Pesquisadores da UFBA realizam Ciclo de Seminário para ajudar a sociedade a entender mais sobre Zika Vírus e Microcefalia. O evento é promovido pelo Instituto de Ciências da Saúde da UFBA (ICS/UFBA)
SALETE MASO*
saletemaso.fotografia@gmail.com
Microcefalia (MC), termo grego usado por médicos para designar uma condição em que crianças nascem com a cabeça pequena demais para o tempo de gestação, é um tipo de má formação congênita e tem sido um tema de discussão bastante recorrente no cenário nacional e tem mobilizando tanto a comunidade acadêmica, quanto profissionais do serviço de saúde. No Brasil a MC tem sido conhecida como a Síndrome do Zika Vírus, por conta do aumento significativo do número de crianças que têm nascido com o tamanho da cabeça com menos de 32 centímetros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os fortes indícios de que o Zika seja um dos causadores da MC tem causado um estado de pânico no Brasil, pois os números de casos tiveram aumentos significativos. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), só no Brasil, neste ano, já são 7.015 casos notificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse dados tem preocupado os especialistas e pesquisadores de saúde que estudam sobre o tema.
Com o objetivo de esclarecer a população e a comunidade acadêmica sobre o possível “surto” da MC, o Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (ICS/UFBA) iniciou, na última quinta-feira, 14, o Ciclo de Seminários – Epidemia de Microcefalia e a Rede de Reabilitação no SUS. No primeiro seminário, os pesquisadores Federico Costa, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (ISC) e Gúbio Soares Campos, do ICS/Ufba, falaram sobre As Evidências Científicas e os Determinantes na Relação Zika Vírus e Microcefalia e abordaram assuntos como linha do tempo na transmissão do Zika Vírus e Microcefalia, local de surgimento do Vírus no Brasil, além da definição de casos para Microcefalia.
O professor Gúbio Soares Campos – um dos coordenadores do Laboratório de Virologia do ICS, juntamente com a professora Silvia Sardi, responsáveis por identificar a circulação do Zika Vírus no país – ressaltou que o Zika Vírus pertencer a mesma família Flaviviridae, da qual pertencem também o vírus da Dengue e da Febre Amarela. Essa comprovação dificulta o diagnóstico, que pode ser feito pelos métodos de sorologia, testes de detecção direta e pelo método de cultivo. A febre amarela já possui um controle muito grande pelo sistema de saúde, por conta das mazelas que causa ao corpo infectado. O professor alertou ainda que a necessidade urgente é do controle do mosquito, pois sabe que não é possível a sua eliminação por completo.
Para Campos, o primeiro caso de infecção pelo vírus Zica notificado pelo Ministério da Saúde foi em Natal, em fevereiro de 2015. Na ocasião, houve também um aumento de casos no Rio Grande do Norte, que foi onde tudo começou no Brasil. Na visão de Soares, a Microcefalia é uma consequência da evasão do vírus nas células nervosas e, diante dos resultados das pesquisas, constatou-se que a contaminação de recém nascidos em mães que adquiriram o vírus, não ocorre em 100% dos casos.
Não podemos esquecer ainda que a Microcefalia trata-se de uma má formação congênita e sua incidência tem ligação direta com razões ambientais, consumo de álcool e a exposição a produtos tóxicos na gestação ou de uma série de infecções, como as causadas pelo vírus da rubéola e do herpes, pelo parasita da toxoplasmose ou pela bactéria da sífilis. A maioria dos bebês diagnosticada como microcéfalo, segundo especialistas, é saudável.
A crise que se instala no país, segundo Campos, não está abalando o avanço das pesquisas sobre a MC no Brasil. Novos investimentos estão sendo feitos e as pesquisas têm avançado. Na Bahia, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que é de caráter nacional, estão abrindo editais de apoio à pesquisas. Esta última, está com edital aberto na ordem de 390 milhões de reais. Conclui-se que em breve haverá novos trabalhos sendo divulgados.
Para o professor Frederico Costa, dos 7.015 casos de MC notificados pelo SUS, 3.179, cerca de 45%, foram investigados e apenas 1.113 casos foram confirmados, cerca de 35%. Outros 2.066 foram descartados, cerca de 65% e os 3.836 dos casos restantes, ainda estão sob investigação. “De janeiro de 2014 a Janeiro de 2015 houve um aumento significante de casos e detectamos que alguns ainda não estão sendo estudados como deveriam”, destacou Costa, que apresentou um estudo realizado com um corte de 88 mulheres grávidas com febre de setembro de 2015 a fevereiro de 2016. Das mulheres avaliadas, 72 (82%) apresentaram resultados positivos para o Zika, sendo que 2/72 (3%) dos casos houve óbito fetal. Cerca de 29% dos casos apresentaram anormalidades no feto, dos quais 5% apenas, com quadros de Microcefalia.
Segundo Costa, no início da epidemia foram encontrados casos de Microcefalia em todos os extratos sociais. A partir de 2015 observa-se a maior parte dos casos registrados em hospitais públicos, ou seja, além dos fatores biológicos, há o fator social já que as mulheres de baixa renda estão sendo mais infectadas. “É necessário que se observe isso”, finalizou.
De acordo com professor do Departamento de Fonoaudiologia e do curso de fonoaudiologia da UFBA, Marcos Vinícios Ribeiro de Araújo, o Ciclo de Seminários tem como objetivo reunir pesquisadores, professores, estudantes, trabalhadores de saúde, principalmente, para refletir sobre os temas que serão abordados durante o evento, desenvolver ações, além de promover um espaço de encontro dos profissionais envolvidos com a saúde de modo geral.
O próximo evento está previsto para acontecer em maio deste ano e terá como tema o Cuidado às Crianças com Microcefalia, onde haverá discussões sobre as redes de atenção à saúde, a relação do nível ambulatorial com atenção básica, tendo este, como coordenadora desse cuidado. A proposta é promover um seminário a cada mês.
“Sabemos dos cuidados que crianças que tem como um dos sintomas a MC precisam, como o acompanhamento de profissionais de fonoaudiologia e fisioterapia para que possam ter melhor desenvolvimento. Porém nós não queríamos discutir o assunto apenas sob o ponto de vista da assistência fonoaudiológica ou fisioterapêutica, mas também, a partir do papel desses profissionais dentro do sistema de saúde, da organização do serviço de saúde que consiga responder a essa problemática, assim como pensando também, o tema dos determinantes sociais da saúde, o tema da epidemia do Zika Vírus e como esses profissionais podem, através da intervenção no Sistema Único de Saúde (SUS), pensar ações de prevenção, promoção e de reabilitação dessas crianças”, explicou Araújo.
*Salete Maso é graduanda do curso de Comunicação – Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba e colaboradora da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura