Associação baiana que luta por direitos dos albinos é primeira no Brasil a debater políticas públicas para portadores do distúrbio. A iniciativa serviu de modelo para outra entidade semelhante no país
Por Inês Costal
costal.carol@gmail.com
O Programa Estadual de Atenção Integral às Pessoas com Albinismo, oficialmente apresentado em janeiro de 2011, é o primeiro voltado aos albinos do país. Ele é resultado de intensa divulgação dos problemas sofridos pelos albinos e de cobrança por soluções, promovidas pela Associação das Pessoas com Albinismo na Bahia (Apalba). O grupo de portadores de albinismo, criado informalmente, percebeu que as necessidades sociais coletivas eram grandes e se tornou um exemplo da participação popular na gestão da rede pública de saúde.
O programa de saúde para os albinos, um dos passos para a implementação de uma política para o grupo, foi desenvolvido em uma parceria entre a Apalba e as secretarias Estadual e Municipal de Saúde. A divulgação da condição e das necessidades dos albinos, a provocação social ao debate, e a busca de diálogo com setores essenciais na estruturação de políticas públicas pela Apalba, levaram a imposição da discussão sobre as necessidades dos albinos em diversas esferas decisórias, inclusive na rede pública de saúde.
Atenção à saúde – Como não há números sobre os albinos no estado, um dos primeiros objetivos do programa é construir o perfil epidemiológico dessa população na Bahia. Atualmente, os únicos números disponíveis são os informados pela Apalba: 341 pessoas estão cadastradas na entidade, que está presente em 36 dos 417 municípios baianos.
As necessidades mais imediatas, como a distribuição de protetor solar, foram trabalhadas inicialmente – a Sesab fornece protetores com fator de proteção FPS 20 aos municípios do estado que não o distribuem e tem população albina. Paralelo a isso, a política de saúde deve garantir as consultas na rede, principalmente de dermatologia e oftalmologia, e as demais frentes de cuidado da saúde.
Outro ponto discutido é que, se uma criança nasce com albinismo, ela precisa ser acolhida pela atenção básica e deve-se pensar qual o processo de inclusão dela na rede de saúde. Nívia Chagas, coordenadora de promoção da equidade da Diretoria de Gestão do Cuidado (DGC/Sesab), chama a atenção para a importância do apoio à família.
Segundo Chagas, “o que acontece hoje é que, quando a criança albina sai do hospital, nem o médico diz o que ela tem. Isso causa sofrimento na família, além do conflito por se tratar normalmente de mulheres negras que dão à luz a crianças brancas, o que provoca várias interpretações que colocam a mulher numa situação de constrangimento”.
A política visa contemplar ainda campanhas que esclareçam a população e as próprias famílias com pessoas albinas. “Está sendo pensada uma política que inclui a divulgação do que é albinismo de forma que as pessoas se apropriem da existência dessa doença, do tipo de sofrimento que ela traz e de como está essa população e se os profissionais de saúde estão preparados para atendê-la”, diz Chagas.
Questões como o estímulo às pesquisas sobre o impacto do albinismo no ponto de vista sócio-antropológico, como a análise das relações sociais e do preconceito que envolve os albinos, também fazem parte da política em discussão.
A elaboração da política pública para a população albina está sendo realizada com base no modelo da política pública para o grupo de pessoas com anemia falciforme. No caso desta, já estão sendo criados centros de referência em todo o estado. “O passo seguinte é apresentar o programa para os colegiados regionais, responsáveis pela implementação de políticas. Ao todo, são 28 colegiados. Isso deve ser feito no segundo semestre deste ano”, prevê Chagas.
Apalba: sociedade civil em organização
Falta uma sede e a expansão para outros municípios. A Apalba fica numa sala emprestada pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado da Bahia (Sindpec), anexo ao prédio da instituição. Com a Apalba, a população albina e a não albina recebe acima de tudo orientação.
Helena Machado, atual diretora da Apalba, explica que muitos albinos não conhecem seus direitos e serviços já disponíveis, como a distribuição do protetor solar e o acesso – no caso de visão subnormal que impeça o trabalho – ao Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social da Previdência Social e ao passe livre nos transportes públicos.
Outras informações são mais básicas e ainda mais importantes, como a que somente o uso do protetor solar não é suficiente. Além dele, devem ser usados chapéus, óculos escuros, roupas que cubram o corpo e sombrinhas.
Até 2009, a Apalba era a única entidade do grupo no país. Com o incentivo e a orientação da entidade baiana, foi criada uma associação em Mato Grosso. A diretora da Apalba afirma que um dos objetivos da associação é servir de exemplo para outras entidades: “Hoje, só quem tem política pública são os portadores de anemia falciforme, as outras patologias não tem. A Apalba está fazendo essa discussão, fazendo esse programa, para que outras entidades sigam esse modelo e tenham um centro de referência. O objetivo é servir de modelo para as organizações de outras patologias, começando com o albinismo”.
Albinismo
O albinismo é um grupo de distúrbios genéticos de pigmentação de causa hereditária, que impede a produção total ou parcial de melanina, pigmento que dá cor à pele. Ele acontece igualmente nas pessoas negras e brancas. O tipo mais comum em pessoas negras é o mais incidente na Bahia.
Os albinos têm pele branco-rosada, com pelo fino e amarelo e são extremamente sensíveis à luz solar, cuja exposição excessiva pode levar ao surgimento de lesões precursoras do câncer e o próprio câncer de pele.
Outros agravos comuns aos albinos são os relacionados à visão, como fotofobia ou sensibilidade excessiva à luz solar; estrabismo; nistagmo – movimentos involuntários do olho – e diversos problemas intensos de visão. Estes problemas resultam em um panorama que inclui a evasão escolar devido às limitações visuais e a discriminação no mercado de trabalho.
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