Pesquisadores, representantes de instituições científicas do Brasil, Argentina e Benin, abordaram soluções em comum para superar barreiras na criação de novos produtos para a saúde.
* Mariana Alcântara e **Mariana Sebastião - Rio
Realizado em Niterói, entre os dias 3 e 6 de setembro, o I Encontro Vital para o Brasil sobre Animais Peçonhentos teve a presença de pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras. Para a mesa redonda intitulada “Ensaios Clínicos em Toxinologia”, as apresentações contaram com a participação dos pesquisadores Jean Chippaux, do L’Institut de Recherche pour le Développement – IRD, de Benin, África, Adolfo Roodt, da Facultad de Medicina, Universidad de Buenos Aires, e Benedito Barraviera e Carlos Antônio Caramori, ambos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquisa Filho (UNESP).
Em entrevista concedida para a Agência de Notícias Ciência e Cultura, da UFBA, o pesquisador da UNESP, Carlos Antônio Caramori, afirma que a possibilidade de trocar de experiências sobre o desenvolvimento de ensaios clínicos em toxinologia no Brasil e demais países, possibilitada pelo evento, permitiu que os pesquisadores discutissem soluções em comum para superar barreiras na criação de novos produtos para a saúde. “O mercado internacional nesta área é muito promissor e pode representar para o Brasil uma possibilidade imensa de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, repercutindo diretamente em crescimento industrial e econômico”, explica.
Segundo o professor, a pesquisa clínica está atualmente acoplada à indústria internacional de medicamentos, o que tornou deficitária a balança comercial brasileira neste campo, e isto representa um grande problema na assistência à saúde pública. Outros problemas apontados por ele são a precariedade de infraestrutura, a falta de recursos humanos qualificados, a ausência de setor de serviços especializados e a burocracia no sistema regulatório. Mesmo assim, pela sua riqueza natural, o Brasil apresenta um potencial praticamente inexplorado no desenvolvimento de medicamentos biológicos, fitoterápicos e produtos oriundos de toxinas.
Também entrevistado pela Agência Ciência e Cultura, Benedito Barraviera, do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos – Unesp, também concorda que o intercâmbio de experiências sobre o assunto no I Encontro Vital para o Brasil sobre Animais Peçonhentos é de suma importância. “Foi a primeira vez que se convidou uma mesa redonda de nível internacional para discutir o assunto”, afirmou.
O pesquisador explicou que é necessário conscientizar os cientistas da importância de transformar as descobertas em verdadeiros produtos para a população. Isso porque produtos gerados e considerados como não rentáveis não fazem parte do escopo dos laboratórios farmacêuticos, e a consequência disso é que, mesmo que sejam estratégicos para a população, não sairão do laboratório. “Os reflexos estão apenas iniciando. Temos muito por fazer, e a conscientização de todos é o primeiro passo”, concluiu.
A experiência argentina foi trazida por Adolfo Roodt, da Universidad de Buenos Aires. O pesquisador explicou que a sua palestra tratou das pesquisas de laboratório realizadas sobre os antivenenos e as utilidades e limitações do seu uso terapêutico em casos de acidentes. Roodt ressaltou a importância de trazer a experiência para ser discutida com pesquisadores brasileiros. “O Brasil é um exemplo a respeito da investigação sobre esses temas e sobre tudo o mais a respeito da produção de antivenenos e da atenção a pacientes. Sempre aprendemos muito com os colegas do Brasil, tanto do ponto de vista técnico e científico, quanto médico e assistencial”, afirmou.
* Jornalista, editora-chefe da Agência Ciência e Cultura e Mestre em Cultura e Sociedade (UFBA)