade, a castração previne não só os filhotes indesejados, mas reduz o risco de desordens reprodutivas e neoplasias mamárias (crescimento anormal das células da mama). Além disso, se as cadelas forem castradas antes do seu primeiro cio, o risco de desenvolvimento de neoplasia mamária é de 0,5%. Para gatas, o índice é ainda mais baixo: 0,06%.

Para os machos, a castração também traz benefícios: pode prevenir contra o câncer de próstata. A retirada dos testículos (orquiectomia) reduz a circulação de testosterona e, portanto, diminui a atividade produtiva da próstata. Além disso, pode reduzir os comportamentos sexuais, agressivos e de marcação de território, atitudes resultantes da ação do hormônio.

Consequências nos felinos – Especificamente nas gatas, o uso de anticoncepcional pode gerar a hiperplasia mamária, que se caracteriza pelo aumento exacerbado das glândulas da mama. Ao contrário do câncer, que por ser uma doença crônica demora mais tempo para se desenvolver, a hiperplasia pode se manifestar com apenas 15 dias após a primeira injeção hormonal.

O inchaço ocorre pelo acúmulo de sangue nas glândulas mamárias. O aumento das células da mama pode implicar no aparecimento de feridas, úlceras, necroses e até infecções secundárias. Nos últimos seis meses, o Hospital veterinário da UFBA recebeu três pacientes com a doença e uma delas foi a óbito.

*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

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