Apesar de ter como premissa o compartilhamento de saberes e a abertura ao diálogo, o Seminário de Discentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas ainda conta com baixa participação da graduação. Evento ocorreu no auditório da Faculdade de Comunicação, nessa última semana
POR L. COSTA*
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Organizado pelos alunos para os alunos, assim é o Seminário de Discentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (COMDIS). A terceira edição do seminário ocorreu entre os dias 11 e 15 de março, no auditório da Faculdade de Comunicação (Facom), e proporcionou um espaço de diálogo entre os pesquisadores das linhas de pesquisa da pós-graduação.
Além do debate acadêmico, a peculiaridade do evento é seu clima de acolhimento e cooperação. Por isso mesmo que entre os momentos mais marcantes do COMDIS, se deu com a abertura para diálogo e sugestões após as apresentações da mesa. Em clima de camaradagem, os mestrandos e doutorandos trocam conselhos, elogios e questionamentos sobre as pesquisas em andamento. Segundo a voluntária na Comissão de Produção do evento e doutoranda integrante do Grupo de Pesquisa A-Tevê, Hanna Nolasco, o acolhimento com os calouros é um dos objetivos principais do evento, assim como o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. “Você tem um feedback dos colegas que estão aqui há muito tempo, que são de linhas e orientadores diferentes. [O momento das perguntas] Não é sobre receber uma pergunta e responder com toda a certeza, até porque todo mundo está com a pesquisa em andamento. É sobre dialogar formas de olhar diferente o exercício da sua pesquisa”.
O evento se estruturou bem ao longo de sua duração, oferecendo dois dias de workshop pela manhã e mesas de exposição oral pelo período da tarde, concebidas em torno de eixos temáticos e compostas por apresentadores de diferentes centros de pesquisa da pós-graduação. Entre as que mais despertou a participação dos espectadores está a mesa Desafios Teóricos Metodológicos em Tempos de Fake News, composta por discentes dos grupos LAB404, Comunicação, Internet e Democracia (CID) e Jornalismo Digital (GJOL). As propostas de pesquisa estavam centradas em torno do debate epistêmico acerca das fake news e do fact checking, do conceito de fato e das dissensões acadêmicas em torno do termo-chave. O debate ainda é incipiente, não tanto pela novidade do tema e sim pelo surpreendente alcance que esse fenômeno adquiriu nos últimos tempos; as pesquisas apresentadas encontram na atualidade uma fonte profícua de material e também uma demanda por esclarecimento das dinâmicas em que as fake news atuam na contemporaneidade.
Por estarem em andamento, os pesquisadores também puderam compartilhar as mudanças que ocorreram em sua pesquisa e suas dificuldades. Em diversos momentos os ouvintes se predispuseram a criticar escolhas bibliográficas, metodologias e aconselharam caminhos diversos. Para quem é novato no PósCom o seminário pode ajudar a sanar diversas dúvidas sobre as possibilidades da pesquisa. Porém, faz-se notar o baixo quórum participativo dos novatos no evento, apesar de membros da organização declararem que houve um aumento participativo.
Outros temas tratados foram: análises de novos fenômenos midiáticos, tais como os influenciadores; relações entre comunicação pública e mediação por aplicativos; análises de linguagem cinematográfica e análises das relações territoriais e midiáticas. São temas caros à atualidade e é uma pena que houvesse tão baixa presença dos alunos de graduação no auditório. Para Hanna Nolasco, um dos motivos possíveis poderia ser o horário de realização do evento, no período vespertino. Já para a voluntária na Comissão de Produção do seminário e doutoranda integrante do Grupo de Estudos de Comunicação, Políticas e Redes Digitais (CP-Redes), Daniela Silva, a separação pode advir de pretensa hierarquia entre a graduação e a pós-graduação. “As pessoas têm trajetórias para além do que estudam na faculdade. A ideia aqui é não só trocar conhecimento, mas também experiências, vivências, afetos. Precisamos desconstruir isso, trazer para o campo da seriedade. Não precisamos nos comportar como concorrentes”, comenta.
Desde a produção do seminário, a marca do trabalho colaborativo torna-se patente: o evento ocorreu com apoio do Laboratório de Fotografia (LabFoto) na cobertura fotográfica; da Editora Universitária (Edufba) para a impressão de banners e cartazes, as coordenações da Facom e do PósCom. O COMDIS é organizado pelo trabalho voluntário de discentes do programa. Como bem demonstrou a plenária do último dia, os que ali estavam presentes compartilharam abertamente opiniões e impressões quanto ao seminário e sugeriram melhorias.
*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA