Hormônio reduz critérios de avaliação racional do parceiro
Por Cláudio Bandeira
cafbandeira@gmail.com
Você é um apaixonado; use as asas de Cupido e voe mais alto que os seres comuns, escreveu William Shakespeare em Romeu e Julieta. Estar apaixonado é muito mais do que viver um momento mágico a dois. Atualmente, a ciência sabe que as asas do Cupido dependem de reações químicas das endorfinas (um tipo de hormônio) em nosso cérebro para alçar voo. A paixão causa um turbilhão de emoções, muitas vezes contraditórias e volúveis e que podem levar a um “embaçamento” da visão crítica do outro, fazendo com que a mágica vire pesadelo.
Muitos são os exemplos das armadilhas da paixão, como a dos relacionamentos que se evaporam rapidamente. Basta lembrar os casamentos do jogador Alexandre Pato e Stephany Brito e o da atriz Deborah Secco e Roger Flores, que duraram menos de um ano. Também o misterioso caso do desaparecimento da ex-modelo Eliza Samudio, ex-amante do goleiro do Flamengo Bruno, que a médica fisiologista Cibele Fabichak, especializada em neurobiologia do amor, define como envolvimento irracional.
Autora do livro Sexo, Amor, Endorfinas & Bobagens (Editora Novo Século), ela explica que a paixão, fase inicial do amor, é um estado alterado do cérebro, em que um coquetel de hormônios (as endorfinas) e de outras substâncias provoca euforia, intensa busca por satisfação e sensação indisfarçável de felicidade.
É aí onde mora o perigo: morar junto precocemente, comprar um imóvel junto, emprestar dinheiro para o parceiro ou até engravidar sem planejamento podem ser exemplos de equívocos cometidos por casais submersos nos hormônios da paixão, comenta.
Características - Entre os sinais característicos da paixão, estão euforia, intensa busca por satisfação sexual, sensação indisfarçável de felicidade, respiração acelerada, pensamentos obsessivos, a focalização insistente somente nas qualidades do ser amado.
Os estudos indicam que isso ocorre em função de certos hormônios e substâncias que “ligam” áreas cerebrais do prazer e “desligam” algumas áreas do julgamento crítico. A endorfina – um tipo de opioide – é liberada no cérebro em grandes quantidades durante a paixão e produz uma sensação de prazer e relaxamento.
Este mesmo estado inibe outras regiões que reduzem o discernimento crítico sobre o ser amado, explica a médica. “O cérebro nos engana e cria uma percepção irreal do outro, em que defeitos não existem, o medo do desconhecido é drasticamente reduzido, e os critérios de avaliação racional do parceiro estão muito diminuídos”, alerta a especialista.
Diminuir as expectativas ajuda a ver melhor o outro
O antídoto para as loucuras da paixão, sugere Cibele Fabichak, seria reduzir racionalmente as expectativas enquanto se busca o conhecimento do outro. A saída para o indivíduo apaixonado é não perder de vista o que se passa em seu corpo, onde “o trio – sexo, paixão e endorfinas – pode levar a desfechos trágicos e até mortais”.
É importante trazer a racionalidade para dentro de um momento irracional, fazer um check-list para poder decolar com segurança. “As expectativas são criadas cumulativamente no decorrer da vida. Criam-se modelos futuros de candidatos a paixão, o ser perfeito”. Ela lembra que em alguns países orientais os casamentos iniciam-se sem o conhecimento prévio do casal, que se relaciona sem paixão. Apesar disso, estudos revelam que entre os casais indianos, que se encontraram dessa forma e vivem há mais de 20 anos juntos, o contentamento é maior do que o verificado na sociedade ocidental. “Eles entram no relacionamento com zero por cento de expectativa e vivem uniões duradouras”, afirma.
Deste lado do mundo, os estragos se multiplicam. “No caso do goleiro, Eliza parece que vivia uma paixão obsessiva por Bruno, que provavelmente fez com perdesse seu senso crítico e se apaixonasse por uma pessoa de caráter um tanto duvidoso. Outro caso é o da advogada Mércia Nakashima, que talvez contenha componentes deste tipo de distúrbio. Ambos os casos estão sob investigação da polícia e não nos cabe julgar. O que faço é uma reflexão, utilizando a minha experiência profissional”.
A especialista lembra que muitos apaixonados já sofreram por não enxergar os defeitos do ser amado. “Por isso acho que vale a pena meditarmos um pouco mais sobre esse turbilhão de emoções e hormônios com que convivemos diariamente, buscando conhecer melhor a química da paixão, para fazermos boas escolhas em nossa vida”, aponta.
Gostei muito do artigo, é muito verdadeiro, conheci alguem assim.