Desde de 1994, OMS já estimava uma média de 157 milhões/ano de novos casos de doenças atribuídas a diversos riscos de exposição e sobrecarga de trabalho
POR VINÍCIUS CARVALHO*
vinicapital@hotmail.com
A necessidade urgente de fomentar as discussões em torno da saúde ocupacional, numa época em que as rápidas modificações do trabalho no mundo moderno estão afetando a saúde dos bilhões de trabalhadores em todos os países, não é particularidade deste início de século. Segundo a “Declaração sobre Saúde Ocupacional para Todos”, publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1994, já se estimava uma média anual de 157 milhões de novos casos de doenças de trabalho atribuídas, quase sempre, a diversos riscos de exposição e sobrecarga de trabalho.
Uma parte significativa dessas doenças são os transtornos mentais e do comportamento, conforme são denominados na lista de doenças relacionadas com o trabalho, publicada pelo Ministério da Saúde. Essas doenças cada vez mais representam um percentual maior nas estatísticas das patologias laborais e, dentre elas, o impacto causado pela depressão tornou-se objeto de uma pesquisa parcialmente financiada pela Fapesb e CNPQ e realizada pelo Professor doutor William Azevedo Dunningham, do Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Ufba.
A PESQUISA – O objetivo principal da pesquisa, diz o professor, é, “realizar uma análise do discurso, de funcionários de bancos, buscando o aprofundamento dos fatores determinantes do seu adoecimento psíquico, especialmente no que concerne aos transtornos depressivos”. A escolha do pesquisador pelos profissionais deste ramo com o objetivo de conhecer mais sobre as causas da depressão no trabalho tem relação com o interesse acadêmico surgido, “no início da década passada, a primeira do século XXI, quando os profissionais de saúde mental, sobretudo os psiquiatras e os psicólogos, começaram a registrar um aumento crescente da demanda de trabalhadores do setor bancário em suas respectivas clientelas”, explica.
“Nos congressos regionais e nacionais de Psiquiatria começaram a proliferar, nos meados da década passada, entre os temas científicos de destaque, estudos abordando a relação epidemiológica entre trabalho e transtornos mentais (prioritariamente a depressão). Por outro lado, a Previdência Social passou a constatar, na mesma época, a ocorrência de um aumento explosivo da concessão de benefícios previdenciários por incapacidade laboral determinados pelos transtornos depressivos tendo duplicado o percentual de incapacitação laboral de 2001 para 2002, devido à depressão, chegando a beirar 40% do total de afastamentos do trabalho por invalidez transitória ou permanente, liderando, entre os incapacitados, os trabalhadores bancários”, completa o pesquisador.
CAUSAS - A análise do discurso dos profissionais pesquisados tem como foco o levantamento e o detalhamento das diferentes causas de depressão no ambiente de trabalho, neste caso, o bancário. A relação entre a doença e as atividades laborais é uma das faces da psicodinâmica do trabalho cujo maior estudioso é o psiquiatra francês Christophe Dejour, segundo o qual, explica o professor, “o trabalhador sofre quando não tem sua aptidão qualitativamente considerada, quando ele realiza um trabalho, ou muito grande para a capacidade que possui, ou muito aquém das habilidades e competências que desenvolveu ao longo, e esta qualificação não é reconhecida. Essa frustração produz uma tensão psíquica, gerando o que o autor denomina carga psíquica do trabalho, o que produz o advento dos transtornos mentais, notadamente a Depressão que se caracteriza pelo declínio do humor e pela perda do interesse e/ou prazer nas atividades que antes lhe proporcionavam bem estar”
Dunningham explica que há, ainda, uma segunda corrente de estudos que tenta explicar as interações entre saúde mental e trabalho privilegiando a relação entre estresse e atividade laboral, levando em conta que as mudanças do processo produtivo resultantes da ascensão do modelo econômico baseado no neoliberalismo trouxeram a priorização da obtenção de lucro pelas organizações capitalistas e aumentaram a competição entre elas. Esse cenário de muita pressão é, segundo os estudiosos dessa corrente, o que acarretaria elevações dos níveis de estresse psicossocial entre os trabalhadores, aumentando a prevalência de transtornos ansiosos e depressivos e síndromes mentais pós-modernas, como o esgotamento mental provocado por níveis de estresse insuportáveis conhecido por “Síndrome de Burnout”.
“Há evidências que se apóiam em dados científicos robustos de que a precarização das condições de desempenho laboral das classes trabalhadoras ocorridas nas últimas décadas joga um relevante papel no aumento da ocorrência dos transtornos ansiosos e de estresse, em âmbito mundial”, reforça o professor.
PREVENÇÃO - De acordo com o professor, a pesquisa aponta, também, para possíveis formas de prevenção desta doença ocupacional. Para ele, “medidas de prevenção podem ser adotadas para melhorar a qualidade do ambiente de trabalho. As metas de produção poderiam ser discutidas e não impostas pelas empresas privadas e estatais; deveriam ser implantadas, no ambiente ocupacional, atividades em grupo para aprimorar as relações interpessoais; deveriam ser adotados programas de educação para saúde para que todos os trabalhadores, em todos os níveis hierárquicos, entendam os problemas de saúde que podem ser gerados pelas condições de trabalho, esclarecendo-os melhor acerca do sofrimento psíquico e incluir na agenda das reivindicações gremiais medidas que permitam amenizar o estresse no trabalho e incrementar o grau de satisfação do trabalhador com o tipo e a carga de labor por ele exercida”.
*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
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Lista de Doenças Relacionadas com o Trabalho
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Indústria calçadista baiana: paga mal e prejudica saúde do trabalhador
Muito boa a matéria. Eu sou Técnico em Segurança do Trabalho recém formado mais ainda não atuo na minha profissão,mas com base em tudo que eu estudei durante o curso de TST, esta reportagem retrata com clareza o cotidiano dos trabalhadores de todas as áreas no Brasil. Existem profissões que exigem da capacidade física e outras da capacidade mental dos trabalhadores e ambas exigências podem deteriorar a saúde dos trabalhadores através dos agentes de risco provenientes de suas atividades, sejam elas agentes do risco Físico, Químico e Biológico.
Uma empresa que cultiva em seu meio ambiente laboral uma cultura de “Segurança do Trabalho” tende a ter menos prejuízos se investir em seu colaborador dando-lhe suporte,apoio,conforto e segurança.
Nada melhor para uma empresa, ter seus operários produzindo com satisfação por se sentirem valorizados,cuidados,protegidos,garantidos e seguros.
Infelizmente alguns empresários vê a Segurança do Trabalho como uma Lei, um protocolo que se cumpre… mas na verdade, se olharmos para as grandes empresas que levam a sério os requisitos ténicos de Saúde Segurança e Medicina do Trabalho verão que esta é uma base firme e sólida de seu secessos.
Segurança do Trabalho = Lucro Sem Acidentes, Sem Multas, Sem Penalidades, Sem Embargos ou Interdiçôes, Sem Prejuízos em Máquinas e Equipamentos pelo mau uso e conservação derivados da falta de informação do operador …
Fica aqui minha proposta para que tenhamos menos uniformes sujos de sangue, menos distúrbios nos trabalhadores.
Muito bom o conteudo de seu blog, Parabens…
Antonio Marques
Importar da China