Divulgação científica e atividades artísticas e culturais em defesa da universidade pública marcam a primeira edição do #OcupaIHAC, projeto de comemoração dos 11 anos do instituto
POR GIOVANNA HEMERLY*
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Rodas de conversa, aulas abertas, jogos, cine debate, performances entre muitos gritos de luta e resistência. No atual contexto de cortes de verbas e ameaças às universidades públicas brasileiras, a celebração de mais de uma década de existência do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) veio acompanhada de atos de ocupação e defesa. Foi através do evento #OcupaIHAC, que acontece até o fim deste mês de novembro, que estudantes, professores, servidores técnicos e comunidade externa promoveram e participaram das ações realizadas no espaço do prédio sede do instituto, cujo projeto de construção inicial previa o término da obra para 2012, mas até hoje não foi concluída.
Segundo os organizadores do evento, o objetivo das ações era justamente dar visibilidade ao que está sendo produzido pela comunidade acadêmica enquanto suscita reflexões e protestos acerca dos obstáculos que ameaçam a continuidade da universidade pública, gratuita e de qualidade. “A intenção era não só celebrar os 11 anos do instituto, que se completaram no dia 3 de novembro, mas também fazer uma espécie de um posicionamento com relação a demora da inauguração do prédio novo do IHAC e lançar luz sobre o momento que a universidade tem vivido”, explicou o professor de humanidades Leandro de Paula, que ajudou a organizar o projeto.
A ideia surgiu após a provocação do diretor do instituto, Messias Bandeira, para que a comissão organizadora, formada por professores e pelo Núcleo de Extensão, Comunicação e Cultura (NEXT), pensasse em uma programação diferente do que já havia sido feito em anos antecedentes, contemplando desta vez os movimentos de ocupação que vêm ocorrendo nos espaços acadêmicos.“Não era exatamente só uma celebração, mas era também pensar em atividades que, de algum modo, traduzisse essa mobilização da comunidade do IHAC”, revelou Leandro de Paula.
Contudo, longe de limitar o evento apenas à comunidade acadêmica, o Ocupa IHAC buscou também integrar o público de fora da UFBA com as atividades realizadas, buscando afirmar o papel da universidade no compromisso com o desenvolvimento humano e social, desconstruindo a ideia do ensino superior gratuito como apenas mais gasto para os cofres públicos. Para que houvesse ainda mais integração, a organização do evento optou por manter a grade de programação aberta para que todos pudessem participar não só como ouvintes, mas também encaminhando propostas de atividades que seriam realizadas no vão livre da sede em construção.
Além disso, trazer às ações para o espaço externo possibilitou o evento ser mais acessível. “Ocupar também a arena, sair das salas, sair dos auditórios, para um lugar aberto, em que outras pessoas possam ver o que é produzido, é interessante!”, afirmou a produtora cultural, Ana Paula Sampaio, membro do NEXT e da comissão organizadora do evento.
Para a produtora cultural, a forma de celebração do aniversário do IHAC deste ano foi importante para o espaço acadêmico, pois foi uma forma de “dizer que existimos, estamos produzindo e queremos de fato estar naquele lugar”. E diante do sucesso dessa primeira edição, com o formato aberto e com um modelo de organização mais horizontal, a equipe pretende continuar com o projeto, apesar de esperar que não seja mais necessário manifestações para conclusão de obras ou impedir cortes orçamentários. “A ideia é que ele se estenda pelos próximos anos. Só que esperamos já estar ocupando, de fato, a nossa nova sede”, disse Ana Paula.
11 anos de história - Criado num contexto de políticas públicas de incentivo à ampliação e acessibilidade no ensino superior público brasileiro, o IHAC vem consolidando-se como referência em inovação acadêmica e de diversidade. A fundação do instituto é resultado do pacote de ações adotado pela UFBA com a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), uma das medidas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), de 2007. Após a adesão da universidade, tiveram início, em 2009, as primeiras atividades na modalidade Bacharelados Interdisciplinares (BIs) e que hoje contemplam quatro grandes áreas: humanidades, artes, saúde, ciência e tecnologia, propondo um sistema de ensino feito em ciclos, com uma grade curricular multi, inter e transdisciplinar.
Ouça o podcast do #OcupaIHAC, produzido pelos estudantes do BI em Artes, com o apoio do Instituto.
*Estudante do curso de Jornalismo na Faculdade de Comunicação da UFBA e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura