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Atualizado em 12 DE abril DE 2011 ás 20:29

Bullying ainda é visto como brincadeira

Pesquisa da Ufba verifica qual a concepção de bullying para professores e alunos

Por Inês Costal
costal.carol@gmail.com

Tragédias como a causada por Wellington Menezes de Oliveira, que teria sido vítima de bullying nos anos em que estudou na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo no Rio de Janeiro, trazem à tona a discussão sobre o tema nas escolas. Wellington voltou à escola na quinta-feira (7), para abrir fogo contra alunos, o que resultou na morte de 12 deles. Ex-colegas de sala do atirador disseram ao jornal O Globo que o criminoso sempre apresentou distúrbios de comportamento e era constantemente intimidado por alunos da sua turma.

Em Salvador, ações de bullying ainda são entendidas por muitos alunos e professores de escolas como uma simples brincadeira, natural do ambiente de ensino. As consequências nocivas que a prática pode causar e que afetam toda a comunidade escolar não são percebidas, até que atitudes explosivas como a do atirador de Realengo desperte atenção pelo tema.

A pesquisa, “Bullying Escolar: práticas e significações de alunos e professores de escolas públicas e particulares”, coordenada por Marilena Ristum, professora do Instituto de Psicologia da UFBA e coordenadora do grupo de pesquisa Escola e Violência busca entender as causas e os possíveis efeitos causados pelo abuso das brincadeiras em escolas públicas e particulares de Salvador.

Iniciada em 2007, o estudo da UFBA é realizado a partir de entrevistas com alunos e professores de turmas até o 6º ano. Grande parte dos entrevistados não conhece o termo bullying, nem o seu significado. De acordo com a coordenadora, aqueles que demonstram algum conhecimento sobre o fenômeno têm apenas uma ideia parcial sobre o mesmo. O bullying não ocorre somente no âmbito escolar e pode envolver pessoas de qualquer faixa etária, ainda que seja mais frequente entre jovens de 11 a 14 anos.

Para ser definida como bullying, a ação precisa ser propositalmente danosa para uma pessoa ou um grupo, repetitiva, além ocorrer uma relação desigual de poder, seja ela física ou psicológica.

Nas escolas públicas a violência física foi a forma de bullying mais apontada pelos entrevistados. Fatores familiares, como falta de limites e problemas na estrutura familiar, foram as principais causas indicadas pelos professores, seguidas de alto índice de violência nos bairros e a veiculação da violência na mídia. Nos colégios da rede privada, a violência física também foi citada como mais frequente, já a violência verbal foi avaliada como menos grave. Para os professores das escolas particulares, a principal causa desse comportamento tem origem em exemplos familiares.

A seleção das escolas participantes é realizada a partir das Coordenadorias Regionais de Ensino (CRE), nas quais a Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer – Secult, divide o município de Salvador. Das escolas de cada CRE, 10% foram contempladas através de sorteio, de forma que o estudo abarque todas as regiões da capital. No caso das escolas particulares, a seleção foi realizada a partir do mesmo princípio, com um total de 10 escolas.

A partir dos relatos, 33 exemplos de bullying praticados nas escolas foram extraídos, entre eles, colocar apelido, falar mal da família e roubar objetos, além de ações mais violentas como ferir com gilete ou faca, furar com lápis e fazer violência sexual.

Tabela extraída do artigo Bullying Escolar publicado no livro Impactos da Violência na Escola - Um diálogo com professores

Na atual etapa, a pesquisa da UFBA não faz intervenções nas escolas, mas o conhecimento sobre a forma como o bullying é visto e entendido tem por objetivo final a formulação de políticas públicas e a adoção de medidas preventivas que sejam incorporadas no cotidiano, não somente em uma campanha de mobilização. Esta parte é um desafio segundo Ristum: “Não há parcerias entre a universidade e o poder público, as autoridades não procuram a universidade e não utilizam o que é feito aqui. A formulação de políticas públicas para o sistema de ensino não acompanha as pesquisas acadêmicas”.

Combate ao bullying - A pesquisadora diz que não há fórmula para resolver o problema, as ações devem ser elaboradas a partir do contexto de cada caso e de cada escola, através de um diagnóstico de como o processo de bullying ocorre no local. Ainda assim, algumas ações gerais podem nortear programas de intervenção, como sensibilização sobre o tema e formação de alunos, pais e professores para conhecimento do bullying; instituição de canal de escuta com possíveis vítimas, desenvolvimento de temas transversais que se contraponham à violência e construção partilhada das normas e do projeto pedagógico das instituições de ensino com a comunidade escolar.

Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, o órgão não possui programa ou projeto voltado para o bullying, mas a orientação dada às escolas é que, em casos de assédio envolvendo a comunidade escolar, a equipe gestora e o colegiado de cada unidade, formado por representantes de alunos, professores e funcionários, deve fazer uma avaliação para confirmação da prática. Se o caso for confirmado, os pais dos alunos envolvidos devem ser convocados para uma conversa. Caso seja necessário atendimento psicológico, os alunos podem ser encaminhados para os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS conveniados com a secretaria.

O mesmo princípio norteia a campanha sobre bullying do Ministério Público da Bahia, iniciada em 2009. Segundo a pro motora de Justiça Edna Sara, 13 denúncias de bullying foram feitas ao MP em 2010. Neste ano, 2 casos foram denunciados pelo Disque 100. Ao saber dos casos, uma equipe do órgão público se dirige à escola. “O planejamento de todas as atividades é feita junto com a escola. A própria escola vai encontrar um modelo de ação adequado para a discussão do tema em seu contexto”, explica Cecília Amaral, pedagoga que atua no projeto do MP.

Fenômeno relacional

Três papéis centrais envolvem a ação de bullying – o praticante, o alvo e os espectadores. Ristum explica que não há agressor sem vítimas ou testemunhas, o praticante do bullying precisa de plateia e do conhecimento de que é ele o autor das ações para agir. O fenômeno se origina de uma rede de causas. No caso do ambiente escolar, fatores culturais como rigidez de regras e competição entre alunos, e fatores familiares, a exemplo de falta de atenção dos pais, uso de violência e superproteção dos filhos, podem ocasionar o problema.

As características mais comuns dos agressores incluem alta autoestima, popularidade, grande autoconfiança e muitas vezes liderança de um grupo específico, além de força física. O oposto geralmente caracteriza as vítimas da prática, tímidas, com dificuldades de se relacionar com os colegas e de reagir ao assédio físico ou psicológico. O bullying pode causar consequências como queda no rendimento escolar, isolamento e depressão.

As testemunhas também são atingidas pela ação, uma vez que sua reação – de não interferência, apoio à vitima, ou ainda, aplausos ao praticante – é decidida a partir do medo de retaliação.

Links úteis:

CAPS

Atirador era vítima de ‘bullying’ nos tempos da escola

3 comentários para Bullying ainda é visto como brincadeira

  1. paloma disse:

    bom achei esse texto bem explicativo !!! parabéns quem escreveu :D

  2. rachel disse:

    bom eu achei q o texto estava muito bom….mas ainda nao comenta todos os fatos do bullyng :D

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