Prejuízos econômicos à fruticultura e saúde humana induzem criação de mecanismos no combate à praga
JOSENILDO MOREIRA*
josenildo-junior@hotmail.com
As moscas-das-frutas, ou ‘bicho da goiaba’ – forma popularmente conhecida – têm ocasionado danos significativos à saúde da população e a produção fruticultura brasileira. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), são consideradas as principais pragas agrícolas do mundo e somam mais de dois bilhões de dólares em prejuízos anuais. O Vale do São Francisco (VSF), um dos maiores produtores de frutas no país, através da agricultura irrigada, vem sofrendo com a ameaça desses insetos, pois o aumento no nível de infestação e, consequentemente do uso de agrotóxicos, proporciona o abalo na economia da região, além de ir contra uma alimentação mais saudável, afinal, a utilização dessas substâncias químicas causam náuseas e até cânceres. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) disponibilizou um relatório afirmando que o Brasil, desde 2009, é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Sendo assim, mecanismos são pensados e desenvolvidos para evitar a proliferação das moscas-das-frutas, a exemplo da utilização de parasitóides como forma de controle biológico.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o excesso de defensivos agrícolas nas larvas compromete a saúde das pessoas, pois o consumo de frutas contendo pesticidas são causadores de náuseas, tonturas, dores de cabeça, alergias e até lesões renais e hepáticas, cânceres, alteração genéticas, doença de Parkinson, infertilidade masculina, etc. Segundo o MS existem duas formas de intoxicação: pelo contato direto, no preparo, aplicação e manuseio com o produto; e o contanto indireto, através da contaminação de água e alimentos ingeridos. O Inca também explica que os efeitos adversos decorrentes da exposição aos agrotóxicos podem aparecer muito tempo após o contato, dificultando a correlação com o agente. Além dessa problemática, a mosca-da-fruta proporciona prejuízo no mercado externo, ao possibilitar que países importadores (Estados Unidos e Japão) imponham uma série de barreiras e medidas rígidas de controle da praga, ou por estar acima do limite máximo de resíduos ou pelo uso de moléculas não permitidas nesses lugares.
O entomologista e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, da cidade de Cruz das Almas, Antônio Souza, explica que as Anastrepha obliqua (mosca da manga), Anastrepha fraterculus (mosca sulamericana), Bactrocera carambola (mosca da carambola) e Ceratitis capitata (mosca do mediterrâneo) são as principais espécies causadoras de danos à fruticultura no Brasil. Na região de Petrolina e Juazeiro existem cerca de 11 espécies de Anasthepha e Ceratitis Capitata,.
“As moscas entram nos frutos quando começam a amadurecer e em seguida as larvas alimentam-se da polpa, apodrecendo-as. Ao completar o desenvolvimento, migram para o solo e se enterram. A duração do período ovo-adulto varia de 18 a 25 dias na região do VSF.”, afirma o pesquisador. A fêmea é capaz de depositar ovos em mais de 200 bagas, o que explica a preocupação com a praga. “Cada manga, uva, acerola, goiaba etc. estragada gera desperdício econômico, refletindo diretamente no bolso do consumidor, pois aumentando os custos de produção, com o uso de inseticidas entre outros, encarece o produto final”, explicou.
Métodos de ação – Diante dos efeitos causados pela infestação desses insetos, alternativas estão sendo estudadas com o objetivo de eliminar o bicho da goiaba, como o Controle Cultural, que consiste em não deixar frutos caídos no solo, pois isso permite a continuidade do ciclo de vida da mosca. Eles devem ser recolhidos e triturados para uso no campo ou alimentação animal, porém como a região do VSF tem temperatura média anual de 26ºC, ou seja, propícia para a infestação e frutifica durante todas as épocas do ano, a praga nunca interrompe o ciclo, encontrando sempre hospedeiros para suas larvas. Sendo assim, segundo Antonio Souza, a Embrapa trouxe para o Brasil duas espécies de parasitóides (vespas), Diachasmimorpha longicaudata e Fopius arisanus, utilizadas mundialmente para o controle das moscas-das-frutas.
Para a entomologista, especialista no controle biológico de pragas e pesquisadora da Embrapa Semiárido, de Petrolina (PE), Beatriz Paranhos, as espécies têm essa denominação porque parasitam a mesma classe taxonômica, ou seja, inseto parasitando inseto. Além disso, são vespas úteis, pois ajudam na regulação da população da praga no campo. Diferente de um parasita intestinal que prejudica os seres humanos e outros animais. “Os parasitoides existem normalmente na natureza e variam de região para região de acordo com as fruteiras (nativas ou cultivadas) e com as espécies de moscas-das-frutas que as atacam. Os cientistas buscam vespas que sejam eficientes no controle das espécies de pragas causadoras de problemas econômicos na região.
De acordo com Antônio, as vespas agem da seguinte forma: o parasitóide fêmea deposita seus ovos sobre a mosca alojada no interior do fruto. Desse ovo nasce uma larva que se alimenta da praga ainda na fruta. Como resultado a vespa destrói a mosca-da-fruta e impede o apodrecimento. Ao transforma-se em adulto, elas retomam o ciclo, parasitando outras larvas da mosca. Beatriz completa: “Estes parasitoides nunca serão pragas, colocam seus ovos apenas no hospedeiro. Portanto, é inócuo ao meio ambiente e a saúde humana”.
Por fim, a pesquisadora ressalta que a tecnologia a ser desenvolvida é um método para multiplicar os parasitoides em condições artificiais (Biofábricas), possibilitando periodicamente a liberação de grande quantidade no campo. A expectativa é que essas pesquisas criem milhões de vespas por semana e a tecnologia disponibilizada para os produtores. Atualmente, a produção em larga escala está em fase de desenvolvimento no município de Juazeiro, localizada a 511km de Salvador.
*Graduando no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em Ciência e Cultura da UFBA