A plantação de mandioca ocupa cerca de 400 mil hectares do estado da Bahia e seus derivados são muitos, dentre eles o beiju. Revelado como um dos três produtos mais presentes no café da manhã dos baianos. O equipamento desenvolvido pelo Gitec possibilita otimizar a produção da iguaria, além de atender às regras de segurança alimentar estabelecidas pela Anvisa.
POR MARILÚCIA LEAL*
lealmarilucia@gmail.com
O Projeto Beiju é desenvolvido pelo Grupo de Inovação Tecnológica da UFBA (Gitec), coordenado pelo professor doutor em Engenharia Mecânica, Armando Ribeiro. O objetivo principal é melhorar a geração de renda das famílias e comunidades produtoras de mandioca, contribuindo para a afixação do homem no campo e assegurando melhores condições de trabalho à população. A criação do produto parte da necessidade de se aperfeiçoar a produção do beiju, que hoje ainda acontece de forma bastante rudimentar, dando ao produtor a oportunidade de produzir mais utilizando menos espaço e reduzindo o contato direto com o alimento.
“O equipamento está sendo projetado para produzir de 48 a 64kg/h” , afirma Ribeiro. Com oito fornos e utilizando três vezes mais espaço, a produção, dentro dos moldes de produção artesanal, chega apenas a 16 Kg/h. Sem contar com as condições de trabalho – o ambiente quente, devido a alta temperatura de cozimento do beiju; as más condições ergonômicas do trabalhador, já que sua ação é indispensável em cada um dos processos produtivos. “No projeto, substituímos o aquecimento a lenha por um sistema de aquecimento a gás com temperatura controlada, eliminando assim a inalação de fumaça pelos trabalhadores”, completa.
Da sua primeira concepção até a fase atual de finalização o equipamento passou por muitas mudanças. A principal dificuldade encontrada pelo grupo foi no processo de peneiramento. A umidade da fécula acabava entupindo a peneira, o que inviabilizava a continuidade do processo. Muitos testes foram feitos, até que o próprio grupo desenvolveu a tecnologia de adicionar pequenas bolas de borracha à peneira. Com o vibrar do peneiramento, as bolas batem na superfície da peneira e desprendem os flocos de fécula depositados nos espaços. A equipe agora segue para o teste com todas as peças do maquinário. Do peneiramento ao produto final.
Equipamento garante normas de segurança estabelecidas pela Anvisa
A mandioca é uma cultura de vital importância para a agricultura familiar. Entretanto um dos grandes impasses para a industrialização da produção, além da baixa quantidade se utilizado o processo de fabricação normal, é a garantia das normas de segurança alimentar estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). “Nos ambientes que visitamos observamos condições insalubres de produção e higiene precária. A manipulação direta do produto pelo trabalhador facilita a adesão de bactérias. Esse tipo de produto não te como ser industrializado”, diz o professor.
Essa questão também foi considerada no desenvolvimento do equipamento. O contato do trabalhador à matéria-prima do beiju limita-se ao adicionamento da fécul (goma) no maquinário. A partir de então, a máquina de beiju dosa, dá forma, cozinha sob temperatura de 280º – controlada e constante – e desenforma. Todas as peças da máquina são de aço inoxidável e de fácil limpeza. A cerâmica, local onde o beiju será cozido propriamente, não traz risco de contaminação já que não permite a adesão de nenhum tipo de bactéria. Além disso, temperatura que alcança enquanto cozinha é capaz de matar qualquer microrganismo tenha tido contato com o alimento nos processos de colheita e manipulação da fécula. “A escolha e o desenvolvimento de cada peça é algo que resulta de muito trabalho, requer muita atenção. Não basta imaginar a ideia. Cada peça é resultado de muitos cálculos, conceitualizações”, reforça Tulio Cerviño, bolsista do grupo que trabalha diretamente com o Projeto Beiju.
Projeto será apresentado ao governo do estado
A Bahia possui a maior área plantada da raiz do país e ocupa o segundo lugar em produtividade, com, aproximadamente, 4,2 milhões de toneladas/ano e produtividade média de 12 toneladas por hectare. Em função do apelo social que o produto carrega, Armando Ribeiro destaca a expectativa de conclusão do projeto. “Precisamos concluir logo pois a produção de mandioca no estado é algo forte e grandioso”, ressalta. O projeto será finalizado no segundo semestre, e a proposta é apresentá-lo ao governo do estado.
Após a finalização, o protótipo será encaminhado para a UEFES, local onde será feito o treinamento com famílias e grupos de produtores. O trabalho de condicionamento ao uso do equipamento será iniciado pela Cooperativa de Beijuzeiras do município de Conceição do Coité.
Histórico
O Gitec Grupo de Inovação Tecnológica da UFBA – atua nas áreas de Desenvolvimento de Produtos e Análise e Dimensionamento de Estruturas e Componentes. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo já garantiu prêmios de Destaque de Melhor Trabalho PIBIC-UFBa das Engenharias” nos anos 2004/2005 e 2005/2006, segundo lugar no concurso Ideias Inovadoras – Categoria Inventor Livre em 2008, primeiro lugar no concurso Ideias Inovadoras – Categoria Graduandos 2009 e terceiro lugar no concurso Ideias Inovadoras – Categoria Graduandos 2010, além das seis patentes depositadas nos últimos três anos.
A ideia inicial da máquina surgiu em 2005 numa parceria com a professora Marcia Nori, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Em 2010 o projeto foi retomado e o trabalho de criação do equipamento continuado. Hoje, em fase final, o projeto conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisas do Estado da Bahia (FAPESB).
*Marilúcia Leal é estudante de Jornalismo da Facom/Ufba e bolsista da Agência Ciência e Cultura.
** 1) SILO - sistema que armazenará 64kg de fécula e é responsável por dosar a quantidade exata necessária para completar uma cerâmica com beijus de aproximadamente 630g . Ele jogará esta quantidade de fécula na peneira a cada giro do rotor interno dele. 2) PENEIRA - peneira os 630g de fécula. A cada ciclo,a fécula peneirada cai diretamente no raspador através de uma calha. 3) RASPADOR- distribui a fécula na cerâmica no formato desejado. 4) MESA- sistema com 18 placas de cerâmica,as quais girarão durante o processo aquecendo o beiju. O aquecimento da cerâmica se dá por meio dos distribuidores de gás localizados na parte inferior da mesma.
Fiquei sabendo que se coloca formol na goma para que ela seja conservada, isso e verdade?
Olá gostaria de conhecer esse projeto, já está em produção…. gostaria de comprar.. aguardo…
Att. Israel
Gostaria de mais informações a respeito desse forno de beiju de mandioca. Estou sistemtizando um Projeto Referencial do “Bahia Produtiva”, da Cia. de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural. Pretendemos melhorar o desempenho da agricultura familiar, introduzindo inovações adaptadas à realidade desse sub setor da nossa economia rural através de apoio financeiro a fundo perdido. Aguardamos o contato para partilharmos nossas experiências.
Saudações,
Helbeth Lisboa de Oliva
Eng. Agrônomo
Especializado em desenvolvimento Rural
SDR-CAR, Governo da Bahia
Salvador, 15/09/2016
Gostaria de saber mais detalhes sobre esse equipamento de fazer beiju.
Grato!
quero mais informaçoes sobre a maquina de fazer beiju e valor