Diretor do Instituto Butantan e herpetologista fala sobre os desafios da carreira científica no último dia do evento
LAÍS MATOS*
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O biólogo Giuseppe Puorto, especialista em herpetologia falou sobre sua trajetória profissional no encerramento do ciclo de conferências, no 5º Encontro de Jovens Cientistas na última sexta-feira (03). Giuseppe é diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan de São Paulo e uma referência nos estudos e pesquisas sobre animais peçonhentos no Brasil. O pesquisador falou sobre sua paixão pelas serpentes e dos desafios enfrentados ao longo da carreira. Ele contou ainda sobre os trabalhos educativos realizados pelo Instituto Butantan, bem como da importância de estimular as crianças a se interessarem pela biologia e pela ciência.
O biólogo declarou que sua paixão por cobras veio muito cedo. Em 1975 Giuseppe já fazia sua primeira viagem à Amazônia, como estagiário do Butantan. Ele viajou como assistente do seu coordenador, e relatou que, enquanto ajudava, aprendia muito. Hoje, ele afirma que já foram mais de 100 viagens para a Amazônia, incluindo vários projetos de pesquisa desenvolvidos na região. O pesquisador relatou que seu trabalho como estagiário exigia muita proximidade e manuseio com as serpentes, “Eu tinha que extrair veneno de cobras muitas vezes e isso fez com que eu me tornasse, mais tarde, o maior extrator de veneno do Butantan. E devido ao grande número de extrações, fui picado por cobras 15 vezes, sendo que na segunda vez, a picada foi quase letal, me deixando alérgico ao veneno das serpentes. “
Um trabalho de grande importância ambiental com o objetivo de preservar as espécies foi realizado por Giuseppe quando ainda era estudante de biologia. Ele conta que foi um período de desenvolvimento do setor de energia no Brasil, em 1976, quando as usinas hidrelétricas começaram a ser construídas e os estudos e ações para minimizar os impactos ambientais, tornaram-se necessários. Para Giuseppe, esse momento representou um grande desafio. “O risco em capturar serpentes na natureza era muito maior, além disso, muitos animais e vegetais se perderam nesse período”, comenta o biólogo.
O maior mentor de Giuseppe que o levou à sua primeira publicação foi o parasitologista Samuel B. Pessoa. Ele foi sua maior referência de ensino, apoio e incentivo, e trabalhou com Giuseppe estudando parasitas no sangue das serpentes. Seus três primeiros trabalhos científicos foram publicados antes mesmo de concluir a graduação.
Em 1978, Giuseppe concluiu o curso de biologia na Universidade de Mogi das Cruzes e depois de trabalhar na Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap no treinamento com serpentes, ele inicia seu trabalho como pesquisador científico no laboratório de Herpetologia no Instituto Butantan. Giuseppe também desenvolveu alguns trabalhos de campo, contando com a ajuda da professora Rêjane Lira, coordenadora do Instituto de Biologia da UFBA, que na época foi sua estagiária. Além disso, ele realizou inúmeras expedições, como a primeira delas feita na Ilha da Queimada Grande, localizada à 35km do litoral de São Paulo.
Museu Biológico
No Museu Biológico do Instituto Butantan, o trabalho também foi árduo, Giuseppe conta que, “Não sabia nada sobre o museu que se encontrava desgastado por milhões de cupins”. Depois de se adaptar, ele deu inicio às reformas no museu e inaugurou uma nova exposição em 2001, com uma nova equipe, composta por 35 funcionários, incluindo monitoria e educadores, que atuam em parceria com o Núcleo de Educação Terra Firme. O museu desenvolve atividades educativas e cursos para crianças, jovens e adultos, através de projetos e eventos de divulgação de científica e exposições artísticas.
Quanto à suas publicações, ele produziu trabalhos técnicos, manuais, trabalhos científicos e publicações informativas. Escreveu na primeira edição da Revista Jovens Cientistas lançada no 5º Encontro de Jovens Cientistas, na matéria ele explica a importância das serpentes e desmitifica alguns mistérios e crendices populares que giram em torno das cobras. Participou ainda na produção de alguns capítulos em livros e na construção do manual do Ministério da Saúde.
Giuseppe comentou sobre sua segunda maior lição de vida, quando ele aprendeu a respeitar as serpentes e entender sua responsabilidade sobre elas, “O racional sou eu”. Ao final da palestra é perguntado por uma criança sobre qual animal seria se pudesse escolher, depois de dizer que seu animal no horóscopo chinês é a cobra, ele explica que gostaria de ser uma pelo desafio que esse animal representa, pela força natural. Também fala que gostaria de ser uma ave “Não existe nada mais bonito do que viajar, olhar o mundo por cima e viver no vento, ao sabor do vento”.
*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA