Avaliar as entrelinhas da publicidade sobre sustentabilidade, considerando os reais desafios que essa concepção sugere é uma das reflexões mais importantes na pauta do meio ambiente, propostas pelo pesquisador Asher Kiperstok durante um dos Cafés Científicos da ACTA 12.
POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com
“Caminhamos no bom senso, da sustentabilidade, mas no interior de um trem, aquele do desenvolvimento, que desliza dez vezes mais rápido no sentido oposto”. O trecho do livro de Pierre Calame, presidente da Fundação Charles Mayer para o Progresso do Homem, divulgado em entrevista da revista Carta Capital – em 16 de junho – é uma síntese do pensamento de Asher Kiperstok, professor de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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“Quando vamos parar de desvirtuar a palavra sustentabilidade?”. Esse é o primeiro questionamento de Kipersok, que critica o uso indevido que se tem feito do adjetivo sustentável. De acordo com o pesquisador, além de haver um apelo publicitário, o termo é “vendido à sociedade” por meio de discursos, como o que afirma a eficácia ambiental das chamadas energias limpas, ideia que ele discorda. “A substituição do petróleo pelo diesel não traz um ganho significativo [para o meio ambiente]”, exemplifica.
“Se a gente consegue cumprir a lei, ótimo, mas não vamos dizer que isso é sustentabilidade”, pondera Kiperstok. O estudioso reflete que as pessoas começam a “relaxar” para as mudanças necessárias requeridas pelo termo sustentabilidade ao julgarem que “práticas sanitárias do século 18” são suficientes. Ele afirma que se uma criança dentro de um carro decide não jogar o lixo pela janela, isso evidencia a sua educação, e não uma postura sustentável.
Pet verde, prédios ou carros sustentáveis são ideias que Asher Kiperstok enxerga como sendo alternativas, mas que também não garantem uma contrapartida relevante ao meio ambiente, assim como as inovações que surgem para suprir uma não necessidade da população. A redução na venda de automóveis em cerca de 20% ou 30%, tal como se evidenciou durante a mais recente crise econômica norte-americana, implica, por outro lado, em ganhos notórios, na análise do pesquisador.
Asher Kiperstok aponta ainda para a questão do investimento na pauta ambiental. “A gente sabe como controlar a AIDS, mas ela só é controlada onde se tem dinheiro”, pontua. A sua grande reflexão, no entanto, é sobre como essas problemáticas são internalizadas por cada um, pois, ainda segundo ele, só temos capacidade de reduzir o que percebemos.
Kiperstok conclui que tendemos a uma estabilidade insustentável. Contudo, defende que não podemos fazer com que a “utopia” de um mundo sustentável gere um imobilismo da nossa parte.
Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom – UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.