Instituto de Letras da Ufba prepara primeiro volume do Atlas Linguístico do Brasil
Por Fernando Vivas*
vivasf@gmail.com
A sala 109 do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (Ufba), guarda um precioso tesouro para os linguistas. No pequeno espaço de 6m², estão acondicionados milhares de CDs com gravações que revelam as formas de falar dos brasileiros, coletadas para a confecção do Atlas Linguístico do Brasil (AliB).
Resultado de pesquisas que já duram 15 anos, realizadas em 27 estados brasileiros sob a coordenação de professores do Instituto de Letras, o projeto entra agora em sua fase final: em 2012 será lançado o primeiro volume do AliB. Ele apresentará diferenças fônicas, morfossintáticas e léxico-semânticas do português falado nas capitais brasileiras. Cerca de 86% da coleta já foi realizada – dos 250 municípios escolhidos para compor o mapa, apenas 35 faltam ser visitados.
De acordo com a professora Jacyra Mota, diretora executiva do projeto AliB, a idéia de um atlas linguístico nacional surgiu em 1952, por um decreto do presidente Getúlio Vargas, que atribuiu à Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, a tarefa da criação de um atlas nos moldes dos existentes na França de 1902 e de Portugal (1932). “Com as dificuldades surgidas no mapeamento nacional, o projeto foi regionalizado. Dessa forma, surgiu na Bahia, em 1963, o primeiro registro linguístico brasileiro, o Atlas Prévio dos Falares Baianos”, explica Jacyra.
Somente em 1996, o projeto inicial foi retomado, durante o Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil, realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia. Inicialmente, dez universidades participaram do projeto, passando para 16 a partir de 2002, sendo duas particulares.
Para realizar a coleta de dados, o mapa do Brasil foi dividido em cinco regiões geolinguísticas (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro Oeste), subdivididas em 250 municípios por critérios demográficos, históricos e culturais. Os pesquisadores vão a essas localidades e selecionam pessoas que tenham nascido na região, de ambos os sexos e com idades de 18 a 30 e 50 a 65 anos. Estes devem ser alfabetizados, mas que tenham estudado, no máximo, até a 4º série do ensino fundamental – nas capitais são incluídos quatro informantes de nível universitário. Os critérios, segundo a professora Jacyra Mota, servem para coletar informações “com pouca influência das “correções” adquiridas na escola”, no caso dos municípios do interior, e, nas capitais, “a idéia é fazer um confronto, ver até que ponto a fala de um tem características que não existem na fala do outro”.
Munidos com gravadores, os pesquisadores apresentam questionários com descrições de objetos e situações, registrando como o entrevistado nomeia os mesmos. Em média, as entrevistas pessoais duram duas horas e meia, mas há casos em que as entrevistas ultrapassam quatro horas.
O questionário é divido em fonéticofonológico (QFF), com 159 perguntas: semântico-lexical (QSL), com 202 perguntas; morfossintático (QSM), com 49 perguntas; além de questões de prosódia e de pragmática, de temas para discursos semidirigidos, questões de metalinguísticas e um texto para leitura.
Depois de coletadas, as gravações são enviadas para a sede do AliB, no Instituto de Letras, onde duas equipes de pesquisadores – uma responsável apenas pelo questionário QFF – fazem as transcrições dos arquivos sonoros. Esses dados são cruzados dando origem a novas pesquisas. “Os primeiros trabalhos já estão sendo feitos, já há algumas publicações, alguns artigos, só que ainda não há algo geral sobre o país inteiro”, afirma a professora Jacyra, que prossegue citando o trabalho de um bolsista: “tem um aluno que terminou uma dissertação de mestrado sobre o ‘s’ aspirado na região nordeste, onde se fala mesmo ou ‘mermo’. E continua, “ o estudo do ‘s’ palatizado, o ‘xis’ do carioca, está quase acabado, só falta burilar”.
Embora, de acordo com o cronograma, o AliB já possua quase 90% de seus trabalhos concluídos, seus responsáveis não arriscam uma data para a conclusão do projeto. Os motivos apresentados pela presidente do Comitê Nacional do AliB, Suzana Cardoso, são os custos de financiamento da pesquisa e a dificuldade de acesso a algumas localidades. “Hoje, duas das pesquisadoras do nosso grupo no Brasil e duas professoras da Universidade de Londrina, estão no Amazonas fazendo os registros de Tefé, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga. Basta olhar no mapa para se ter a idéia das dificuldades a serem vencidas”, conclui.
*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
este é um trabalho de vital importancia para a lingua portuguesa e seu fortalecimento. Você professora Jacyra não só resgata o desejo de ícones da literatura baiana como também com sua equipe nos traz o ufanismo dos saudosos dias Getulianos. Não esqueça de buscar a midia pra divulgação deste nobre trabalho ok?
Parabéns, belíssimo trabalho!
Finalmente alguém lembrou-se de dá a devida divulgação ao árduo trabalho deste projeto que é tão importante quanto os demais que são desenvolvidos na UFBA.
Fernando, parabéns pela matéria e obrigada.
Alibianas, finalmente lembraram-se de nós!
Abraços.
O ALiB tem mostrado o quanto é rica e diversificada a nossa língua (português brasileiro).Além de representar a continuação de um sonho do professor Nelson Rossi. Parabéns aos componentes do grupo, continuem!
Lindo demais esse trabalho. Como um cientista social acredito que isto facilitará muitas e muitas e muuuuuuitas pesquisas. Dessa forma pdemos ter um melhor domínio (no sentido de controlar mesmo) da ecologia linguística de nosso país. Nota 10…mil
Língua Pátria de Muitas Pátrias
Silêncio, novos velhos do Restelo:
Aves Canoras, fúteis e agoirentas,
Licenciadas bichas e proxenetas,
Juízes, “psis” e filólogos de grelo.
Intelectos estáticos ou babuínos,
Provedores do cotão umbilical.
Ignorantes que o idioma se quer tal
Qual fibrosa frescura de citrinos.
É tempo de traçar novos destinos.
Fazer que o imenso mar profundo,
Todos nos una sob a mesma bandeira:
A Língua; é de todos os caminhos,
O único que afirmará no Mundo,
A pátria luso-afro-brasileira.
Luís Eusébio