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Atualizado em 27 DE março DE 2015 ás 23:26

Café Científico discute o uso racional da água

O engenheiro Luís Roberto Moraes, professor da Escola Politécnica da Ufba, traçou os desafios da atualidade para a problemática

*Laís Matos
lais.matos.rosario@gmail.com

O primeiro Café Científico Salvador de 2015 trouxe para discussão o tema “O uso racional da água: o grande desafio atual” em função das comemorações do Dia Mundial da Água. Convidado para falar sobre o tema, o pesquisador Luís Roberto Santos Moraes, da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), debateu os problemas políticos e econômicos relacionados à distribuição deste recurso não renovável. O evento, que ocorreu dia 23 de março, na Biblioteca dos Barris, é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História da Ciência e pela Livraria LDM.

Moraes iniciou a palestra falando sobre os problemas locais, tendo usado dados fornecidos pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para ilustrar a má condição dos rios da capital baiana.  “74% dos rios de Salvador estão em condições péssimas ou ruins a ponto de a população perder a percepção de que aquilo é um rio e não um esgoto que passa no meio da cidade”, diz.

De acordo com o engenheiro, o encapsulamento dos rios, ou seja, tapá-los como solução para o embelezamento da cidade, não é a forma mais adequada para melhorar os recursos hídricos. “O correto seria restaurar os rios trazendo-os para o tecido urbano e convívio das pessoas”, esclarece. O pesquisador chamou a atenção ainda para a falta de controle do número de poços em operação na cidade. Segundo ele, muitos reservatórios funcionam em condições irregulares ou ocupam áreas inapropriadas, correndo risco de contaminação.

Outra situação grave e que envolve a gestão da água está relacionada aos interesses financeiros que guiam as condutas políticas.  Luís Roberto cita como exemplo a barragem de Pedra do Cavalo, que foi construída para atender aos interesses de empresários do setor industrial e da construção civil. “Seria muito mais viável o aproveitamento dos rios e mananciais da Bacia do Recôncavo”, critica. “O governo economizaria ao construir uma barragem na região de Jacuípe, já que o rio Pojuca desemboca no Santa Helena por gravidade”.

Os índices pluviométricos também foram usados como justificativa para embasar esse argumento.  “Salvador é uma cidade com 2 mil mililitros de chuva por ano e tem que importar água do rio Paraguaçu. Já a barragem da Pedra do Cavalo fica a 90 km de Salvador, em um lugar que chove 850 mililitros por ano”, informa.

Uso consciente – Para Moraes, há ainda um estresse da mídia, do capital econômico e do governo para o uso racional da água dentro de casa. De acordo com ele, existe um conceito relacionado à pegada ecológica, que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. No entanto, segundo o pesquisador, não é apenas o setor doméstico que consome água. “É necessário que haja uma preocupação no uso e manejo deste recurso. Atividades que demandam água em grande quantidade, como a industrial, muitas vezes, são motivos para desencadear conflitos. Não dá para analisar a questão da água desprezando o uso e a ocupação do solo”, comenta.

Os altos padrões de consumo também foram mencionados pelo palestrante. Ele afirma que, além do desmatamento, da poluição e mau uso das riquezas naturais, o desperdício acontece por falta de políticas públicas que estimulem o uso consciente. Trabalhos recentes discutem o que fazer para reduzir o desperdício levando em conta o leve aumento do consumo de água per capita no Brasil.

O professor aproveitou a ocasião para apresentar soluções inovadoras e sustentáveis. Medidas como captação de água da chuva, individualização da conta de água de prédios, reaproveitamento de água usada para descargas e aperfeiçoamento das práticas de esgotamento sanitário devem ser adotadas.

Ele chama a atenção para o fato de que é preciso pensar na água para uso em um mundo sustentável. De acordo com Luís, é fundamental unificar as políticas públicas e estimular a participação social diante dessa problemática. “A cobrança da sociedade é necessária e requer o empoderamento da população, que deve participar e lutar por questões básicas no que se refere à água”, conclui.

*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA

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