5º Seminário Gestão de Tecnologia e Inovação em Saúde contou com participação de palestrantes internacionais e representantes do governo apresentando avaliações de medidas de intervenção na saúde pública.
Emile Conceição*
ej_jornalista@hotmail.com
Salvador sediou, nos dias 10 e 11 de outubro, o 5º Seminário Gestão de Tecnologia e Inovação em Saúde. O evento, que ocorreu no Sheraton da Bahia Hotel e teve como tema “Avaliação do Impacto de Intervenções na Saúde das Populações“, discutiu experiências concretas de avaliação de impacto de Programas de Intervenção, os problemas metodológicos e operacionais, além de aspectos relacionados à regulação de intervenções tecnológicas.
O Seminário, organizado pelo Instituto Nacional de Inovação e Tecnologia em Saúde INCT/CITECS, do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, contou com a presença de palestrantes internacionais como Federica Russo, da Universidade de Ferrara (Itália), Bárbara Osimani, da Universidade de Camerino (Itália), Liam Smeeth e Paul Wilkinson, ambos da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), Iñaki Gutiérrez-Ibarluzea, coordenador e gestor do Gabinete Basco de Avaliação de Tecnologias em Saúde (Osteba), dentre outros.
Além das explanações dos convidados internacionais, o evento recebeu também representantes do governo como o Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, a Ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, e o Assessor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Eduardo Hage.
As discussões giraram em torno de avaliações a respeito de intervenções feitas na saúde das populações. O professor Leo Heller, do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da Universidade Federal de Minas Gerais (IEAT/UFMG), por exemplo, apresentou o processo de pesquisa e implantação do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), do governo federal. O programa consiste na construção de cisternas em casas de famílias do semiárido, bem como a adaptação de um equipamento que capta a água da chuva que cai sobre os telhados, armazenando-a nas cisternas.
As avaliações apresentadas por Heller foram de caráter político-institucional (relevância e possíveis melhorias para o programa), epidemiológica (qualidade da água que estava sendo armazenada e consumida, assim como a saúde das pessoas que a utilizavam) e tecnológica (avaliação relativa aos equipamentos tecnológicos utilizados). Segundo o pesquisador, seu relato sobre o Programa Um Milhão de Cisternas vai ao encontro dos dados apresentados pela ministra Tereza Campelo, durante a palestra intitulada “Avaliação de Intervenções Sociais”. “A ministra nos apresentou dados atualizados e afirmou que foram construídas mais de 700 mil cisternas, número que excede a proposta inicial do Programa”, disse Heller.
Ainda segundo Leo Heller, a avaliação contou com a participação de profissionais de diversas áreas, como engenharia, epidemiologia, dentre outras. “Além da participação de especialistas, os balanços também tiveram a participação da população usuária dando seu parecer acerca dos serviços”, disse. “Os depoimentos dos usuários dão uma dimensão que uma avaliação técnica não daria”, completa.
A professora Rosana Aquino, do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre os impactos provocados pelo Programa Saúde da Família. Entre as implicações apresentadas, as mais importantes foram que nos municípios onde foi implantado o programa foi evidente a redução do número de óbitos, principalmente nos municípios mais pobres, devido à feitura do pré-natal em gestantes, vacinação das crianças, visitas domiciliares por agentes de saúde, consultas médicas básicas nos postos de saúde, entre outras medidas.
De acordo com a pesquisadora, foi averiguada a redução do número de internações por problemas que podem ser evitados com procedimentos primários, como pneumonias. Segundo Rosana Aquino, houve também uma diminuição dos casos de doenças crônicas. Ela chamou a atenção sobre a importância das pesquisas científicas e das avaliações em saúde. “Será que nós só temos compromisso com a produção de conhecimento? Eu acho que não. Acho que também estamos comprometidos com a transformação da sociedade”.
Ao final das explanações, o coordenador da última mesa-redonda do evento, Rômulo Sousa, que atua como diretor do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Centro Rio+), reafirmou a importância de se avaliar as intervenções feitas na saúde pública. “A avaliação permite que se façam ajustes para melhorar as políticas públicas. É preciso saber mais de forma independente, e que o Estado financie essa produção de conhecimento para que ele próprio utilize esses resultados para uma mudança social”, concluiu.
* Estudante de Jornalismo da Ufba e estagiária da Agência de Notícias em Ciência, Tecnologia e Inovação