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Atualizado em 8 DE setembro DE 2014 ás 16:44

IX SEMBIO discute uso de células-tronco e leis ambientais

Palestras com profissionais da área fazem conexões entre conhecimentos teóricos e problemas atuais da sociedade brasileira

MATHEUS VIANNA*
matheus.vianna95@gmail.com

Durante essa semana aconteceu a IX Semana de Biologia na Universidade Federal da Bahia, evento que tem com tema central “A Biologia Além das Fronteiras da Ciência”. Dentro da programação, diversas palestras relacionaram os conhecimentos teóricos com as situações atuais da sociedade brasileira. Duas importantes palestras foram “Terapia com células-tronco em cães e gatos com distúrbio crônicos e/ou degenerativos” com o professor e pesquisador Dr. Euler Moraes Penha e a palestra “Do papel às florestas: cenário atual e futuro da legislação ambiental” com o biólogo Jeferson Oliveira.

Foto: Matheus Vianna

A primeira apresentação trouxe uma pesquisa coordenada pelo médico do Hospital Veterinário da UFBA Euler Penha, voltada para o tratamento com células-tronco de cães e gatos que sofreram lesões graves na medula, causando paralisia dos membros inferiores. Segundo o pesquisador, os animais tratados já haviam passado por diversos tratamentos sem quaisquer melhoras. Isso caracterizou a pesquisa como um “tratamento heroico”, segundo o próprio pesquisador. “A terapia celular realizada se caracteriza como uma terapia regenerativa, onde durante a cirurgia para a correção da coluna, uma dose de células-tronco era injetada no local”, afirma o professor Euler Penha. O objetivo, portanto, é que essas células ajudem na regeneração daquele tecido nervoso.

Os estudos relacionados à terapia celular ainda são bastante novos, sem muitas bases teóricas para uma pesquisa. “São tantos tipos de células-tronco que podem ser utilizadas, que nós ainda não sabemos exatamente qual tipo atuaria melhor em certas doenças”, afirma Euler. As células utilizadas nessa pesquisa foram as células mesenquimais, tipo de célula encontrada nas partes mais superficiais do corpo como no tecido adiposo, retiradas do banco de medula do Hospital Veterinário da UFBA. Esse tipo de célula foi escolhido devido ao alto índice de sucesso na especialização dessas em células nervosas no laboratório, mais especificamente 70% de êxito.

O pesquisador trouxe um exemplo de tratamento feito em um gato, mostrando fotos e vídeos da situação antes da cirurgia, durante a cirurgia e a recuperação após o tratamento, com sessões de fisioterapia. O animal não tinha nenhuma reação nos membros inferiores antes do tratamento e nos vídeos das sessões de fisioterapia, o animal já apresentava reações de reflexo nos membros. “Um dos grandes avanços para as pesquisas com esse tratamento é a quebra da ideia de que algumas doenças, como hérnia de disco, são incuráveis”, analisa o médico veterinário.

Foto: Matheus Vianna

As grandes dificuldades para o desenvolvimento do projeto apontadas pelo pesquisador Euler são a falta de equipamentos de tomografia e ressonância magnética para animais nas regiões Norte-Nordeste e as questões éticas relacionadas ao possível uso de células-tronco embrionárias, levantando o questionamento: “Até que ponto a vida virou um amontoado de células?”.

Políticas ambientais

A segunda palestra foi realizada pelo biólogo Jeferson Oliveira que debateu a questão da legislação ambiental no Brasil. O pesquisador analisou o desenvolvimento das leis que norteiam o tema, apontando desafios futuros. Inicialmente, o palestrante mostrou como são criadas as leis no atual modelo de estado brasileiro, explicando conceitos do próprio Direito e de legislação ambiental. Após os conceitos, Oliveira mostrou o crescimento do movimento ambientalista mundial e nacional, fazendo paralelos com os surgimentos das convenções ambientais, como a Rio 92, e importantes organizações ambientalistas, como a WWF e o Greenpeace. A partir desse panorama histórico, foi apresentado o cenário atual da legislação ambiental do Brasil e como essa legislação foi construída ao longo dos anos.

Três aspectos da legislação nacional foram analisados profundamente pelo palestrante: a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), sancionada na Constituinte de 1988, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionado em 2010, e o novo Código Florestal, sancionado em 2012. A PNMA foi responsável pela criação e unificação de todos os órgãos federais, estaduais e municipais relacionados às questões de preservação ambiental, como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). “Essa política foi de extrema importância para uma regulação do uso do nosso meio ambiente, que não existia antes”, afirma Oliveira.

O palestrante trouxe ainda alguns dados relacionados às Unidades de Proteção, que são territórios de conservação ambiental demarcados pelo Poder Público e foram estabelecidas na PNMA. “O Brasil tem 17% de seu território em Unidades de Proteção, o que é bom já que o mínimo estabelecido em convenções internacionais é de 10%. Porém, a Bahia tem apenas 3,4% de território em Unidade de Proteção, o que demonstra que temos muito que avançar ainda”.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos é outro retrato da falta de fiscalização e aplicabilidade de certas leis ambientais. “Essa política estabelece que todo município deve ter um aterro sanitário e é proibido o uso de lixões no Brasil. Entretanto, existem ainda mais de três mil lixões ativos no país e aproximadamente 60% dos municípios não tem seu próprio aterro sanitário”, relata o biólogo.

O último aspecto da legislação ambiental brasileira analisado foi o recente Código Florestal aprovado, que para Jeferson Oliveira, representa mais atrasos do que avanços na política ambiental do país. “A redução do limite obrigatório de preservação de mata nativa em cada propriedade rural representa uma grande perda. Analistas já apontam que a grave crise no sistema de água de São Paulo neste ano se deve ao Código Florestal”, afirma o biólogo Jeferson Oliveira.

*Graduando em Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura CT&I da UFBA

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