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Atualizado em 14 DE junho DE 2011 ás 02:24

Pesquisa aponta consequências das mudanças climáticas na Bahia

Cenário de aumento de temperatura e redução de precipitação não é animador e pode levar rios baianos à intermitência

Por Mariana Almofrey*
mariana.almofrey@hotmail.com

Você já parou para pensar, como estará a Bahia no final deste Século? Em quais condições climáticas viverão seus filhos e netos? Visando responder estas e outras perguntas o pesquisador do CNPq/ CT Energ e do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Fernando Genz – contando com a colaboração do professor Clemente Tanajura do Instituto de Física – desenvolveu o projeto de pesquisa “Mudanças Climáticas e Recursos Hídricos na Bahia”.

A cada novo relatório divulgado anualmente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), as mudanças climáticas e suas consequências voltam a preocupar a sociedade. No entanto, as alterações no clima, que são divulgadas normalmente, são de caráter quase continental e os efeitos sobre os recursos hídricos são pouco conhecidos na escala regional.

Em 2007, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) utilizou um modelo regional de clima para detalhar os cenários de mudança do clima no futuro da América do Sul. Foram utilizados modelos de simulação matemática onde a variável que dispara essas alterações climáticas são as concentrações de gases do efeito estufa e outros aerossóis. “O modelo é alimentado com diversos cenários de emissões, que vão desde os mais otimistas, que apontam os anos entre 2060 e 2070 como datas de redução na emissão de gases, e outros mais pessimistas, que continuam fazendo projeções de emissões como as que existem atualmente”, explica o pesquisador Fernando Genz.

Com base nestes dados, o projeto analisou os resultados do modelo regional para o estado da Bahia no período de 2070 a 2100. Com o desenvolvimento do projeto, os pesquisadores constataram que a tendência para a Bahia é muito parecida com a tendência global: aumento da temperatura do ar e redução da precipitação.  “Identificamos que no litoral o aumento da temperatura seria menor e quanto mais para o interior do estado, maior o aumento. Já temos dados mostrando que não é só em Salvador, também em Caravelas e Aracaju, pontos do litoral que tem a mesma tendência de aumento da temperatura do ar da década de 1950 para cá”, afirma Genz.

Gráficos mostram as previsões de aumento de temperatura e redução de precipitação num cenário futuro de altas emissões de gases estufa


O projeto também quantificou os impactos sobre as vazões de três bacias hidrográficas representativas da Bahia – para o cenário atual e para os cenários do futuro. “Pegamos essas projeções de aumento de temperatura, redução de precipitação, alterações de vento e de umidade relativa do ar e fizemos simulações com modelos de bacias hidrográficas para ver quais seriam os impactos nos rios”, explica o pesquisador. Os resultados fazem referência ao Rio Pojuca – no Litoral Norte, mais próximo a Salvador -, Rio Paraguaçu – rio responsável por 60% do abastecimento de água da Região Metropolitana, através da Barragem de Pedra do Cavalo – e Rio Grande – localizado na região Oeste do estado.

Analisando o impacto das mudanças climáticas nas vazões do rio Pojuca, no Litoral Norte, percebe-se uma redução da precipitação nos cenários futuros que se acentuam quando são consideradas alterações na temperatura e na evaporação – o que deixa o rio em uma condição de quase intermitência. “Os rios são altamente dependentes da quantidade de chuva. Para o cenário mais pessimista, as projeções apontam que a região que mais sofreria alteração seria o Litoral Norte, que poderia chegar até 70% de redução de precipitação”, afirma Fernando Genz. A região Oeste seria a menos impactada, o Rio Grande teria entre 20% e 30% de redução das vazões em média no período de 2070 até 2100. Já o Rio Paraguaçu pode ter uma redução de 50% até 70% das vazões – o que também é expressivo. “Não queremos dizer que vai acontecer exatamente isso. São cenários, mas eles têm apontado para a redução de chuva na Bahia e no Nordeste”, esclarece Genz.

A redução da disponibilidade de água na Bahia decorrente do aumento de temperatura e da redução de precipitação, o que acarretaria em sérios problemas para abastecimento humano; para agricultura e toda atividade que depende de água. “Nós ainda não estudamos e não temos dados numéricos, mas podemos dizer que, se um determinado rio tem menos água, teremos mais problemas na qualidade da água existente neste rio, porque o esgoto – que na maioria das cidades não é tratado – vai ficar em maior concentração”, afirma Genz. “Tudo que já deveríamos estar fazendo hoje e não foi feito, como o combate à poluição da água, a proteção das nascentes e matas ciliares, vai agravar esse cenário no futuro, vai ficar pior”, conclui o pesquisador.

Antes do desenvolvimento do projeto, não havia nenhum tipo de quantificação dessas alterações em termos de disponibilidade hídrica no estado. “O projeto teve uma alta motivação para gerar essas informações. Havia indícios de redução da precipitação, mas onde? Quanto? E qual o impacto? Não tínhamos essas informações”, afirma Fernando Genz.

O pesquisador revela, que a medida em se tem essa quantificação e localização das alterações, é possível antecipar alguns dos problemas que virão ocorrer e buscar amenizá-los.

Um dos resultados efetivos da divulgação dos resultados do projeto foi que os pesquisadores foram convidados pelo Conselho de Desenvolvimento Socioeconômico do Estado (Codes) para participar e gerar informações para o Plano de Desenvolvimento da Costa das Baleias, no extremo Sul da Bahia. “Os Planos de Bacias, os Planos de Saneamento e os planos em geral de desenvolvimento até então não estavam considerando essa nova situação climática. Estão sendo feitos planejamentos como se a situação de hoje fosse a mesma de 30 anos atrás”, afirma Genz. O pesquisador analisa essa primeira participação no Plano de Desenvolvimento da Costa das Baleias como um passo importante. “É difícil para nós cidadãos e também para um gestor público quando você chega e fala algo como, por exemplo: ‘o Rio Pojuca pode virar um rio de semiárido, virar um rio intermitente’. Isto é uma coisa assustadora e, às vezes, difícil de absorver porque a estamos falando de 2070 em diante. Nós vamos começar a trabalhar com cenários mais próximos para que o susto não seja tão grande”, acrescenta.

Os caminhos de desenvolvimento socioeconômicos escolhidos pela sociedade em seus territórios ou cidades têm consequências nas emissões dos gases gerados. “Tudo o que se escolhe como projeto de desenvolvimento para um lugar vai afetar nessa direção da emissão e da concentração dos gases estufa e aerossóis. Por exemplo, se você optar por manter uma cidade onde existem muitos carros, como agora, do que por um transporte de massa, com outro tipo de fonte de energia que gera bem menos gases, as emissões vão afetar o clima e este vai exercer impacto”, afirma Fernando Genz.

Os impactos podem ser referentes aos recursos hídricos, à produção de alimentos, a biodiversidade e a saúde humana. “Já existem relatórios que falam de migrações humanas em função das mudanças climáticas e isso vai afetar também o desenvolvimento socioeconômico. É um ciclo e o cenário para a Bahia não é nada animador”, conclui o pesquisador.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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