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Atualizado em 6 DE julho DE 2011 ás 19:11

Manguezal na Costa do Dendê é analisado

Estudo observou as pressões antrópicas sobre sedimentos dos manguezais na Baía de Camamu, que integra a Costa do Dendê, no sul da Bahia

Por Lídice Oliveira
oliveira.lidice@gmail.com

A bióloga baiana Joana Fidélis da Paixão, 2ª colocada na edição 2006 do Prêmio Jovem Cientista do CNPq, na categoria graduado, ganhou este prêmio graças a uma pesquisa sobre ecotoxicológicos, do mestrado em ecologia e biomonitoramento, sob orientação da professora e bióloga Iracema Andrade Nascimento.

Cinco anos depois, já com doutorado em Geologia Marinha, Costeira e Sedimentar pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Joana Paixão continua fascinada pelo meio ambiente. Ela concluiu, em março de 2010, um novo estudo que, dessa vez, analisou as pressões antrópicas sobre os sedimentos dos manguezais na Baía de Camamu, parte da chamada Costa do Dendê, no sul da Bahia.

De grande beleza natural e dona de uma das mais importantes extensões de manguezal no estado, a região tem sofrido o impacto de atividades econômicas notórias na geração de passivos ambientais, como a mineração (exploração do minério de bário) e o turismo, sobretudo nas últimas décadas. Está em vias, também, de reativar um terminal portuário, o Porto de Campinhos, em Maraú (distante 200km de Salvador), e sob a influência de petrolíferas que exploram as águas do sul baiano.

Joana realizou a análise geoquímica do solo do manguezal em sete pontos distintos da baía, nos quais colheu as amostras para monitorar os níveis de contaminação por poluentes inorgânicos (metais) e orgânicos (hidrocarbonetos). E também fez ensaios para verificar o comportamento das comunidades bentônicas (organismos que vivem nos sedimentos).

A pesquisadora chegou à conclusão que, nos pontos analisados, não há preocupação ainda com os hidrocarbonetos. Mas constatou que a presença de metais está acima dos limites internacionalmente aceitos, com base nos valores da Agência Norte-Americana de Pesquisas Atmosféricas e Oceânicas (NOAA). “Esse estudo pode servir de referência para trabalhos similares, futuramente”, diz Joana, ao explicar que novas pesquisas poderão, nesse caso, indicar se há redução de espécies ou até o surgimento de outros organismos oportunistas, devido às alterações causadas pela poluição.

Professora de meio ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (Ifba), no campus de Catu (80km de Salvador), ela pretende dedicar-se a uma pesquisa sobre a qualidade dos mananciais da cidade onde trabalha e municípios vizinhos. Para ela, a sedução exercida pela atividade de pesquisa é o motor para enfrentar as dificuldades.

O trabalho premiado do mestrado, por exemplo, foi realizado durante a gravidez do único filho, hoje com 6 anos. “Fiz experimentos com gasolinas na época, mas felizmente ele nasceu bem”, conta, ao lembrar que a tese foi escrita “de madrugada”.

Sua receita para não desistir do trabalho científico é abrir mão da vida social (“nunca saio à noite”) e planejar as atividades, com metas a serem cumpridas a cada dia. “E tenho um marido atípico, que divide tarefas e quando está de folga é dedicação total ao nosso filho”, conta Joana. “Ele leva para o pediatra, cuida de tudo; eu não teria deixado meu filho sem proteção. O pai supre tudo quando não estou”.

O dendê não é o vilão

Por falar no dendê, é bom lembrar que não são apenas as famosas baianas dos tabuleiros que andam colocando a colher no tacho fumegante. O óleo também alimenta pesquisa. Uma delas foi feita pela médica cardiologista e doutora em Medicina e Saúde, Ana Marice Teixeira Ladeia, que resolveu investigar para descobrir se a fama do azeite de dendê no aumento do colesterol realmente se justificava.

Depois de submeter à ingestão diária de dendê fervido dois grupos distintos de voluntários – um formado por adultos na faixa dos 40 anos e colesterol alto e outro de jovens com média de 22 anos e colesterol baixo  ela descobriu que no grupo de colesterol alto, os exames não detectaram alteração nos triglicérides e nem no colesterol total. Já entre os voluntários jovens, houve redução de 11% nos triglicérides e o chamado colesterol bom ainda cresceu 3%.

Efeito do dendê sobre as taxas de colesterol não depende exclusivamente da composição do óleo

Durante a pesquisa, cada voluntário ingeriu 10ml (o correspondente ao consumido numa porção individual de moqueca) de azeite fervido por cinco minutos, ao longo de duas semanas. Apresentado em vários congressos de medicina, o estudo, concluído em 2008, revelou que o efeito do dendê sobre as taxas de colesterol não depende exclusivamente da composição do óleo, mas, sobretudo, do perfil metabólico de cada pessoa. Ou seja, segundo a pesquisa, o dendê não é o vilão.

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