Jornalismo como ponte entre barbárie e civilidade
POR LILIANA PEIXINHO*
lilianapeixinho@gmail.com
Tem sido constante e de forma agressiva, brutal, desrespeitosa, abusiva, violenta, ataques a jornalistas. Somos acusados de comunistas, defensores dos “tais direitos humanos” – acredite, defender direito virou defeito- , imagine que investigar, correr atrás de fatos que comprovem problemas sérios, como desigualdade, virou besteira porque “o mundo sempre foi e continuará sendo de quem tem poder capital”; argumentar sobre a necessidade da preservação dos ambientes, como espaço diverso e rico para o bem-viver digno e merecido por cada um, é criticado como sonho idiota, fora da realidade, de quem tem tempo para gastar com o que não vai adiantar nada.
Tem sido ruidosa, nesses ambientes contaminados por política rasa, as conversas sobre, por exemplo, que o papel do jornalismo é vigiar as ameaças entre civilização e barbárie. Que nos cabe, em compromisso de oficio, estar atentos ao que podemos empoderar e enfraquecer, em cenário de fortes e frequentes ameaças à vida. Que dentro dos infinitos olhares, audições, percepções, comparações, todas as informações contribuem para formar múltiplas dimensões do pensar e do agir. Que nossa missão maior é estar a serviço do fortalecimento da Democracia, de sistemas políticos sociais onde o respeito à diversidade de opinião seja instrumento contra regimes onde o autoritarismo, a falta de conhecimento, a negação dos fatos como realidade, podem reforçar atitudes nefastas, desumanas, incivilizadas, inapropriadas a legados históricos de lutas por direitos dignos, como liberdade!
Tem aumentado, diariamente, os casos de perseguição e atentados e violências contra jornalistas, ativistas, ambientalistas, educadores que pautam seus trabalhos, mesmo como voluntários livres na defesa de culturas de povos em comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas, agricultores familiares, pescadores, artesãos.
Tentar conversar, por exemplo, sobre problemas sérios, em contextos socioambientais, causados pelo agronegócio, grandes espaços de terras ocupados de forma descuidadosa, plantações de monoculturas envenenadas em produção de larga escala, identificar os nós do mercado de commodities que alimenta um modelo de Economia predatória, mostrar que determinadas formas domésticas de desperdício de alimentos e um sem número de produtos, largados, descuidados, descartados sem critérios de valor, não deveria mais caber num mundo onde a fome, a desnutrição, as doenças, a falta, a desigualdade, a pobreza e o desrespeito a direitos, são pautas permanentes (como as ODS), num mundo alheio ao outro.
Esses temas tem sido inconversáveis em ambientes de resistência às mudanças. E, quando publicados, num ambiente poderoso com guerra de comunicação, observamos que a leitura é rasa, não atenta, sem olhar contextualizado, linkado ao cenário de um planeta que pede socorro para se sustentar como ambiente da vida que, paradoxalmente, precisamos, mas não cuidamos.
Nesse tempo de pandemia, com um reinado de muita dor, provocado pelo Coronavírus, são tantos os recados, os alertas, os sinais de como ainda temos a chance de tentar reverter os males que estamos causando uns aos outros. De como podemos fazer do trabalho, do labor, um prazer em construir os ambientes de vida; do estar em casa, com a família, um direito sagrado de compartilhar amor, experiências, conhecimento, alegria; do pensar sobre a diferença entre necessitar e desejar a ponte que pode nos levar ao equilíbrio que muito nos faz falta quando os recursos financeiros se limitam como insuficientes.
Já foi provado que tudo que fazemos tem a ver com os resultados que tem nos atingido, em cheio, em xeque, em vida, em morte, feia, agonizante. Quando penso numa pessoa, em leito de hospital, em agonia para tentar buscar ar, e não consegue, e precisa ser entubado, e na luta, acaba vencido pelo inimigo, invisível, concluo o quanto ainda estamos distantes do que poderia nos referenciar como sapien! Somos mesmo frágeis, tolos, diante de tanta impotência para reescrevermos a História como protagonistas de um tempo e espaço, ínfimos, perante ao Universo que tentamos, há milênios, compreender e atuar!
*Liliana Peixinho jornalista, especializada em Jornalismo Científico, Meio Ambiente, Sustentabilidade, Cultura. Autora do livro, em pílulas virtuais desde 1999 – “Por um Brasil Limpo”! Defende e pratica o Jornalismo Imersivo; Produtora de diversas séries de reportagens com imersões jornalísticas em comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas, agricultores familiares, pescadores, artesãos! Fundadora, produtora, editora de conteúdos: Movimento AMA, Reaja, Mídia Orgânica, RAMA.