Cinco milhões de litros produzidos por ano dá destaque nacional e internacional ao Vale do São Francisco e leva Ufba a estudar qualidade do vinho baiano
Joseane Rosa*
anejorosa@gmail.com
Mesmo com o destaque internacional, atribuído ao Vale do São Francisco por produzir aproximadamente cinco milhões de litros de vinho por ano, bastou o reconhecimento dentro do país para despertar o interesse da Universidade Federal da Bahia (Ufba) para estudar a qualidade do vinho produzido e a microflora da uva cultivada na região. O projeto mais recente da pesquisadora Maria Eugênia de O. Mamede tem por objetivo isolar as leveduras presente na microflora da uva cultivada com o intuito de avaliar o potencial fermentativo das leveduras.
Segundo Maria Eugênia, que tem doutorado em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o estudo pretende traçar o perfil da microflora da região do São Francisco, onde há o cultivo de uvas para a vinificação (transformação da uva em vinho). O resultado esperado é conhecer a microbiota, que é o conjunto dos microorganismos que habitam um ecossistema, principalmente leveduras e como elas se desenvolvem no período de fermentação. Com isto, a pesquisa pretende ainda, preservar e valorizar a microflora da região.
As vinícolas não usam a fermentação espontânea, justamente para evitar problemas de fermentação. Uma vez conhecido o perfil da microbiota, experimentos com a fermentação espontânea poderão ser vistos com outros olhos.
Atualmente, se usa uma levedura comercial (Saccharomyces cerevisiae variedade bayanus) para produção de vinho, mas não se sabe se esta levedura é apropriada para produção de todos os tipos de vinho e esta conduta diminui a possibilidade de classificação de vinhos de determinadas regiões, uma vez que, praticamente todas as vinícolas, das mais variadas regiões do país, usam apenas um tipo de levedura.
De acordo com Maria Eugênia, os vinhos do “São Francisco” são diferenciados pelas características de solo e clima da região, que favorece a produção de vinhos tintos. “Pretendemos mostrar quais são as características dos vinhos e poder contribuir para a indicação geográfica destes produtos e poder criar ou sugerir um vinho diferenciado com características específicas da região.
Para o enólogo[1] da Embrapa Semiárido, Giuliano Elias Pereira, a capacidade da região é ilimitada e os fatores geoclimáticos influenciam na qualidade e produção. “Existem muitas áreas irrigáveis, altas temperaturas, insolação o ano todo e água disponível para a irrigação, estes fatores permitem com que uma planta possa produzir de duas a três safras por ano, dependendo do ciclo de cada variedade”, diz.
Empregos e consumo
Crescendo em importância, tanto no mercado nacional, quanto internacional, o vinho do São Francisco influencia na geração de empregos na região e no aumento de consumo entre os baianos. Para Giuliano Elias Pereira, a viticultura[2] na região fez com que a população local passasse a consumir mais vinhos e permitiu melhores condições sócio-econômicas para a população. “Esta atividade permitirá uma maior procura e maior fluxo de turistas, o que diretamente aumentará a oferta de empregos, não somente no setor vitivinícola[3], mas em outras atividades, como rede de hotéis, restaurantes e a construção civil”, prevê Pereira.
Processo de isolamento – O isolamento da levedura, que irá acontecer segundo uma metodologia adequada, possibilitará, segundo a pesquisadora, encontrar uma especificidade no produto, diferenciado dos outros vinhos nacionais. “Nós fazemos o isolamento no laboratório, pegamos uma amostra de uva, esmagamos, depois colhemos uma quantidade desse caldo e fazemos dele um meio de cultura, que é próprio para crescimento das leveduras. Depois disso, identificamos as colônias e as leveduras”. Explica Maria Eugênia.
Glossário
[1] Enólogo - Profissional graduado que cuida de todo o processo de vinificação (processo que transforma a uva em vinho). É também o responsável por decidir quando o produto será vendido.
[2] Viticultura - Cultura das vinhas.
[3] Vitivinícola - Região reconhecida por sua capacidade de produção de uvas e vinhos, sendo reconhecidas por lei ou não. Muitas vezes tem seus próprios estatutos.
*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA – Facom