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Atualizado em 18 DE outubro DE 2013 ás 17:50

Evento em Salvador discute formas de interação por meio de tecnologias

Pesquisadores de todo o Brasil são convidados a apresentar seus trabalhos no SimSocial

VICTÓRIA LIBÓRIO*
victorialiboriosimoes@gmail.com

Idealizado pelo GITS (Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociedade), que faz parte do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, o Simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade (SimSocial) ocorrido na Faculdade de Comunicação da UFBA nos dias 10 e 11 de outubro. Formado por Núcleos Temáticos, conferências e mesas redondas, o encontro promoveu a troca de experiência e trabalhos entre os pesquisadores inscritos.
A abertura contou com a participação do professor Alex Primo (UFRGS) na conferência Interações e Mediações Sociotécnicas, desenvolvida a partir de um capítulo do livro intitulado Interações em Rede (2013), por ele organizado, sendo um produto originado a partir das produções de seu grupo de pesquisa Laboratório de Interação Mediada por Computador (LIMC). Primo relembrou alguns conceitos da comunicação de massa, estudo que investiga o processo de comunicação para um grande número de pessoas. “Hoje em dia, muitos desses conceitos não se aplicam ao avanço da tecnologia e expansão da internet”, disse.
Na ocasião, o professor afirmou que hoje é comum pensar na internet como uma garantia da liberdade de expressão. Ele explicou que essa crença foi desmistificada dentro da academia quando extensos estudos sobre a internet apresentaram premissas otimistas, como a garantia do anonimato e outras pessimistas, como as elaboradas no livro 1984, de George Orwell, obra que deu origem à ideia do Big Brother. “A verdade é que o indivíduo deixa rastros”, observa.
Esses rastros nada mais são do que evidências de que o usuário esteve naquela página, muitas vezes direcionadas pelos cookies –  pequenos arquivos que o usuário baixa no dispositivo pessoal (computador, tablet ou smartphone) que permite às páginas que ele acessa reconhecê-lo – que ficam no computador. É possível visualizar isso com as propagandas que aparecem nos cantos dos sites ou com o limite de acessos a sites jornalísticos.
Partindo dessa intensa participação da audiência, Alex Primo fala sobre o caso da indústria de entretenimento, que tem seus produtos principalmente acessados por meios das redes. Ele explica que os fãs não são mais audiência passiva. “Hoje, eles questionam, explicam, criticam e até recriam, como é o caso das fanfictions, ou seja, textos na internet que reescrevem as aventuras originais de personagens de livros, filmes, bandas, dentre outros”.
O pesquisador adverte que as fanfictions são um ato criminoso, pois personagens protegidas por copyright são constantemente exploradas na internet. “Existem, ainda, sites especializados nisto”, relata. Primo ainda usa como exemplo o caso de Mikey Mouse, que já entraria em domínio público, mas por interesse da indústria a lei de copyright foi modificada anos atrás.
A lei antigamente dava 50 anos de direitos autoriais após a morte do criador. Porém, por causa do camundongo da Disney, a lei conhecida agora como Mikey Mouse Protection Act extendeu esse prazo para 120 anos e não cairá em domínio público até 2019.“O prazo vai vencer de novo. E aí? Como vai ficar a restruturação dessa lei numa realidade em que a internet é a grande responsável pela circulação de informações? Como estão esses novos fãs?”, questiona.
Já a professora Maria Cristina Franco Ferraz (UFRJ), visualizou a utilização da tecnologia pela mídia não pela audiência diretamente, mas por uma concepção de cultura das grandes empresas de mídia. No encontro, a pesquisadora ainda lançou seus dois livros; Potências e Práticas do Acaso (Garamond/FAPERJ, 2012) e Homo deletabilis (Garamond/FAPERJ, 2010). Sua conferência tratou dos estereótipos e desconstruções destes estereótipos pela indústria.
“Antes, ser velho era uma noção de descanso e fragilidade e aposentadoria. Hoje, a pessoa é atacada com noções de otimização da produção, maximização da performance e aposentadoria não é mais o foco da velhice”, fala  Maria Cristina. A pesquisadora afirma que a sociedade em geral aceita uma série de pressupostos e crenças com esse tipo de imagem, a lógica do digital.
Ela entende que existe uma problemática com foco no envelhecimento e na morte. A impulsão fáustica – frenesi compulsivo –  e êxtase fugaz – que sem descanso empurra o sujeito para frente -, estaria presente na tecnociência contemporânea. “E junto ao gnosticismo tecnológico, a crença em Deus articulada à tecnologia, exprimem certo horror à viscosidade própria do orgânica, existe certo temor à degradação, própria da mortalidade”, explica. “A gente está aderindo a uma série de pressupostos e crenças que compõem uma série de imagens que fazem parte da lógica do digital”, completa.
Essa logica não fala por si, ela está entremeando as práticas sociais. O ser humano está cada dia mais induzido a seguir regras do digital, das máquinas. Ela trata de um suicídio coletivo que aconteceu em 1997, quando passou o Cometa Hale-Bopp, em que 39 pessoas ligadas à esfera da informática se mataram porque creditavam que o cometa traria uma nave espacial que levaria suas almas pelo espaço. “Trata-se da procura pela superação dessa obsolescência programada, já inerente à indústria tecnológica, que invade a vida humana e já é incorporada com a vinculação ao orgânico”.
Política e Social – Pensando nessa conexão entre o virtual e o real, as manifestações ocorridas no Brasil desde junho deste ano não podiam ficar de fora dessas discussões. Na mesa redonda Performances, apropriações e mediações sociotécnicas: como experienciar o mundo contemporâneo?, professores Jorge Cardoso, Messias Bandeira e José Carlos Ribeiro, todos da UFBA, discutiram o que tem acontecido na atualidade e como usuários se utilizam das tecnologias de comunicação para se interconectar e articular movimentos, por exemplo.
A mesa foi iniciada com definições de alguns conceitos, como “performance” e “ apropriação”, pelos três pesquisadores conjuntamente para melhor definir o ponto de partida da mesa redonda.  José Carlos, então, propõe uma nova partida para experienciar o mundo contemporâneo. Da mesma forma, Messias Bandeira trata da “apropriação social da tecnologia”.
“Estamos investigando pautas locais que produzem cidadanias globais”, abriu o Bandeira. “A Primavera Árabe, o Movimento das Indignadas, o Desocupa, as manifestações na Praça Taksim, nossas manifestações desde julho e tantos outros países estão de certa forma envolvidos nesse processo de erosão das ideologias tradicionais e sua substituição para a cidadania global”, relata.
Mesmo com tanta participação em manifestação, para o professor os movimentos estão proporcionando o esvaziamento na política. “Entendo que não é possível fazer política sem a âncora da ideologia. Talvez o que se tenha é uma visão muito confinada da ideologia”, afirma Messias.
O SimSocial é um simpósio anual que discute o desenvolvimento das pesquisas, artigos e observações no mundo da interação tecnológica. Este ano, contou com cinco Núcleos de Temáticos sobre práticas interacionais, educação e aspectos cognitivos e práticas colaborativas de produção de conteúdo.

*Estudante de Comunicação – habilitação em Jornalismo e estagiária da Agência de Notícias em CT&I

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