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Atualizado em 13 DE setembro DE 2012 ás 10:13

O controle das doenças

O Brasil é composto por 27 unidades federativas, 5.565 municípios; mais de 190 milhões de pessoas. Como acompanhar o que acontece com a saúde dessa população? Saber as doenças mais perigosas, qual população é mais vulnerável a elas, e as ações necessárias para seu controle? Através de um grande banco de dados. Essas redes de informações fornecidas por notificações, investigações diárias e pesquisas constituem a ferramenta mais importante da vigilância epidemiológica, área que faz o controle de quais doenças nos colocam em risco. Isso inclui as doenças não transmissíveis, como hipertensão, obesidade e diabetes; doenças infecciosas, em sua maioria, mais controladas e menos causadoras de mortes, mas com desafios, como a dengue; e até as mortes por violência e acidentes, a terceira causa de mortes no país.

POR INÊS COSTAL*

Ações de prevenção são desconhecidas

“O SUS em geral é para receber porrada, principalmente o que falha na área da assistência, porque claro que quem está doente precisa do atendimento e o SUS inda não tem a capacidade de fazer um atendimento de qualidade para todos. Mas o que o sistema faz muito bem, que é evitar que as pessoas adoeçam, isso não aparece como SUS”, afirma a pesquisadora Glória Teixeira, docente do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba.

Você conhece o SUS?

O maior impasse do SUS hoje

A vigilância do mundo

O entrave do modelo de assistência à saúde

As primeiras ações em vigilância epidemiológica já eram realizadas no início do século XX, mas não eram chamadas assim. Febre amarela, peste e varíola eram o foco das ações nesse período. Hoje, com o desenvolvimento da área, faz parte das ações de vigilância epidemiológica a análise e interpretação dos dados, a recomendação e execução das medidas de controle e a divulgação de informações.

Se de início as campanhas sanitárias eram formuladas e executadas pelo governo federal, a criação do SUS, que tem como princípio a descentralização de ações, possibilitou a expansão da estrutura. Hoje, quase todos os municípios fazem vigilância epidemiológica com suas próprias equipes. A pesquisadora Glória Teixeira, docente do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, afirma que essa foi uma mudança fundamental. “Além da maior quantidade de profissionais de saúde que estão trabalhando, a doença acontece no município. A estrutura está muito mais próxima do acontecimento do que antes quando era centralizado”, pontuou.

A notificação compulsória é um dos instrumentos mais importantes da vigilância epidemiológica. A partir dela as equipes de vigilância farão a investigação: contato com o paciente, visita a casa ou hospital e, caso seja necessário, a confirmação laboratorial do caso. Rosa Helena, sanitarista do Distrito Sanitário da Liberdade, afirma que nem sempre o trabalho é conhecido e bem recebido. “Há pessoas que gostam de dizer que não usam o serviço público, que não precisam. E se recusam a dar informações que serão importantes para o trabalho por achar que não tem nada a ver com elas”, comentou.

Programa de Imunização é internacionalmente reconhecido

A vacinação tem sido a causa da vitória brasileira sobre muitas doenças. Em 1979 foram registrados 2.564 casos de pólio. Com a vigilância e uma alta cobertura de vacinas, os números foram reduzidos. Houve uma nova epidemia em 1986, mas a partir de 1988 a doenças foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Boa parte das doenças hoje extintas ou raras no país, como difteria, varíola e rubéola congênita, continuam assim porque a vacinação continua. O Programa Nacional de Imunização (PNI) é referência em todo o mundo e já organizou ou ajudou campanhas de vacinação no Timor Leste, na Palestina e na Cisjordânia.

Atualmente, 77% das vacinas usadas no PNI são produzidas no Brasil. Na década de 90, cerca de 60% das vacinas eram importadas. O Instituto Butantan e a BioManguinhos, que faz parte da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), são os grandes produtores nacionais. Ambos são responsáveis pela produção de vacinas contra hepatite B; difteria, coqueluche, tétano, raiva, febre amarela, pólio, influenza sazonal, entre outras.

O sucesso da imunização no controle das doenças torna a estratégia uma das mais eficazes. As vacinas contra catapora e HPV são duas das que estão sendo estudadas para adoção no calendário de vacinação. A pesquisa em vacina contra dengue deve iniciar os estudos esse ano e, segundo o Instituto Butantan, a estimativa é que esteja disponível para a população em três anos.

O controle das doenças infecciosas ainda é desafio

Mesmo com a grande diminuição do número de mortes causadas por doenças infecciosas esse ainda é um grande problema de saúde pública no Brasil e consome cerca de 13% dos recursos para a saúde. As ações em algumas doenças são consideradas vitórias, como a poliomielite e a difteria, mas outras continuam um desafio: a dengue e a leishmaniose visceral.

Com a reintrodução do vírus Aedes aegypti no Brasil, na década de 70, há epidemias de dengue desde 1986. “Temos perdido essa batalha porque precisamos que o mosquito inexista no ambiente urbano e ele está cada vez mais adaptado. O programa é caro e tem baixa efetividade. Mas isso também ocorre em outros países. Está sendo impossível reduzir a população de vetor a níveis incompatíveis com a transmissão”, explica Teixeira. No caso da leishmaniose, o princípio é o mesmo. Em área urbana, o cão é a principal fonte da doença que é transmitida por duas espécies de insetos conhecidos popularmente como mosquito palha e birigui.

O novo cenário: doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e violência

A população envelhece mais, aumenta o número de idosos e o perfil epidemiológico da população muda. Nesse cenário, as DCNTs se tornam mais frequentes, hoje são a principal causa de morte no país, e isso exige uma mudança nas estratégias de vigilância epidemiológica. O impacto da violência também tem sido objeto das ações da área. O aumento nos índices dos homicídios, da violência no trânsito e a violência doméstica contra mulheres, idosos e crianças tem impacto na prestação dos serviços de saúde e na qualidade de vida população.

A vigilância ainda está em processo de estruturação nessas duas áreas. De início, várias pesquisas, inquéritos e monitoramentos tem revelado dados necessários para subsidiar as ações no SUS. Um dos objetivos é incentivar e propiciar meios para a mudança dos comportamentos de risco, como o tabagismo, a alimentação inadequada e o sedentarismo para as DCNTs e o consumo álcool e outras drogas.

*Inês Costal é Jornalista e Pós-Graduada em Jornalismo Científico pela Faculdade de Comunicação da UFBA

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