Depois da Alstom e Gamesa, implantação de unidade fabril da GE aquece debate sobre matriz energética no estado. Com investimentos de R$ 45 milhões e geração de aproximadamente 80 empregos diretos, empresa americana irá produzir 200 turbinas eólicas nos próximos dois anos
Por Luana Assiz
luanassiz@gmail.com
A americana General Electric (GE) acaba de assinar com o governo baiano um protocolo de intenções para a implantação de uma unidade fabril que produzirá 200 turbinas eólicas. Com investimentos de R$ 45 milhões e geração de aproximadamente 80 empregos diretos, a GE será a terceira empresa a investir na produção de aerogeradores no estado, onde já estão presentes a Alstom e a Gamesa, dois grandes fabricantes de turbinas eólicas instalados no Pólo Industrial de Camaçari.
O economista e mestre em energia, José Sérgio Andrade, ressalta a importância da presença do fabricante em território baiano. “As peças fabricadas e montadas na Bahia tornam o estado um pólo importante, que, inclusive, vai produzir aerogeradores que serão instalados em outros estados, como Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Ceará. Isso cria a possibilidade de atrair novas fábricas ”, avalia.
A energia eólica é a principal fonte renovável da Bahia, segundo maior estado em potência contratada nos leilões de energia eólica do governo federal. Isso se deve ao leilão nacional de energia eólica de 2009 motivado pela crise mundial do ano anterior. Neste leilão, foram aprovados 71 projetos, distribuídos entre os estados do Rio Grande do Norte (23 projetos), Ceará (21), Bahia (18), Rio Grande do Sul (8) e Sergipe (1). Isso tornou os preços dessa matriz mais baratos e impulsionou a realização de novo leilão de energia eólica em 2010. Os estados que executarão a maioria dos projetos aprovados nos dois anos são Rio Grande do Norte (1.064,6 MW) e Bahia (587,4 MW). Na Bahia, em 2009, 64,9% da oferta interna de energia provieram das fontes não renováveis, com destaque para o petróleo e seus derivados (51,3%) e o gás natural (13,6%).
Das renováveis, os destaques foram a participação de 11,7% da energia hidráulica e elétrica, seguida pela lenha e carvão vegetal com 10,1%. Quanto à demanda, 62% da oferta interna energia atenderam aos diversos setores socioeconômicos, principalmente, o industrial (19,2%), transportes (18,7%) e o residencial (12,4%), segundo os dados do Balanço Energético publicado pela Seinfra. Ainda segundo o documento, a participação da energia hidráulica e elétrica assinalou crescimento de 9,5%, em 1993, para 11,7% em 2009, ampliando sua oferta em 69,9%. É sobre esse último destino que se desenvolvem os estudos do professor da Universidade Salvador e Doutor em Política Energética pela Universidade de Londres, Osvaldo Soliano, que tem como uma de suas linhas de pesquisa a avaliação da viabilidade técnica e econômica da geração de energia elétrica com fontes renováveis de energia.
Soliano afirma que não é possível mensurar as fontes utilizadas para o abastecimento elétrico no Estado porque “algumas das empresas que operam na etapa da transmissão da energia para a concessionária usam fontes que não são as hidrelétricas sem que a Coelba saiba, então, não há um controle disso. Sabemos que das fontes renováveis, a eólica é a principal por causa dos leilões. Como a compra da energia é feita anteriormente, quando há um ano seco para as hidrelétricas, usa-se as fontes que estão disponíveis”, justifica.
A região central da Bahia, onde está a Chapada Diamantina, é a área mais rica do Estado para o desenvolvimento das usinas de energia eólica. “Precisamos incentivar o governo federal a construir grandes linhas tronco no estado pra escoar essa energia porque vamos ter leilões de eólica e não poderemos vender energia para o sistema interligado por falta de linha de transmissão”, afirma o superintendente de energia e comunicação da Secretaria Estadual de Infraestrutura – Seinfra, Silvano Ragno, cuja pasta enviou este ano uma carta ao Ministério de Minas e Energia solicitando os investimentos citados.
Outras fontes - Uma rede cooperativa de pesquisa formada por Coelba, Universidade Salvador, Universidade Estadual de Feira de Santana e Universidade Federal da Bahia – a GaseifBa – atua em conjunto na investigação das possibilidades do uso da tecnologia de gaseificação de biomassa para a geração de energia elétrica no estado. O grupo prevê o uso de fontes como a cana-de-açúcar, óleos vegetais (dendê e mamona), resíduos agrícolas (arroz, castanha de caju e coco da baía) e resíduos florestais.
Juntas, essas matérias-primas têm um potencial máximo de geração de 310,75 MW de energia. O maior potencial de rendimento é das oleaginosas, que respondem por 43% da capacidade. No que diz respeito à energia solar, a única experiência em curso na Bahia é desenvolvida pela Coelba, que mantém desde 2005 Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes (SIGFI), com painéis fotovoltaicos. Essa foi a alternativa encontrada para cumprir o programa obrigatório do governo federal para a universalização do uso da energia elétrica, o Luz Para Todos.
Outra razão para o uso do sistema é que a Bahia possui a maior população rural sem energia elétrica do país, com cerca de 430 mil domicílios, e a baixa densidade demográfica em algumas regiões e a longa distância das redes elétricas dificultam a implantação de redes de distribuição convencionais devido ao elevado custo financeiro das obras.
Energia nuclear - A redução das emissões de gases de efeito estufa é um dos argumentos utilizados para a defesa das energias renováveis, principal fonte do abastecimento elétrico na Bahia. A possibilidade de o Estado abrigar o complexo de usinas nucleares que serão instaladas no Nordeste divide opiniões de especialistas e alguns deles argumentam que, ao contrário da concepção geral, as energias renováveis causam graves impactos ao meio ambiente.
As discussões levantam principalmente duas questões: o Estado precisa dessa fonte energética? É vantajoso assumir os riscos dessa indústria? Para o professor do Instituto de Física da Ufba e doutor em Física da Atmosfera, Alberto Blum, “as usinas nucleares são seguras, apesar de estarem expostas a falha humana e acidentes naturais”. Em resposta à insegurança gerada pelo acidente no Japão, ele explica que a usina de Fukushima foi projetada para resistir a um terremoto de até 8 graus na escala Richter e o que aconteceu em março superou em quase um grau a sua capacidade.
O professor Doutor, Osvaldo Soliano, alerta para os riscos financeiros de um desastre como este: “os prejuízos causados em Fukushima somam 600 bilhões de dólares, o que corresponde a 30 usinas Belo Monte. Uma vez que acontece o acidente, o governo tem de assumir os custos, cuja proporção equivale a quase um quinto do PIB do Brasil”, pondera. O discurso oficial é mais otimista. De acordo com Silvano Ragno, “qualquer energia tem riscos, portanto, a diversificação é importante para os períodos em que uma das fontes estejam deficitárias”.
Ele assegura que “o projeto [de exploração de energia nuclear] será encaminhado ao Legislativo para aprovação e só será autorizado caso a segurança seja 100%” Blum explica que a usina de Belo Monte pode produzir 11 milhões quilowatts-hora no ápice das cheias dos rios. “Entretanto, a vazão das águas pluviais é muito flutuante, então, precisamos desenvolver outra tecnologia. Temos de questionar o seguinte: em 2040, será que a Bahia vai precisar de energia nuclear? Não podemos perder o bonde. É importante ter em mente que Chernobyl foi uma irresponsabilidade do governo soviético”, defende. “Há 540 usinas nucleares no mundo e não vemos tantos acidentes. Temos dez anos para projetar a usina e quinze para construir, então, em 2040 já teremos novos materiais e tecnologias de segurança”, sustenta.