Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 11 DE novembro DE 2011 ás 11:54

Saber popular auxilia produção e difusão do conhecimento em climatologia

Pesquisa apresenta alternativas de métodos de ensino com foco na formação de professores e alunos através da observação de fenômenos climáticos. Previsão do tempo conta com a ajuda dos provérbios populares

Por Vinicius Carvalho*
vinicapital@hotmail.com

O que há de verdade nos ditados que costumamos dizer sobre o clima? Ou, em outras palavras, é possível encontrarmos em páginas de longos textos científicos sobre climatologia um pouco do que tradicionalmente dizemos sobre os fenômenos climáticos? Para o professor doutor Diego Corrêa Maia, do Instituto de Geociências da Ufba, sim. Esse é, na verdade, o ponto de partida da sua pesquisa que tem o objetivo de “demonstrar que o aprendizado dos ‘conteúdos climatológicos’ no ensino fundamental pode ser auxiliado através dos ditos populares”.

Todas as pessoas vivenciam e aprendem, no decorrer das suas vidas, as mais diferentes manifestações do que se costuma chamar de “sabedoria popular”. Os ditados populares são, sem dúvida, uma das mais lembradas. Sérios, zombeteiros, sarcásticos ou religiosos, os também chamados adágios são expressões cujo autor geralmente não se conhece, mas que transmitidas oralmente, perpetuam-se como parte de cada cultura. É o conhecimento do dia-a-dia, ao qual a Ciência se refere usando o termo “senso comum”.

A ciência e o senso comum, embora não sejam declarados opostos, estão tão bem separados pelo abismo entre os seus conceitos que não é raro encontrar os que acreditem que não há qualquer possibilidade de interação entre ambos. Para Diego, esse é o motivo de não ter levado adiante esse projeto de pesquisa em São Paulo, local onde morava e onde, segundo ele, há, ainda “um cientificismo muito incrustado, que não valida o conhecimento popular”. O pesquisador completa dizendo que, na Bahia, encontrou uma cultura científica que aceitou sua proposta de correlacionar áreas tão distintas do saber humano em prol da educação fundamental.

Para o professor, o panorama do ensino de Geografia no Brasil mostra que, durante anos, essa disciplina foi apenas uma ferramenta de treino de memorização e descrição, ou, na prática, “o conhecimento geográfico sendo repassado ao aluno de forma fragmentada e hierárquica, resultando no insucesso do processo de ensino e de aprendizagem”.

A proposta da pesquisa é, apresentar alternativas de métodos de ensino com foco na formação de professores e alunos através da observação de fenômenos climáticos com a ajuda da previsão do tempo fornecida pelos ditos populares. A pesquisa, entretanto, não deixa passarem despercebidos os chamados “atos de fé”, que são provérbios populares que preveem o tempo de forma equivocada. Pela existência desses, propõe-se precaução aos professores a fim de que não permitam que tais adágios se reproduzam como cientificamente confirmados. Os recursos disponíveis para financiamento da pesquisa variam de acordo com editais de fomento à produção científica.

Atualmente, Diego aguarda, até dezembro, a resposta de um edital do CNPQ para Ciências Humanas, através do qual pretende fazer com que o grupo de pesquisa disponha de materiais meteorológicos que viabilizem uma comparação dos ditos populares catalogados com a observação científica.

Para ratificar a importância da sabedoria popular na produção e difusão do conhecimento em climatologia, Diego evoca as raízes históricas da meteorologia. “Desde o início da civilização as observações das condições atmosféricas foram utilizadas para a sobrevivência da espécie humana”, diz um texto publicado na revista “Geografia, conhecimento prático”, de circulação nacional. Diego relembra que Aristóteles, considerado pai da meteorologia, se aproximava muito do que conhecemos como sabedoria popular hoje.

O antigo filósofo observava atentamente os fenômenos para chegar às suas conclusões. Similarmente, a sabedoria popular ensina a olhar o comportamento dos animais, da vegetação, a posição dos astros e as nuvens e, por fim, tal observação é expressa em um ditado. Por isso ninguém duvida de que depois de uma tempestade, vem a bonança.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

Notícias relacionadas

______________________

Bromélias detectam metais pesados no ar de Salvador e Rio de Janeiro

Um comentário a Saber popular auxilia produção e difusão do conhecimento em climatologia

  1. Vânia Lima disse:

    O importante de tudo isso é que todas as vezes em que saio de casa, minha mãe me diz se vai chover ou não, e eu obedientemente acato a voz da sabedoria.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *