Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 7 DE junho DE 2011 ás 22:34

Asher Kiperstok

Residente de uma casa ecológica, o doutor em Engenharia Química / Tecnologias Ambientais e autor de três livros relacionados ao meio ambiente, defende o uso racional da água e da energia. Ele vem implantando projetos que ajudam a diminuir os impactos ambientais, mas vê o desenvolvimento sustentável como utopia. Nesta entrevista, o coordenador da rede de Tecnologias Limpas (Teclim), da Universidade Federal da Bahia, explica como a sociedade financia o desperdício, fala sobre os projetos verdes e da implantação de tecnologias limpas nos novos prédios da Ufba

Por Priscilla Machado*
priscilamachado19@gmail.com

Ciência e Cultura – Como começou o Teclim?

Asher Kiperstok - A Rede de Tecnologias Limpas começou com uma especialização em 1998, porém com o desinteresse dos alunos e com a fraca produtividade, suspendemos a especialização e criamos o programa de pós-graduação em engenharia industrial. Temos hoje, incorporado nesse programa um mestrado profissional, um mestrado acadêmico, um doutorado, além de cursos de especialização. A rede Teclim funciona dentro do departamento de engenharia ambiental, mas é multidisciplinar com pesquisadores da área de Biologia, de Química e da Administração. Além disso, temos parcerias com várias empresas. Nós somos o principal pilar dentro do departamento de engenharia sanitária e de engenharia ambiental.

Ciência e Cultura – Qual a relação entre esse grupo de pesquisa e a engenharia sanitária?

Asher KiperstokA grande diferença entre o nosso grupo de pesquisa e a engenharia sanitária, é que engenharia sanitária estuda o que fazer com os resíduos, enquanto o nosso grupo estuda o motivo de se está gerando resíduo. Por exemplo, a urina nunca poderia ser tratada como resíduo, porque a quantidade de nitrogênio e fósforo que a urina tem a transforma em fertilizante, então ela não deveria ser descartada. Não queremos saber como destruir a urina, mas como aproveitá-la. Ou seja, como captar esse material, que tem um valor energético e orgânico, e utilizá-lo.

"Atualmente o desenvolvimento sustentável é tão discutido que virou uma espécie de modismo, mas a verdade é que ele não passa de uma utopia."

Ciência e Cultura– Quais são os pontos de análise do grupo?

Asher KiperstokUma das principais questões a ser analisada pelo grupo é sobre o resíduo. A humanidade deve gerar o mínimo de resíduo possível. E os resíduos ainda sim, são gerados porque a sociedade não se estrutura para evitá-lo.

Atualmente o desenvolvimento sustentável é tão discutido que virou uma espécie de modismo, mas a verdade é que ele não passa de uma utopia. Não há produção sem geração de resíduos, como também, não há desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Para termos uma sociedade sustentável, teríamos que não gerar resíduos, uma vez que estamos gerando resíduo, não conseguimos alcançar a sustentabilidade.

Por exemplo, não tem sentido falar de resto de prato. O que é resto de cozinha? Se a pessoa está gerando resto de alimentos, é porque não sabe fazer o seu prato. Foi feito um trabalho na graduação em que se analisou que no restaurante universitário aproximadamente 30 a 40 % do alimento é desperdiçado. Os consumidores devem ter a consciência de que não é devido ao baixo custo do prato, que se tem que desperdiçar. Veja a responsabilidade de se jogar fora algo que custou o dinheiro do serviço público.

Outra forma de desperdício na universidade é vista nas residências universitárias. Como que uma residência universitária pode gastar tanto, gerando contas absurdas, tal qual analisamos? A verdade é que a sociedade acaba subsidiando o desperdício, seja através de uma isenção de taxa, ou através de contas baratas. E as pessoas, infelizmente, não reconhecem o privilégio que têm e não colaboram no sentido de tornar o benefício amplo. Porque na medida em que economizamos, estamos tornando possível que o dinheiro que seria desperdiçado seja investido em outros projetos.

Ciência e Cultura – Quais resultados o grupo tem obtido com os projetos de pesquisa?

Asher Kiperstok - Os gastos que estamos reduzindo são bastante expressivos. Calculamos que estamos conseguindo gerar uma economia na ufba e 200 mil reais por mês, só através do programa água pura.

O programa consiste em realizar o monitoramento do uso da água na instituição. O monitoramento realizado nas faculdades que aderiram ao programa ajuda a identificar a existência de vazamentos. Constatado esse vazamento, é realizado o reparo.

Todo o semestre são produzidos cerca de 100 projetos dedicados a tentar reduzir gastos e gerar economia às empresas. O nosso grupo de pesquisa é multifacetado e se debruça em evitar o desperdício e ajudar a construir a sustentabilidade.

Ciência e Cultura – Qual a sua opinião sobre projetos verdes, eles promovem a sustentabilidade?

Asher KiperstokEu acredito que em alguns casos as grandes empresas promovem a redução do desperdício, através de projetos mais conscientes, o que não quer dizer que essas organizações sejam sustentáveis.

Desde quando se produz mais do que se economiza, esse projeto está longe de ser sustentável. Edifícios luxuosos implantados na Paralela, por exemplo, promovem a sustentabilidade através do reaproveitamento de energia solar, ou por meio do cultivo de vegetação ao redor da construção, mas, no entanto, gasta milhões com a utilização de ar condicionado.

Em um corredor, como o da Avenida Paralela, poderia haver projetos em que o próprio telhado e a estrutura do edifício realizassem a ventilação, tornando o uso do ar condicionado dispensável. Então, na maioria dos casos, são prédios que promovem a sustentabilidade, através da implantação de tecnologias limpas, mas que não dão conta do desperdiço com a energia e com o luxo interno. Nesse caso, trata-se de um erro de projeto de pessoas que não entendem exatamente o problema da sustentabilidade.

Ciência e Cultura - Há algum projeto que vise à implantação de tecnologias limpas nos novos prédios da universidade?

Asher KiperstokQuando começou o REUNI, nós tentamos encontrar projetos viáveis para evitar o impacto ambiental. Conseguimos fazer alguma coisa, mas ainda é pouco.

Hoje, para que as construções visem à preservação do meio ambiente é necessário que os profissionais de construção civil saibam fazer esse tipo de projeto. A mudança deve começar a partir da própria formação da arquitetura e da engenharia civil.

É muito difícil convencer um engenheiro que já tem certo tipo de formação a construir, por exemplo, um telhado que tenha captação de água da chuva. Mas, ainda sim, conseguimos que alguns dos novos prédios tenham esse tipo de projeto. Além disso, deve ser implantado um sistema de abastecimento de água potável e não potável. A água potável vem da embasa, e a não potável vem da chuva.

Um outro ponto é fazer com que o telhado tenha uma carga térmica que evite o uso de ar condicionado. O pavilhão de aulas Glauber Rocha, antigo PAF 3, por exemplo, é muito quente e acaba comportando ar condicionado em todas as salas. Poderia em vez disso, utilizar um projeto em que o telhado realizasse troca de calor e não que o confinasse.

Mas tendo em vista que a Ufba nunca passou por um processo de desenvolvimento físico tão rápido, em tão pouco tempo, conseguir realizar um projeto que vise a sustentabilidade, em meio a essa velocidade, já é um progresso.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

___________________________________________________________________________

A rede Teclim desenvolve pesquisas em parceria com organizações públicas e privadas e tem como ponto central a prevenção da poluição e a minimização de resíduos. Só através do programa Água Pura, Asher calcula que tenha gerado uma economia de R$ 200 mil por mês na universidade.

Saiba mais

2 comentários para Asher Kiperstok

  1. Muito legal a entrevista, mas discordo que a Sustentabilidade seja utopia, é mesmo uma necessidade que precisa ser perseguida e praticada, cotidianamente, para fazer valer/garantir a Vida, todos os dias. Utopia é algo inalcansávél e penso que precisamos ser otimistas, ativistas, realizadores de ações práticas que realmente justiquem o termo sustentável, altamente banalizado pela própria mídia. Parabéns pelo conteúdo. Sds harmoniosas Liliana Peixinho lilianapeixinho@gmail.com

  2. Maria Inês disse:

    Oscar, a gente vive perseguindo essa sustentabilidade. É muito difícil de se cercar todo um projeto para eliminar os desperdícios. Mas, sem dúvida, podemos reduzir muito. Parabéns pelo seu trabalho Bjs, A Maga

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *