Disciplina, conhecimento e a coletividade são as principais características de sucesso da comunidade Recanto Peixinhos. Dessa forma, virou bom exemplo visto também por outros países. Essa é a experiência apresentada pela jornalista Liliana Peixinho, na próxima matéria da série especial Nordeste em Pauta
POR LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com
Recanto Peixinhos é modelo em autossustentação - Compromisso com a vida, em filosofia e prática do Bem Viver, harmonioso com o ambiente, não é trabalho fácil. Exige informação, disciplina, conhecimento aplicado e o desejo de um fazer diário conectado ao todo, em sentido amplo de coletividade. E é assim na comunidade Recanto Peixinhos, que pensa e faz local e globalmente, a partir de Barreira do Tubarão, Heliópolis, Bahia, Brasil, Planeta Terra. Essa projeção planetária tem uma razão de ser: é real a possibilidade de que o trabalho ali desenvolvido sejam links abertos para alcançar corações, mentes e cérebros, humanidade afora.
Padre Renato, por exemplo, um dos 11 filhos do casal Bento e Nice, já esteve juntinho ao Papa Francisco, mostrando sua disposição em reforçar a Laudato Si, como Encíclica de princípios transversais em valorização e cuidado com a vida, com o ambiente, onde as relações se desenvolvem. Empresário de outros países, como Alemanha, acompanham de perto as ações do Projeto Recanto Peixinhos e, com o cérebro focado na razão do Bem Viver, da valorização do que o planeta Terra demanda como importante e urgente na vida.
A reportagem dos Movimentos AMA/Reaja/Mídia Orgânica acompanhou reuniões, exposições, visitas técnicas e caminhadas pela comunidade, de diversos grupos de agricultores da região e até de empresários de fora do país. A comitiva do empresário alemão, Alexander Ruhle, por exemplo, fez uma visita ao projeto no final do mês de janeiro de 2018, acompanhado de engenheiro e técnico agrônomo. Recepcionados pelas crianças e seus pais, os visitantes assistiram a um vídeo sobre a história do projeto, participaram de debates sobre o uso racional da água, ouviram relatos sobre compromissos, por exemplo, com a preservação do Bioma Caatinga, foram a campo ver de perto a forma de plantio em princípios da agroecologia, da criação dos animais, da coleta e uso de frutas, legumes, verduras, raízes .
Ao meio-dia, foram convidados para a celebração dos alimentos, com um almoço preparado pelas famílias. Tudo o que foi servido – legumes, carnes, raízes, sucos, frutas – foi produzido na própria comunidade. Ainda como parte da visita, houve troca de experiências e compartilhamento de informações para reforçar, mundo afora, o trabalho do “Recanto Peixinhos”, como exemplo multiplicador de autossustentação orgânica.
Um relato do técnico Evandro Peixinho, contratado pela empresa Biococos Orgânicos, localizada no Sertão da Bahia, e de propriedade do empresário alemão Alexander Ruhle – chama a atenção para um fato ocorrido na fazenda onde ele foi convidado a administrar. Alguns animais estavam comendo frutas nas plantações e, o que poderia ser um problema, foi encarado com naturalidade pelo alemão: Ele falou `deixa eles comerem e, depois, nós plantamos mais`. Em situações semelhantes – a perda de produtos em decorrência de ataque animal –, a reação mais frequente entre empresários agricultores costuma ser a de matar os animais. Mas a surpresa de um comportamento que primou pelo olhar mais amplo sobre a importância de preservação da fauna em ambientes fragilizados, como o Bioma Caatinga, é uma constatação de que existe esperança, sim, de convivência, entre o capital e a preservação ambiental, de forma harmoniosa, inteligente, racional e preventiva.
As práticas observadas pela reportagem, em semanas e semanas de interação local – iniciadas em abril de 2017, interrompidas por problemas de saúde da jornalista, e reiniciadas entre janeiro e fevereiro de 2018 – demonstram esse sentido amplo de um fazer integral, perdido em meio à realidade dos grandes centros urbanos ou mesmo de pequenas cidades do interior.
O técnico Antonio Peixinho foi convidado a participar e compartilhar experiências do Recanto em encontro realizado em El Salvador, onde participou como representante brasileiro, para levar as experiências a agricultores de diversos países.
Das histórias e adversidades, a exemplo multiplicador. Confira os depoimentos no documentário Caminhos da Agroecologia abaixo:
* Jornalista, ativista, Especializada em Jornalismo Científico e Meio Ambiente. Fundadora e coordenadora do Movimento AMA. MIDIA ORGANICA. REAJA. RAMA. Colaboradora de diversas mídias especializadas em Jornalismo Ambiental.
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