Além dos seminários, o 22º Compós contou ainda com a realização de quinze Grupos de Trabalhos. Nos GTs foram debatidas diversas área da comunicação e suas relações com a sociedade
VICTÓRIA LIBÓRIO
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O primeiro dia do 22º Compós, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânes (PósCom/UFBA), em Salvador, contou com o seminário “Estudos Culturais no Tempo Futuro”, ministrado pelo professor Lawrence Grossberg, da University of North Carolina, Estados Unidos. Ele apresentou a nova concepção dos estudos culturais na ótica de pensadores norte-americanos. “O ‘cultural studies’ foi um evento fruto da Guerra Fria e da transformação do mundo em três esferas: capitalistas, socialistas e terceiro mundo”, disse. “O sucesso do capitalismo, mediante uma série de crises dentro do sistema, permitiu o desenvolvimento de um tipo popular de mídia”, afirmou Grossberg.
Durante toda sua fala o professor fez questão de lembrar aos ouvintes que “contar uma história ruim sempre resulta em política ruim. Então porque não contar uma boa história para conseguirmos o que queremos?”. Para ele, este é o novo papel dos ‘cultural studies’: desvendar a nova realidade e os métodos de comunicação que se desenvolvem sempre a partir da conjectura real, não o contrário, como vinha sendo tratado no final do século XX. “Não é sobre a cultura, mas o local que a cultura ocupa nas grandes totalidades”, finaliza.
Além dos seminários, o 22º Compós contou ainda com a realização de quinze GTs: Comunicação e Cibercultura; Comunicação e Cidadania; Comunicação e Cultura; Comunicação e Experiência Estética; Comunicação e Política; Comunicação e Sociabilidade; Comunicação e Contextos Organizacionais; Cultura das mídias; Epistemologia da Comunicação; Estudos de Jornalismo; Estudos de Televisão; Estudos de Cinema, Fotografia e Audiovisual; Imagem e Imaginários Midiáticos; Práticas Interacionais e Linguagens na Comunicação; Recepção: Processos de Interpretação, Uso e Consumo Midiáticos.
“Essa é a parte mais interessante do Compós. Você tem a possibilidade de estar frente a frente com o público que leu seu trabalho, trocar ideias e absorver sugestões para melhorar o que você está fazendo. Parece uma grande oficina de desenvolvimento científico”, afirma Gabriela Gelain, graduanda de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria, participante do encontro.
Polêmicas e debates – Uns dos trabalhos mais polêmicos do evento foi “Israel: nova história e cinema pós- sionista”, desenvolvido pela professora Sheila Schvarzman, da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, no GT Comunicação e Cultura. Afirmando ter sua pesquisa censurada em outras instituições, Sheila procurou analisar o movimento cultural e político que busca, através da revisão sobre a história da criação do país, repor questões centrais como a relação e o reconhecimento dos palestinos, assim como a responsabilidade pelo seu exílio. Judia, a pesquisadora observa o papel do cinema israelense, em especial o documentarista Eyal Sivan, como perpetrador de um ponto de vista e por que há o forte engajamento nesta causa.
As discussões presentes no GT Comunicação e Política foram marcadas pelo trabalho desenvolvido por Francisco Marques e Jackson de Aquino, da Universidade Federal do Ceará. Com o título “Representação parlamentar no Twitter: uma abordagem quantitativa”, os professores objetivaram mapear a interação de 458 deputados federais brasileiros no microblog. Seguindo o volume de publicação, número de seguidores, foram construídas as características destes usuários na plataforma online.
Presente no GT, o professor Wilson Gomes considerou importante este tipo de abordagem quantitativa sobre a produção de twittes de um deputado. “Agora só falta mapear a audiência. Quem são os seguidores? Eles concordam com o político ou são jornalistas ou outras pessoas que discordam com ele que os seguem?”, questiona. Gomes apresentou também o seu trabalho “Quem está no controle? Um estudo sobre as entrevistas com os candidatos à Presidência da República transmitidas nos telejornais da Rede Globo durante as eleições de 2010”, elaborado em parceria com a estudante Fernanda Soares Pereira, bolsista de iniciação científica e participante do grupo de pesquisa em Comunicação, Internet e Democracia da UFBA.
Pela mesma lógica da interferência da nova linguagem virtual sobre os mecanismos de comunicação, o GT Comunicação e Cultura apresentou o “Registro da experiência no audiovisual de acontecimento contemporâneo”, de autoria de Roberto Tietzmann e Miriam de Souza Rossini. O artigo explorou a formação e a legitimidade de uma estética específica para retratar os acontecimentos do cotidiano, partilhada nos mais diversos meios de comunicação. Para ilustrar a problemática, os pesquisadores utilizaram “virais” do Youtube, vídeos com mais de seis milhões de visualizações.
Durante a apresentação, eles analisaram que os vídeos são curtos, simples, e não apresentam a necessidade de uma estrutura narrativa mais elaborada. “Este tipo de linguagem está sem definição, é algo perigoso”, afirma Miriam. “É possível perceber características deste fenômeno nas novelas atuais. No primeiro dia da nova novela das oito, a mocinha se formou em medicina, ganhou a viagem, conheceu um amor da vida dela, engravidou, se separou, teve o filho, perdeu a criança, depois conheceu o novo amor da vida dela. Enfim, é uma estrutura de velocidade indicada por essa nova audiência”, relata Tietzmann.
Os professores Henrique Antoun e Fábio Malini também seguiram pela linguagem virtual com “Mobilização nas redes sociais: a narratividade do #15M e a democracia na cibercultura”, que pensa os três momentos do desenvolvimento da internet correlacionados com três diferentes tipos de apropriação e lutas empreendidas pela multidão por meio da rede. Eles concluem que o principal motor desta articulação são os hackers, que “inventam o ciberespaço, desenvolvem a cibercultura e mobilizam a multidão”.
O PósCom/UFBA, considerado o maior celeiro de produção científica em comunicação do Brasil, também teve trabalhos apresentados. O professor André Lemos e o doutorando André Holanda foram alguns dos representantes da Bahia no Compós 2013. Eles apresentaram o trabalho intitulado “Do paradigma ao cosmograma: sete contribuições da teoria ator-rede para a pesquisa em comunicação”, que relaciona a teoria do sociólogo francês Bruno Latour com todo o processo de investigação da comunicação, mais particularmente no jornalismo. O trabalho foi desenvolvido em seu grupo de pesquisa em Cibercidades, agregando alunos da graduação e pós-graduação. Os autores concluíram que há a necessidade da superação dos paradigmas hegemônicos pelo mapeamento das associações: os cosmogramas.
Já a professora Maria Carmen Jacob elaborou, junto com o mestrando João Eduardo Silva de Araújo, o artigo “Gestão da autoria de telenovelas: questões preliminares sobre o papel das emissoras”. O trabalho apresenta as bases teóricas que direcionam a produção das novelas brasileiras, com enfoque na produção da Rede Globo. A pesquisa ainda está no início, desta forma foram apresentados alguns resultados preliminares. No entanto, isto não direcionou a apresentação, já que o trabalho tem um embasamento teórico forte, principalmente pela sociologia bourdieusiana.
* Estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Facom/UFBA. Estagiária da Agência de Notícias Ciência e Cultura.