Hoje é o dia Nacional do bioma único, existente somente no Brasil, ocupa 11% do território nacional e está presente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Minas Gerais. Abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas
Emanuela Teixeira*
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Neste 28 de abril, quando se comemora o Dia Nacional da Caatinga – bioma que ocupa 11% do território nacional e abriga uma população de 27 milhões de pessoas – não há muito o que comemorar. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Caatinga está presente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Minas Gerais. De acordo com Silvia Picchioni, coordenadora da área de Combate à Desertificação da Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (ASPAN), a Caatinga é um dos ecossistemas mais ameaçados do Planeta. “Em uma região em que a escassez de rios implica acesso menor à energia elétrica, a lenha e o carvão vegetal correspondem a trinta por cento da matriz energética usada nas indústrias da região, o que acaba intensificando o desmatamento local,” disse Silvia.
Segundo o biólogo e pesquisador da Universidade Federal do Vale do São Francisco José Alves de Siqueira Filho, a caatinga é um dos biomas mais ricos e abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. “É importante que as instituições unam esforços para preservá-la. Metade da bacia do rio São Francisco está situada na Caatinga, e grande parte das soluções de desenvolvimento regional, passa por esse bioma. É possível conciliar produção econômica e desenvolvimento com a conservação. A conservação, na verdade, resguarda e potencializa o desenvolvimento”, afirma o pesquisador José Alves, organizador do livro Flora das Caatingas do rio São Francisco, vencedor do prêmio Jabuti 2013 na categoria Ciências Naturais.
De acordo com Siqueira Filho, a Caatinga é o bioma brasileiro de mais difícil restauração. “As ações de restauração são muito mais caras do que as de conservação, então a conservação é sempre o melhor caminho. Além disso, o trabalho de restauração da Caatinga tem a escassez de água como fator limitante. A implantação bem sucedida de ações de restauração em áreas em que há pouca ou nenhuma água representa um imenso desafio científico e tecnológico”, explica o pesquisador, que atua no Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Crad-Univasf).
“O umbuzeiro, por exemplo, que é uma árvore emblemática da Caatinga, está ameaçado e pode acabar extinto. As árvores dessa espécie que encontramos hoje em dia são muito idosas, com mais de 100 anos”, alerta Siqueira Filho.
No estado da Bahia, embora o bioma cubra 68% do território, o índice de reserva total também não passa de aproximadamente 2%. Para o professor e pesquisador do assunto, o Brasil deveria pelo menos cumprir o acordo feito na Organização das Nações Unidas (ONU) “de preservar, no mínimo, 10% de cada bioma”.
Para o docente, é preciso mais empenho. “Por aqui, as coisas demoram muito para acontecer de fato”, diz. Ele destaca que existe um projeto em tramitação no Ministério do Meio Ambiente (MMA) para criar o Parque Boqueirão da Onça, no norte da Bahia, “que se arrasta há mais de 10 anos”.
* Jornalista e coordenadora da Agência de Notícias em C,T&I – Ciência e Cultura