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Atualizado em 20 DE abril DE 2012 ás 17:28

Experiência prolongada de dor modifica comportamento cerebral

Durante a edição do Café Científico realizada no mês de abril, o professor doutor em Psicologia Biológica da Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha, Pedro Montoya, explicou os principais efeitos causados pela fibromialgia no cérebro.

POR MARILÚCIA LEAL
lealmarilucia@gmail.com

A dor existe desde que o ser humano habita o planeta. Ela é tematizada na música, na poesia, na literatura. Denominamos dor o que sentimos após uma pancada ou quando um objeto perfura nossa pele, e também quando a saudade de alguém ou a tristeza suga nossas forças. Mas quando a dor passa a ser em locais indiscrimináveis e de forma intensa e ininterrupta? Essas são as principais características da fibromialgia, síndrome que faz referência a uma condição dolorosa generalizada e crônica, objeto de estudo do professor doutor em Psicologia Biológica da Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha, Pedro Montoya.

Durante a edição do Café Científico realizada no mês de abril, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, Montoya explicou os principais efeitos causados pela fibromialgia no cérebro. É da atividade cerebral que resultam as capacidades de memorização, atenção, controle emocional, percepção, equilíbrio e agilidade. O cérebro é também o responsável por processar, entre outras informações, os estímulos de dor liberados pelo corpo. Ao receber qualquer indicação dessa espécie, o órgão ativa as defesas pessoais e autoriza a liberação de hormônio que ajudará a aliviar os constrangimentos dolorosos. Segundo o pesquisador, o problema se instala quando tais estímulos passam a ser frequentes. “Quanto mais o cérebro for castigado pela dor, mais dificuldade terá em realizar as funções delegadas a ele. Por isso, é de extrema importância procurar métodos para aliviar as dores, e não suportá-las”, alerta o pesquisador.

Os estudos realizados demonstram que a atividade cerebral de um paciente diagnosticado com a fibromialgia interpreta informações cotidianas de maneira equivocada. “Há relação desnivelada entre o estímulo e a sensação da dor. Tocar levemente a pele de um paciente com dor crônica pode desencadear um quadro generalizado, já que não há relação direta entre a sensação e o corpo”, afirma Montoya. Alterações no ritmo das passadas e no equilíbrio, disparidade na compreensão das emoções pessoais e alheias – situação que pode interferir diretamente no convívio em sociedade – também são consequências da doença reveladas pela pesquisa, ainda em andamento. “O cérebro de um paciente com a doença interpreta expressões de alegria e tristeza de maneira muito próximas”, completa.

As causas para o desenvolvimento da doença é o maior desafio para Montoya e, neste caso, todo o estudo se volta para esse fim. Segundo ele, só a descoberta das causas poderá dar subsídios para o desenvolvimento de trataremos eficazes.  O que se sabe até o momento é que a experiência da dor surge da atividade cerebral e é modulada por diversos fatores biopsicossociais (genéticos, hormonais, cognitivos, emocionais, sociais, culturais), além da comprovação das alterações que ocorrem em tal atividade.

O pesquisador chama atenção para a condição de complexidade da dor, reforçando o aspecto de que a mesma não é algo estático, mas que muda com o tempo. Para ele, responder questões como localização e intensidade não são suficientes para nenhum tipo de diagnóstico que a tenha como principal sintoma. Esses aspectos são imprescindíveis, entretanto, não podem limitar as investigações. “É necessário compreender a dinâmica da dor e como ela varia a – e na – atividade cerebral”, defende.

O Café Científico é um projeto do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em parceria com a Livraria Multicampi (LDM), que visa discutir recentes estudos científicos, bem como seus impactos sociais.

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