Educação e assistência familiar na infância são fundamentais para a inclusão social
LAÍS MATOS*
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Lucas tem 12 anos e tem autismo, seu comportamento é muito infantil para a idade. Diferente do que algumas pessoas pensam sobre o autista, ele gosta muito de conversar. Depois de dizer sua idade ele tenta adivinhar a minha com uma brincadeira. Em um lugar cheio de crianças, ele sempre procura o grupo dos menores para brincar. Apesar das dificuldades de interpretação – português e matemática – ele tem uma noção de direção e espaço incrivelmente elevada. De acordo com Lorena Gil, mãe de Lucas, ele é muito bom com as habilidades espaciais e adora andar de bicicleta, por isso o matriculou em um curso para aprender a velejar. (curso de velas). “Ele gosta do curso e pode virar uma possível profissão, evitando que seja dependente financeiramente”, diz Lorena.
“O autismo é um transtorno no desenvolvimento do indivíduo e se constitui como uma síndrome por agregar um conjunto de sintomas”, explica a pedagoga e presidente da Associação de Amigos do Autista da Bahia (AMA) Rita Valéria Brasil. Ela esclarece ainda que os primeiros transtornos são diagnosticados entre zero a três anos. Os mais comuns são: dificuldades na linguagem, na interação social e condutas peculiares de comportamentos. “Existem vários graus de autismo, há um espectro que vai da Síndrome de Asperger, quando o indivíduo tem menos limitações ao se relacionar, até o autismo clássico”, conclui Rita Valéria.
As causas do autismo são variadas. “Não existe um fator único, o mais evidenciado é o fator genético”, comenta Rita. Diversas condições podem provocar o autismo: infecções na gravidez, sangramentos, baixo peso, carência de vitamina D, icterícia na criança e mais uma série de dificuldades na hora do parto ou durante a gravidez.
A comunicação da criança é um dos fatores mais observados antes do diagnóstico, conta a fonoaudióloga da Clínica Desenvolvimento Humano, Iracema Costa. “O autismo é um distúrbio de comportamento que afeta a comunicação e possui vários graus de severidade, impedindo que o sujeito – com exceção dos casos mais leves – interaja com outros de forma eficiente. Causa isolamento podendo levar o indivíduo a permanecer em um mundo só dele. Sem tratamento e acompanhamento pedagógico, pode levar a prejuízos sociais consideráveis”, adverte. Iracema esclarece ainda que quanto mais tarde o indivíduo começar o tratamento, mais difícil será a interação com outras pessoas. Independente do grau, a ausência de apoio médico pode criar barreiras na vida do paciente. “A terapia proporciona a socialização e a comunicação efetiva, a partir do diálogo. Somente o neuropediatra pode diagnosticar o autismo”.
A terapia conta com uma equipe multidisciplinar – fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicólogo, psicopedagogo, musicoterapeuta e fisioterapeuta – que trabalha em conjunto para promover a socialização e a comunicação efetiva, com o objetivo de adequar e inserir o sujeito na sociedade.
O autismo também foi tema da dissertação de Élida Cristina da Silva, em 2011, A prática pedagógica na inclusão educacional de alunos com autismo, no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia. O trabalho foi importante passo para a compreensão da doença, pois permitiu mostrar os avanços do paradigma inclusivo no Brasil, fazendo crescer o número de matrículas desses indivíduos em escolas regulares. “Os professores devem adotar práticas pedagógicas que atentem para esses comportamentos e características, o que não acontece devidamente na maior parte dos sistemas de ensino”, revela Élida Cristina.
Segundo a pesquisadora, os resultados apontam que a inclusão no ambiente educacional ainda é algo recente para os professores observados, já que eles não possuem um conhecimento aprofundado sobre as características diferenciadas desses alunos. Apesar disso, os professores se mostraram favoráveis à educação inclusiva e reconhecem os avanços apresentados por seus alunos com autismo.
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento
Laís Sena ficou grávida de Gabriel aos 19 anos. Como era muito jovem, não sabia exatamente o que esperar. Da mesma forma que Lucas, Gabriel demorou a falar e teve problemas de socialização. De acordo com Laís, o primeiro problema foi com a alimentação. “Ele vomitava tudo que comia. Pessoas com autismo costumam ser muito seletivas com o que comem. Gabriel começou a ingerir de fato alimentos com um ano e ainda assim, comia bem pouco”, relata.
Quando começou a perceber os problemas de timidez e falta de interação no colégio, Laís o levou a um médico que diagnosticou Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), distúrbio que inclui o autismo e outros transtornos dentro do espectro. Para Laís, o caso do filho apresentou melhora significativa a partir do apoio pedagógico. “Hoje Gabriel se comunica bem. O maior problema ainda é no cognitivo, principalmente com interpretação de texto. Gosta de atividades mais quietas como ver televisão, jogar videogame e jogos de quebra cabeça ou memória, já que ele tem uma memória muito boa”, descreve.
A Associação de Amigos do Autista da Bahia (AMA), que completou 12 anos no dia 21 março, é um centro educacional especializado com objetivo de prestar apoio e facilitar a inclusão do autista. A presidente, Rita Valéria, conta que funciona no contra turno da escola regular e oferece suporte pedagógico às famílias. A instituição atende pessoas com idades entre 1 a 31 anos.
A associação surgiu da ausência de um processo de inclusão do autista na sociedade. De acordo com a presidente, que já trabalhava com educação especial em uma instituição para pessoas com Síndrome de Down ou deficiência intelectual, conta que há 22 anos, quando seu filho Vinícius nasceu com autismo, ela viu a necessidade de um lugar que oferecesse suporte para facilitar o desenvolvimento e socialização dele e de outras crianças com autismo e começou a trabalhar na criação da instituição. O apoio oferecido aos professores vem da prefeitura, além de contribuições mensais feitas pelos ‘Amigos da AMA’.
*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA
Boa Tarde gostaria de saber se a criança autista tem o direito a um profissional em sala para ajuda pedagógica? Meu filho é autista e a sua autonomia é considerada normal perante o núcleo o que exclui o tutor, mas pedagogicamente ele bem defasado e a professora regente não consegue fazer com que ele tenha avanços mínimos e quando tem o apoio em sala ele colabora, mas tem sido questionado pelo núcleo alegando que ele deve ficar sozinho na sala mas quando isso ocorre ele nada faz ou entende, o que devo fazer sabendo-se que quando teve esse apoio ele teve grande progresso . Grata.