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Atualizado em 27 DE julho DE 2018 ás 22:56

De olho no xadrez eleitoral de 2018

Evento promovido pelo grupo de pesquisa em Democracia Digital, discutiu os principais acontecimentos políticos que podem influenciar as eleições deste ano

POR GIOVANNA HEMERLY*
gihe296@gmail.com

Em ano de eleições, a polarização política, a prisão de Lula, o crescimento das intenções de voto em Bolsonaro e o apoio do “centrão” à pré-candidatura de Geraldo Alckmin, são alguns dos principais eventos que marcam o atual cenário político brasileiro. E assim como num jogo de xadrez, cada jogada feita por partidos ou candidatos pode ser decisiva para o xeque-mate eleitoral deste ano.

Desta forma, para discutir o atual panorama das eleições e como estes acontecimentos podem influenciar na corrida eleitoral, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) realizou na última terça-feira, 24, a mesa-redonda “O Lulismo, o Bolsonarismo e o Xadrez Eleitoral de 2018”, no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBA. O evento faz parte do projeto do INCT.DD para as eleições deste ano, que contará com outras mesas de debate para continuar acompanhando e discutindo a situação eleitoral brasileira.

Para pesquisadores, a política brasileira está passando por uma fase de polarização e fragmentação / Imagem: Giovanna Hemerly

Polarização – O pesquisador e coordenador do INCT.DD, Wilson Gomes, considera que “A polarização é uma das palavras chaves para entender porque é tão difícil criar pontes no atual cenário político”. Para ele, o primeiro sintoma dessa polarização é a rejeição de atividades comuns da política, como fazer alianças ou promover acordos entre partidos ou candidatos. Outro sintoma comum da polarização no Brasil é a hiper partição política. Para Gomes, este sintoma pode ser um problema porque essa hiper participação está sendo feita por pessoas que não entendem do funcionamento do sistema político e não tinham interesse até pouco tempo, mas, a partir das manifestações ocorridas em junho de 2013, passaram a participar de maneira radical e equivocada.

Um exemplo citado por ele foram os pedidos de intervenção militar de jovens que fazem parte da primeira geração que nasceu após o fim da ditadura militar. “Os novos participantes perturbam o jogo político. Eu sou da geração que se lamentava pela queda do índice da participação civil na política. Quanto mais jovem você era, maior era o desinteresse por política. De repente, desde 2013 as pessoas enlouqueceram por política”, afirmou Wilson Gomes.

Para o coordenador do INCT.DD, os novos participantes políticos são um dos fatores que contribuem para a polarização política no país / Imagem: Giovanna Hemerly

A situação da esquerda no Brasil - Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPA), Sérgio Braga, o Partido dos Trabalhadores (PT), maior representante dos partidos da esquerda brasileira, apresenta hoje pouca representatividade no parlamento. “Em Pernambuco, nas estatísticas eleitorais das últimas eleições, Dilma teve 67% dos votos, mas ainda assim o PT não elegeu nenhum deputado federal. O PT hoje é um partido sem representação parlamentar. Ainda é majoritário no parlamento, possuindo mais de 50 deputados, mas a perspectiva é que se reduza essa bancada e deixe de ser um partido majoritário”.

Ele explicou que diferente de outros países sul-americanos, como Uruguai e Chile que possuem partidos de esquerda mais organizados, com um legislativo forte e atuante, possuindo uma auto-identificação partidária maior por parte dos eleitores, haveria nesses países um maior sentimento de lealdade e confiança na instituição partidária, que está ausente no Brasil. O cientista político afirma que a atual situação da esquerda no Brasil é uma consequência dos fatores que desencadearam as manifestações de junho de 2013: modelo econômico excessivamente estatista, desatenção às novas demandas surgidas, especialmente por parte das gerações mais jovens, e a submissão da esquerda ao chamado “lulismo”.

Sérgio Braga considera que a atual situação de fragmentação da esquerda no Brasil pode estar associada ao populismo adotado nos últimos anos pelo PT / Imagem: Giovanna Hemerly

O lulismo - Sérgio Braga explicou que “lulismo” é um termo cunhado pelo jornalista e cientista político André Singer em seu livro ”Os Sentidos do Lulismo”, no qual ele caracteriza como um estado de compromisso que envolve um equilíbrio de forças de natureza “bonapartista”. Ou seja, Lula seria uma figura que fortaleceu o poder executivo e sua autoridade política através do carisma, elemento principal na conquista do apoio popular.

No entanto, Braga discorda dessa concepção por entender que o lulismo não foi um equilíbrio de forças de característica conservadora, mas sim, a expressão de uma aliança política entre o empresariado nacional e a classe trabalhadora, contemplando setores antes excluídos da sociedade com benefícios sociais como o bolsa família. Desta forma, o ex-presidente foi capaz de manter uma política progressista, distribuindo rendas ao mesmo tempo em que gerava riquezas para o país, melhorando a qualidade de vida da classe trabalhadora ao mesmo tempo em que atendia aos interesses da classe empresarial. “Apesar de manter uma aliança com o agronegócio, [o lulismo] foi um fenômeno de natureza progressista, porque incluiu setores crescentes da classe trabalhadora no mercado de trabalho, melhorou a qualidade de vida dessas pessoas”, explicou Braga.

Porém, o cientista político alertou que o populismo contribui para o “esvaziamento das instituições partidárias e representativas”, já que a população, de um modo geral, não se identifica com os partidos ou instituições políticas, mas apenas com a figura populista. De acordo com Sérgio Braga, no início da sua trajetória política, Lula buscava associar sua imagem ao PT. Já nos dias atuais, essa imagem está tão vinculada que considera-se não haver força no partido sem o próprio Lula. Isso explicaria o fato de que, mesmo estando preso, ainda se aposta na candidatura do ex-presidente para as eleições deste ano.

Para Braga, esta seria uma forma de tentar manter a hegemonia que o PT mantém perante aos demais partidos de esquerda, levando em conta o poder de influência de Lula. No entanto, esta estratégia poderia colocar a posição do Partido dos Trabalhadores em risco na corrida eleitoral, por não haver um plano B, e continuar mantendo uma atitude de inflexibilidade, que tem sido tomada desde o mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff.

José Crisostomo de Souza, mediador do evento / Imagem: Giovanna Hemerly

O posicionamento do “centrão” - Diante do descontentamento de vários partidos com o atual governo Temer, as eleições deste ano voltou com o famoso bloco político do “centrão”, que atualmente é formado pelo Partido Progressista (PP), Partido da República (PR), Partido Republicano Brasileiro (PRB), Democratas (DEM) e Solidariedade. Doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/IUPERJ, Paulo Fábio Dantas, afirma que esses partidos, que antes apoiaram Michel Temer durante o processo de impeachment, agora formam uma coalizão contra o próprio governo Temer, em prol de uma vaga na presidência para um candidato do PSDB.

Desta forma, o pesquisador explica que a atual posição destes partidos é apostar na candidatura do paulista Geraldo Alckmin (PSDB) como alternativa para unificar os partidos de centro-direita brasileiros, competir com as candidaturas de esquerda e “eliminar” o bolsonarismo, já que há uma parcela de possíveis eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) que também votariam em Alckmin.

Paulo Fábio Dantas explicou que o "centrão" é formado por partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, mas que agora querem por fim ao governo Temer / Imagem: Giovanna Hemerly

No entanto, por Alckmin ainda não apresentar altos índices de intenções de voto nas pesquisas, não está definida a real situação do pré-candidato do PSDB nestas eleições. Sendo assim, os partidos do centrão ainda não descartaram um possível apoio a candidatura do centro-esquerda Ciro Gomes (PDT), apesar da preferência por Alckmin.

Carisma e intenções de voto - Wilson Gomes afirmou que outro aspecto complicado para Alckmin nestas eleições poderia ser a falta de um histórico de carisma durante sua trajetória política. Lula e Bolsonaro, dois líderes carismáticos, estão no topo da lista das pesquisas de intenção de votos. Na pesquisa do DataFolha de junho deste ano, Lula possuía 30% das intenções de votos, Bolsonaro ficava com 17% e Alckmin empatava com Ciro Gomes, com 6%. Contudo, na pesquisa que desconsiderava a candidatura de Lula, Bolsonaro passa a ter 19% das intenções de voto, enquanto Alckmin ficava com 7%, perdendo para Ciro Gomes que tinha 10% das intenções de voto.

Segundo o coordenador do INCT.DD, ainda haverá outras mesas de debate para discutir as eleições de 2018 / Imagem: Giovanna Hemerly

Porém, Wilson Gomes ressalta que a instabilidade é uma característica comum do jogo político, então ainda é possível que haja resultados que diferem-se das pesquisas de votos.“Temos líderes carismáticos dos dois lados: Bolsonaro e Lula. Por isso é um grande desafio ver o que acontece com Alckmin. Aparentemente ele não tem uma narrativa carismática. Será que vai funcionar? Há espaço para isso? As pessoas vão se enfartar do carisma? Essas são perguntas que provavelmente só poderemos responder no próximo evento”, disse o coordenador do INCT.DD.

*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA

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