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Atualizado em 3 DE dezembro DE 2012 ás 16:49

Da caça aos fósseis à divulgação da ciência

Alexander Kellner é paleontólogo, membro da ABC e do Museu Nacional (UFRJ) e colunista da Revista Ciência Hoje OnLine, já descreveu mais de 40 espécies de vertebrados fósseis, especialmente pterossauros, dinossauros e crocodilomorfos. Durante o 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia falou sobre divulgação científica.

POR EDVAN LESSA*
lessaedvan@gmail.com

Alexander Kellner é paleontólogo, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Escreve para coluna “Caçadores de Fósseis” da Revista Ciência Hoje OnLine (CHOnline) e desenvolve atividades voltadas à popularização do conhecimento em paleontologia. Na última semana, o pesquisador esteve em Salvador durante o 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia (de 27 a 30 de novembro) e conversou sobre a trajetória do seu trabalho, marcada pela descrição de mais de 40 espécies de vertebrados fósseis, especialmente pterossauros, dinossauros e crocodilomorfos.

Desde 1997 Alexander Kellner conduz dois projetos de pesquisa. Intitulados “Arcossauros do Mesozóico Brasileiro” e “Dinossauros no Brasil”, os trabalhos lidam com exemplares de fósseis e ocorrências paleontológicas atribuídas a eles, respectivamente. O primeiro visa a obtenção de dados estratigráficos (que esclarecem como as rochas foram formadas) e sedimentológicos (em que atua com detritos de rochas resultantes de erosão) de novos exemplares e, o segundo, analisa a fauna e os aspectos geológicos das rochas associados aos fósseis. A descoberta do Santanaraptor placidus em 1999, do Thalassodromeus sethi em 2002, e uma análise dos depósitos de Liaoning, na China (2005) – que permitiu estabelecer uma nova teoria sobre a competição entre aves primitivas e pterossauros – são alguns dos principais resultados já obtidos.

Alexander Kellner durante 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia. Foto: Divulgação

Alexander Kellner durante 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia. Foto: Divulgação

“Há bastante tempo eu procuro entender um pouquinho mais sobre essa diversidade que nós temos no Brasil e no mundo há milhões de anos atrás. Meu primeiro trabalho foi em 1984, e era a descrição de um novo réptil voador que, na época, se chamou brasiliodactius araripenses”, relembra Alexander Kellner. No Brasil, sobretudo na Bacia do Araripe, mas também no Irã, Chile e Austrália, descreveu várias espécies fossilizadas. Dentre elas, constam répteis voadores, dinossauros, peixes e ate um mamífero.

Encontrando o fóssil

“[Para] qualquer paleontólogo, a primeira coisa é definir o que você quer achar. Se eu quero achar dinossauro, eu tenho que ir para um local que tenha as rochas que se formaram onde eles viveram. Não adianta pegar um lugar cuja idade da rocha seja mais antiga ou mais recente”, alerta Alexander Kellner. Ele explica que o granito que é uma rocha ígnea; o gnaisse que é uma rocha metamórfica, não permite encontrar um fóssil. “Mas [na] rocha sedimentar, aí você tem o potencial”, conta. A explicação para isso, se deve ao fato de que as rochas sedimentares, formadas pelo acúmulo de lama e areia, por exemplo, criam camadas que podem também preservar restos animais. Todo esse processo acontece ao longo de anos e a ação da chuva e dos ventos estão entre as  principais causas.

É possível identificar se um local possui ou não fósseis através de mapas geológicos. Kellner, que já realizou expedições no deserto do Atacama, no Chile; Montana, nos Estados Unidos; Patagônia, na Argentina e a região de Kerman, no Irã, afirma que eles podem conter erros. Mas de modo geral é assim que a atividade começa. “Quando você encontra um vestígio, ou seja, um pedaço de fóssil, tem que cavar um pouco em volta para saber se tem mais, e se vale à pena fazer a escavação”, explica.

Encontrar uma espécie nova, seja ela qual for, é sempre um pequeno pedaço desse enorme quebra-cabeça que é entender  a diversidade do passado geológico da terra para o “caçador de fósseis”. Por outro lado, registros peculiares entusiasmam. Como é o caso  do Thalassodromeus sethi, pterossauro que, segundo achados, possuía um porte médio- grande, com 4.2 metros de uma asa a outra, e, em seu crânio, uma crista óssea bastante alta. “É uma coisa bizarra, porque você tem um osso na cabeça e tem que voar com isso. Em princípio ele te atrapalha. [Mas] a gente conseguiu estabelecer que talvez ela pudesse ter agido como um radiador, ou seja, um aparato que pudesse resfriar esse animal druante o voo”,  detalha o estudioso. “Isso significa que a crista dos pterossauros era somente pra isso? Não. Mas ela também poderia servir pra isso”, completa.

Outro achado significativo na trajetória de Kellner, o Santanaraptor placidus, foi descoberto com tecido mole ainda preservado. “Você tem a derme, epiderme, vasos sanguíneos, fibras musculares. Isso não é algo trivial, é realmente fascinante”, complementa o paleontólogo.

Divulgação científica

Kellner é autor de dois livros e, todo mês, escreve sobre descobertas paleontológicas em sua coluna na Revista Ciência Hoje OnLine. “Na primeira vez que conversaram comigo a respeito disso, eu não estava muito entusiasmado, não. Hoje, eu sou o colunista mais antigo da CHOnline. [E]  fico muito orgulhoso”, celebra.

Mais 200 publicações entre artigos de periódicos, capítulos de livros, resumos e artigos de divulgação científica também resultam dos projetos de pesquisa de Kellner, que realizou grandes exposições, com destaque para “ No tempo dos dinossauros”, inicialmente inaugurada no Museu Nacional em 1999 e atualmente exposta no Museu de Ciências da Terra (DNPM/RJ).  “Quando eu voltei do meu doutorado nos Estados Unidos, sendo bem franco, só tinha um lugar que eu queria trabalhar no mundo – o Brasil, no Museu Nacional. Por causa do [seu] potencial, não só como instituição, mas [também, por me dar a] oportunidade de mostrar um pouco daquilo que faz o paleontólogo para a população geral, através das suas exposições”, afirma o pesquisador.

Alexander Kellner. Foto: Divulgação

Alexander Kellner. Foto: Divulgação

Ele lembra que quando iniciou no Museu Natural, a primeira dificuldade com que se deparou foi, justamente, a falta de interesse de algumas pessoas em participar de atividades de divulgação científica. Imediatamente estranhou o desestímulo de colegas, ao lembrar que no Museu de História Natural Americana ocorria o contrário. “Para fazer a exposição [No tempo dos Dinossauros] a gente apanhou muito; muitas discussões internas”, relata. Ainda de acordo com o paleontólogo, atividades de divulgação científica só ganharam espaço agora, dentro do próprio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Hoje o CNPq tem um lugar que coloca atividades de divulgação científica. Como você vai ser avaliado, ninguém sabe. Mas já tem lugar para colocar”, ressalta.

A paleontologia no Brasil

O panorama dos estudos sobre fósseis, no Brasil, mudou, porém, está longe de ser o ideal na visão do pesquisador. “A situação da pesquisa brasileira é fraca. Ponto. Tem destaques individuais; tem áreas que são um pouco melhor, mas a gente perde de dez a zero da Argentina”, reflete Kellner. “Eles estão muito à nossa frente; gastam mais em paleontologia e têm mais paleontólogos trabalhando, compara. Hoje em dia, a maioria das pessoas em formação tem caminhado pelas ciências biológicas, e esse pessoal tem conseguido emprego como professores. Para Kellner, o mercado de trabalho para o paleontólogo existe e é tão bom ou tão ruim como qualquer outro nas áreas que envolvem às ciências.

*Edvan Lessa é estudante de Comunicação, com habilitação em Jornalismo da Facom – UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.

Um comentário a Da caça aos fósseis à divulgação da ciência

  1. Mariana Alcântara disse:

    Gostaria de parabenizar a Edvan Lessa pela excelente reportagem! Um agradecimento especial à Agência de Notícias Ciência e Cultura pelo apoio dado ao 3º Encontro de Jovens Cientistas da Bahia! Sem dúvidas, se todos os pesquisadores/cientistas fossem tão apaixonados pela divulgação científica como o Alexander Kellner, o nosso trabalho como jornalista de ciência seria muito mais fácil!!!

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