A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, mas tem cura e é de fácil tratamento
POR MARINA BASTOS*
marinabfernandes@gmail.com
De acordo com dados divulgados no final do ano passado pela Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB), os baianos também devem ficar atentos à epidemia de sífilis que, segundo o Ministério da Saúde (MS), atinge o país atualmente. Em 2016, 5,4% das gestantes baianas com a doença não foram tratadas, percentual que ultrapassa a taxa brasileira de 4,7%. Essa falta de tratamento das gestantes faz com que o índice estadual de casos de mortalidade infantil por sífilis congênita, quando a doença é transmitida de mãe para filho, também seja maior que a média nacional.
Apesar da taxa de infecção pela via placentária ultrapassar a nacional, a professora de doenças infecciosas e parasitárias do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jaci Amaral Freire de Andrade, afirma que o número de casos no estado são intermediários quando comparados com o cenário nacional, mas que ainda são expressivos e devem ser combatidos. O estado também enfrenta o aumento de diagnóstico da sífilis adquirida – infecção transmitida pela via sexual. De acordo com a SESAB, a enfermidade atingiu 1.912 indivíduos em 2012, enquanto no ano passado 3.342 casos foram notificados, um crescimento de mais de 170%.
O aumento da doença na Bahia, assim como no cenário nacional, pode ser relacionado a queda do uso do preservativo e a falta da penicilina benzatina, medicação adotada para combate à bactéria que causa a doença, a Treponema pallidum. “Existe uma carência da Penicilina há aproximadamente dois anos, esse problema com o medicamento fez com que ocorresse um aumento exacerbado da enfermidade”, reitera Maria Ângela Brito, enfermeira do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa da Bahia (Cedap). Em casos como esse, outros medicamentos podem ser usados, porém, a enfermeira atenta para a importância da penicilina: “os outros métodos não são tão eficazes”, ressalta Brito.
Cenário Brasileiro – Desde 2010, ano que foi instaurada a obrigatoriedade de notificação da sífilis no país, até 2016, a infecção pela doença cresceu a ponto de ser considerada uma epidemia pelo Ministério da Saúde (MS). Entre 2014 e 2015 foram registrados 228 mil novos casos da doença. Em 2016, último ano com dados divulgados pelo boletim da sífilis de 2017, o aumento foi de 28%.
Detectada há mais de 4 mil anos no Brasil, a sífilis é uma doença tratável e pode ser detectada através de um exame específico, o VDRL, sigla em inglês de Venereal Disease Research Laboratory. A enfermeira do Cedap, Maria Ângela Brito, alerta para a importância da busca pelo tratamento da sífilis, pois a enfermidade pode causar consequências irreversíveis por atingir diversos órgãos. No estágio mais grave da doença entre os sintomas estão: dificuldade de coordenar os movimentos musculares, paralisia, cegueira gradual e demência.
Desde 2010 a incidência da doença aumentou mais de 1.200%. Em 2016, foram detectados 37.436 casos da doença em gestantes, o que representa um aumento de 14,7% em relação a 2015, quando foram notificados 32.561 casos. Os números da sífilis congênita, quando a doença é transmitida para os bebês, somaram 20.474 registros, um crescimento de 4,7%, o que ultrapassa o aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Outro agravante à epidemia é a relação da sífilis adquirida com outras DSTs. “Se o indivíduo tem sífilis ele foi submetido a uma transmissão por via sexual e se descuidou na prevenção, por isso, está sujeito a infecção por outras doenças como o HIV e as hepatites a e b”, afirma a professora de medicina da UFBA, Jaci Andrade.
Os dados demonstraram também que mais da metade dos casos se concentram na região Sudeste, a mais urbanizada e desenvolvida do País. Apesar disso, a preocupação deve ser a mesma para todos os estados devido ao aumento generalizado dos casos. O Nordeste é a terceira região em números de sífilis adquirida e a segunda em casos da congênita.
Estágios da Sífilis – A doença possui três estágios e pode acometer vários órgãos. Na primeira fase, uma ferida, chamada cancro, aparece no local de infecção, geralmente nos órgãos genitais. Como não é preciso de tratamento para curar a ferida, os pacientes podem acabar não se atentando a doença, passando, assim, para o segundo estágio. Nesse estágio, irrompem exantemas, ou seja, manchas amarronzadas, na palma da mão e na planta dos pés, podendo causar dor e o aumento dos gânglios da virilha. O último estágio ocorre alguns anos após a infecção, podendo acometer o sistema nervoso, o coração e os ossos. A sífilis é curável em todos os seus três estágios.
A patologia também pode ser assintomática, por esse motivo, é necessário fazer exame de rotina para a detectar e evitar o seu avanço. A doutora em Ciências da Saúde, especialista em doenças transmissíveis e professora da Escola Bahiana de Medicina e saúde Pública, Nanci Ferreira da Silva, alerta para a realização do exame detector da doença: “É necessário que o médico faça exame [de detecção da Sífilis] nos seus pacientes, pois eles podem não apresentar a sintomatologia.” No caso das gestantes, a identificação é ainda mais importante e deve fazer parte do pré-natal para evitar que o feto tenha má formações ou até mesmo que o aborto aconteça.
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e repórter voluntária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA.