O diálogo com Leonardo Boff abordou a problemática da crise no país e possíveis saídas
POR MARINA ARAGÃO*
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O Brasil tem mostrado, nos últimos anos, uma realidade desfavorável, com juros altos, aumento da inflação, instabilidade econômica e poucos investimentos. Todas essas problemáticas desenvolvem um cenário de incertezas que atingem todas as esferas do país. “Estamos em um voo cego num avião sem piloto que não sabe para onde vai”. Essas foram as primeiras palavras do teólogo, escritor e professor de Ecologia, Ética e Filosofia da Religião, Leonardo Boff, referindo-se ao quadro brasileiro atual, durante a palestra “Da crise à esperança: novos caminhos para um mundo do bem viver”, realizada no Museu de Arte da Bahia (MAB), na noite da última quinta-feira, 25.
O estudioso destaca a profunda desigualdade social como principal característica da realidade brasileira, que acaba fundamentando-se numa injustiça social. Para ele, a grande questão é política, mas também econômica, pois o país apresenta um Congresso que não representa a população, mas grandes corporações mundiais. “Os verdadeiros donos do mundo não são os políticos, e sim as grandes corporações que subjugam os Estados”, atesta.
Além disso, o teólogo aponta que o Brasil vive uma corrupção generalizada do próprio sistema capitalista, deslocando-se de uma sociedade com mercado para uma sociedade de mercado baseada em uma perspectiva materialista. Dessa forma, a grande dificuldade é como superar esse sistema internalizado nos indivíduos. “Somos obrigados a viver num lugar onde o dinheiro produz mais dinheiro e não investimentos para a vida”, lamenta.
Boff reconhece que vive-se uma crise de civilização e do modo como habitar o planeta Terra. Segundo ele, a sociedade nutre a ilusão dupla de que os bens e serviços proporcionados pela natureza são infinitos e que pode-se consumi-los de maneira abusiva.
Entretanto, com um discurso otimista, o teólogo afirma ter fé e esperança na humanidade. Na visão dele os indivíduos precisam adquirir uma responsabilidade coletiva e estabelecer uma nova relação de colaboração com a natureza, através de um modo sustentável. “Precisamos completar a razão técnico-científica com uma razão sensível”, salienta.
Além disso, ressalta a necessidade da humanidade por um fim nesse tipo de “mundo altamente destrutivo”, o qual vivencia um descaso com o meio ambiente e a sociedade. “O pior que podemos fazer é não fazer nada”, conclui.
*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA