Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 25 DE novembro DE 2014 ás 23:09

Café Científico debate experiências com a seca

Pesquisador alemão discute o Projeto Mata Branca e as adaptações do semiárido frente às mudanças climáticas.

LAÍS MATOS*
lais.matos.rosario@gmail.com

O que podemos aprender para a adaptação às mudanças climáticas, foi o tema do Café Científico que aconteceu na última sexta-feira (21), na Biblioteca Pública dos Barris. O pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, COPPE/UFRJ Martin Obermaier falou sobre a convivência com a seca no semiárido e a experiência com o Projeto Mata Branca, e explicou como esse processo pode ajudar a combater as consequências das alterações climáticas.

O professor Martin discutiu a importância da promoção do desenvolvimento sustentável no semiárido por meio de iniciativas socioeconômicas e tecnologias apropriadas. “A seca vai aumentar com as mudanças climáticas e essa tendência exige um processo de ajustamento e adaptação nos sistemas naturais”, disse.

As mudanças climáticas são estão acontecendo há várias décadas. Em 2013, o nordeste registrou a maior seca dos últimos 50 anos.  Nos últimos 100 anos, a temperatura média no estado da Bahia aumentou mais de 1 grau Celsius. É um processo natural, mas obviamente, o homem interfere e intensifica o aumento da temperatura, que se tornou muito mais significativo a partir da revolução industrial, com o crescimento populacional e econômico. “Em 1900 a população era de 2 bilhões, hoje são 7 bilhões. A população global é maior e precisa de mais energia”, disse o professor.

Foto:Laís Matos

O problema do aquecimento é que temperaturas mais altas oferecem riscos para a agricultura e interfere na produção de alimentos. Durante a palestra, o pesquisador explicou que existe uma projeção de que até 2050, o que seria um curto prazo, a produção de alimentos será comprometida devido ao aquecimento global. Mas também existem previsões de que essa produção poderá aumentar, através de novas tecnologias, que permitam que algumas culturas agrícolas se desenvolvem melhor em temperaturas mais altas. É importante pensar em todos os aspectos dos problemas e suas possíveis conseqüências no sistema de produção de alimentos, no consumo e na segurança alimentar. “Se a produção de trigo reduzir, por exemplo, o preço irá aumentar, e os impactos disso são imensuráveis”, alerta o professor.

Vulnerabilidade – O professor Martin salientou que as cidades com baixos índices de desenvolvimento humano, histórico de secas e de degradação ambiental são as mais afetadas pelas consequências do aumento da temperatura. Ele explicou que outros fatores como saúde e educação precárias, além da falta de políticas públicas, também podem interferir no processo de convivência do homem com os efeitos da seca. “Não é só uma questão climática, mas social também”, disse o professor.

Projeto Mata Branca – O projeto incentiva a produtividade agrícola como fonte de renda, associada à proteção do meio ambiente e foi desenvolvido com a finalidade de promover a conservação e gestão sustentável da caatinga.

O projeto está presente nos estados do Ceará e Bahia, através de 132 núcleos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida e preservação através da introdução de práticas sustentáveis, e é desenvolvido a partir de processos participativos. A interação é feita com o envolvimento das pessoas. “Elas ficam incentivadas a participar e contribuem, funciona como uma tentativa de integração nas políticas públicas”, explicou Martin.

O aumento da produção agrícola familiar, e de outras demandas que variam de acordo com a necessidade de cada região são algumas da ações do projeto. Esse processo ajudou a promover uma alimentação balanceada e favoreceu o aumento da renda familiar, pois com uma produção maior, as pessoas puderam consumir e comercializar os alimentos, através de um sistema que se adequou a cada região. “Em alguns lugares o incentivo era na criação de peixes, construindo criadouros. Foram incentivos de baixo custo que favoreceram a alimentação e a geração de renda”.

Pesquisa – Durante o desenvolvimento do projeto, uma pesquisa foi feita, buscando saber o que mudou na vida dos beneficiários a curto e longo prazo. Martin diz que vê o Mata Branca como um criador de capacidades que mudam a vida das pessoas. Ele citou as capacidades genéricas que são os investimentos na área de saúde, educação, e as capacidades específicas, que envolvem a proteção contra o risco climático e o estímulo ao desenvolvimento sustentável.

As genéricas foram bastante ampliadas e investidas, no entanto, as específicas foram menos exploradas. Para Martin, as capacidades específicas são fundamentais por levarem possibilidades ao agricultor do semiárido e por isso, seus investimentos não podem ser tão limitados.

Várias famílias participantes do projeto foram analisadas, através de um estudo comparativo. Os resultados indicaram que as rendas das famílias participantes do programa são maiores. Até onde se vê, mesmo com a seca, as famílias conseguem se reerguer mais facilmente e tirar maior proveito do próprio sustento. O projeto cumpre uma questão fundamental referente à preocupação com segurança alimentar e qualidade nutricional, pois a família passa a cultivar uma quantidade variada de alimentos suficiente para a nutrição balanceada.

Todas essas atividades foram feitas com preocupação ecológica e sem imposições aos habitantes. O projeto é voltado para atender as necessidades da população a partir de consensos. Por isso não é focado na tecnologia e sim nas capacidades.

O professor Charbel El-Hani, organizador do evento, também destaca a importância de um projeto prático e efetivo, diferente das medidas que às vezes se tornam inúteis. “Muitas vezes, mesmo sabendo que não é correto desmatar, as pessoas continuam fazendo isso porque o conhecimento não é aplicado.O conhecimento apenas, não muda nada, não adianta levar só a informação para as pessoas, ensinar como fazer, por isso a importância do programa, o ideal é ensinar as capacidades”.

*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA

Um comentário a Café Científico debate experiências com a seca

  1. Geraldo disse:

    Como é de supra importância à convivência com a seca a quase 3000 anos continua sendo um ciclo vicioso, pela própria existência da natureza. O homem predador.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *