A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader, comentou sobre a economia do conhecimento do Brasil e falou dos acertos que o país adotou para criar educação.
POR EDVAN LESSA* (com informações da Ascom FAPESB)
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Na visão da presidente da Sociedade Brasileira de Progresso para a Ciência (SBPC), Helena Nader, a evolução das políticas brasileiras está diretamente ligada a uma série de acertos. Somos um dos principais países no ranking de produção acadêmica, e “brilhantes” do ponto de vista da inovação. Contudo, acredita que é preciso superar as desigualdades no país.
‘‘O que o Brasil tem feito, em todos esses anos, na minha visão: buscado a excelência’’, iniciou. Parafrasendo outra personalidade do cenário de C,T & I do país, Nader refletiu que o fato de Napoleão Bonaparte ter tentando invadir Portugal, e a consequente vinda da família real para cá, fez com que um grande acervo bibliográfico fosse trazido. “1808 é quando começa a nossa história. Toda nossa educação e ciência é muito recente”, colocou.
A criação do Ministério da Educação e Saúde na década de 1930; da SPBC em 1948; do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em 1951, das Fundações de Amparo à Pesquisa a partir de 1962, além das instituições que, de fato, produzem ciência no Brasil, são uma série de acertos para criar educação, de acordo com Nader. Na sua visão, outra conquista política, diz respeito à implementação do tempo integral no ensino superior com a reforma universitária, durante a ditadura. “A universidade era como a gente transformou hoje o ensino básico. Era um bico”, avaliou.
Entre os anos de 1998 e 2011 os números de programa de pós-graduação com mestrado e doutorado, no Brasil, mais que triplicaram, segundo trouxe Helena. Ainda de acordo com os dados da presidente, ao todo são 68 mil estudantes de doutorado, e cerca de 120 mil de mestrado no país. Por outro lado, celebra a atual condição do pós-doutorado. “Eu sou otimista. Aqui vejo que, talvez, a gente agora esteja entrando em uma nova fase da ciência brasileira, na qual tudo não dependente da pós-graduação direto como o doutorado, mas passa a ter papel importante o pós-doutor”, comentou.
Nader também comparou dados das publicações acadêmicas no Brasil. No ano assado (2011) foram 34.210 artigos, o que representava 27% da ciência mundial. A diferença em relação aos Estados Unidos, por exemplo, seria de 10%. “É expressivo o número de artigos”, acredita a acadêmica. “[Em] 1995 nós estávamos com 0,8% da ciência mundial; 39,1% da América Latina, 6 mil artigos. [Em] 2009, 2,7%, e 54, 4%, [respectivamente]. Significa que estamos muito bem, mas a América Latina está com problemas”, lamenta os dados da Revista Science.
Dentre as áreas do conhecimento que mais têm rendido publicações, está a médica e as ciências animais e de plantas. Elas representam cerca de 3,61 % e 2,6% do cenário mundial, respectivamente. “[Mas] não é só número que o Brasil está fazendo; é numero com qualidade. Há citação e o impacto médio é significativo.”, ressaltou, complementando que quando avaliamos a ciência como um todo fica difícil enxergar os avanços. ‘’Tem que separar’’.
“Hoje se passou a acreditar que educação é importante. Nós conseguimos vender essa imagem”, opina ao falar de instituições como as secretarias estaduais de ciência, tecnologia e inovação que estão investindo nas instituições de ensino superior. Ao seu ver, a beleza desse sistema está, no entanto, nas agências federais. Nesse sentido, também avalia o papel das Fundacões de Amparo à Pesquisa do país. “Tem muita gente pensando: Para que FAPS? Para que CNPq? Elas são distintas, e a comunidade tem que ficar alerta [para isso]”, problematizou.
Finalmente, Helena Nader destacou alguns campos nos quais, segundo ela, nós sabemos inovar, a exemplo da agricultura, setor aeroespacial e de biocombustíveis, petróleo e celulose. Ao falar na economia baseada no conhecimento, porém, não existem apenas dados tão otimistas. Segundo Nader, o Brasil ocupa a 47ª no ranking de inovação. E, embora estejamos na 6ª ou 7ª posição na economia mundial, somos o 4º país com maior desigualdade na América Latina.
*Edvan Lessa é estudante de Comunicação-Jornalismo da Facom-UFBA e bolsista da Agencia de Notícias Ciência e Cultura