Com a grande alta na cotação dos Bitcoins no final do ano passado e a forte queda no início deste ano, oscilações parecem fazer parte do mercado econômico de criptomoedas. Investidores comentam o fenômeno e essa nova tecnologia
POR REBECA ALMEIDA*
rasrebeca@gmail.com
No final do ano passado diversas notícias sobre criptomoedas circularam na mídia, sobretudo sobre Bitcoins, a primeira moeda digital descentralizada. Tendo surgido em 2009, a moeda não valia nem US$ 0,01. Em 2010 valia cerca de US$ 0,39. Sete anos mais tarde a moeda alcançou seu maior valor: US$ 19.551 em dezembro de 2017. No entanto logo após a alta do ano passado, 2018 parece não estar sendo muito favorável para a valorização da criptomoeda. Atualmente 1 BTC (ou XBT, ambas siglas para Bitcoin) vale aproximadamente US$ 10.224.
Inúmeros são os casos de investidores que lucraram muito com a valorização do final de 2017. Exemplo foi o da investidora baiana, Jéssica Jiusti. Ela já possuía ações na bolsa de valores, mas em novembro percebeu uma nova possibilidade de lucro: investir em criptomoedas. Passou a investir valores não só em Bitcoins mas também nas moedas Ripple, Iota, Cardano, Lisk, Sttelar e Dash. Para ela, que não revelou números exatos do quanto lucrou, esse tipo de investimento é de alto risco, por isso ressalta que “só se deve investir um valor que não fará falta caso se perca”.
Bolhas e tulipas - Outro investidor baiano é o arquivista Ricardo Andrade. Para ele, apesar da grande oscilação no valor dos Bitcoins, não se trata de uma bolha especulativa, como apontam alguns especialistas.
Tal conceito econômico está relacionado com uma situação onde o valor de uma determinada coisa ou ação parece se basear em uma visão distorcida ou inconsistente sobre o futuro. Ou seja, muitas vezes um determinado produto atinge grandes valores devido simplesmente a grande demanda em torno do mesmo, gerando alta nos preços. Quando a bolha “estoura” esses mesmo preços caem vertiginosamente em um curto período de tempo.
Um exemplo de bolha especulativa sempre citado por economistas foi o das tulipas, no século XVII. Considerada a primeira bolha da história, essas flores alcançaram preços altíssimos que depois simplesmente caíram quando as pessoas pararam de comprar, gerando queda nos preços.
Muitos especialistas comparam a alta dos Bitcoins com a alta das tulipas no passado. É o caso do economista-chefe da rede de bancos UBS, Paul Donovan, que, em novembro do ano passado, fez a comparação em uma série de tweets.
Quando ocorrem manifestações como essa, o valor do Bitcoin cai rapidamente. Para a investidora Jiusti essa variação ocorre porque “há muitas pessoas investindo nessas moedas sem estudar. Assim, quando cai um pouco a primeira coisa que essas pessoas fazem é vender”, o que acaba gerando mais queda.
Nova tecnologia - Muito antes da investidora Jiusti, em 2014, Andrade percebeu como uma boa oportunidade de lucro investir em criptomoedas. Ele não tinha histórico de outros tipos investimentos até aquele momento e pode ser considerado um entusiasta da nova tecnologia trazida pelos Bitcoins: o blockchain.
Também conhecido como “protocolo da confiança”, essa tecnologia foi desenvolvida junto com a moeda digital Bitcoin. Trata-se de um tipo de Base de Dados Distribuída que guarda registros de transações e até então é considerada à prova de violações, pois os dados são criptografados (daí a origem do nome criptomoeda).
Não se sabe a real identidade da pessoa ou grupo de pessoas desenvolveu o Blockchain, mas o pseudônimo “Satoshi Nakamoto” respondia na rede como o criador da tecnologia até 2012 quando subitamente Nakamoto “sumiu” da internet sem revelar sua real identidade. “Blockchain é uma forma de encadear blocos [com informações de transações]. Cada bloco novo está ligado ao bloco anterior. Dessa forma não é possível desvincular esses blocos”, explica Andrade. Ele afirma ainda que o diferencial do Bitcoin é ter sido a primeira moeda digital a utilizar essa tecnologia.
Para o profissional de TI, Ariel Bello, as possibilidades trazidas pela Blockchain estão muito além do Bitcoin. Ele cita a Steemit, uma rede social que utiliza a tecnologia para gerar renda para todos os usuários que produzem ou compartilham conteúdo dentro do sistema. Apesar disso, ele é pessimista: “Como várias outras tecnologias antes do Bitcoin, o poder descentralizador do blockchain só vai até onde os reguladores econômicos permitirem”.
Livre comércio - Outra característica das criptomoedas está na comodidade. Tudo funciona na internet, de forma autônoma. Não há taxas cambiais ou órgãos reguladores. Tais características podem levar ao desenvolvimento de uma moeda internacional, que não depende de fronteiras entre países. Por outro lado, tais características são as que geram desconfiança do mercado financeiro tradicional. Resta saber até quando as criptomoedas irão sustentar essa autonomia.
* Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA