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Atualizado em 18 DE maio DE 2017 ás 18:12

Jogos eletrônicos facilitam o ensino de matemática

Desenvolvimento de projeto multidisciplinar MATECA – Matemática Tecnologia e Artes permite associação de três áreas do conhecimento para possibilitar uma explicação mais simples e integrada da matemática

POR ANDRESSA SILVA*
agenciamulticiencia@gmail.com

Uma das brincadeiras ou passatempo favorito de pessoas de qualquer faixa etária são os jogos eletrônicos, que se multiplicam e cativam diferentes grupos. Com as crianças e jovens, essa prática é  frequente. Diante disso, os jogos educativos são a melhor opção para atrair esse público no colegial, unindo diversão e conhecimento. Foi assim que o ensino de matemática na Escola Agostinho Muniz, em Juazeiro – BA se tornou mais atraente e produtivo. Setenta estudantes do 6º e 7º ano participaram de um projeto que resultou na criação de um jogo, o  Minecraft.

Para que a prática fosse possível, o professor de matemática Lemerton Matos e o monitor e graduando em artes visuais Otavio Tonelotto, desenvolveram o projeto multidisciplinar MATECA – Matemática Tecnologia e Artes. As três áreas do conhecimento foram associadas para possibilitar uma explicação mais simples e integrada, uma vez que as atividades sempre foram realizadas em grupo. Como o objetivo era criar o jogo reproduzindo o ambiente escolar, o nome do projeto passou a se chamar “MATECA: construindo a escola onde vivo”.

“Desde o início, percebi que a maioria dos estudantes utilizava muito o aparelho celular, principalmente para jogos, como o Minecraft. Assim, junto com Otávio, aplicamos o projeto em etapas. O resultado foi o jogo com a construção da escola feita por eles”, explica Lemerton.

De acordo com os instrutores, a primeira etapa foi dividir as turmas em dupla. Com o celular, eles puderam fotografar estruturas semelhantes às formas geométricas (planas e espaciais) estudadas em sala de aula. Nesse processo, escreviam sobre suas fotografias para depois socializar a experiência. Posteriormente, fizeram um convite a pedreiros e mestres de obras da comunidade, que deram uma palestra no pátio, aberta a qualquer pessoa da escola. Depois da capacitação, criaram uma planta da escola e a compararam com a planta real do colégio como forma de conferência. A etapa final foi desenvolver o jogo com os dados da escola.

Além de agregar educação e tecnologia, a atividade também possibilitou que os estudantes explorassem o lugar em que frequentam todos os dias, pois, apesar de conhecer e saber onde fica cada área, essa prática induziu a um olhar mais cuidadoso. “O MATECA foi interessante porque na escola não há laboratório de informática, então tivemos que nos voltar para o que tínhamos em mãos: o celular. Esta ação foi importante por perceber que daria para unir arte, fotografia e tecnologia, além de possibilitar uma experimentação do ser humano e o seu local de convívio”, relata Otavio, estudante de Artes Visuais da Universidade do Vale do São Franscisco (UNIVASF).

Foto: Andressa Silva

Numa roda de conversa, alguns dos integrantes comentaram sobre os benefícios e as dificuldades enfrentadas. Entre os aprendizados, os relatos foram de que o jogo foi essencial para um melhor aprendizado em geometria. Os estudantes entenderam que o Minecraft não é feito de um quadrado, mas de um cubo – figura tridimensional. Por unanimidade, a parte mais complicada foi a de construção do coreto. Segundo a estudante Andressa Santos, a maioria gostou mais da construção e de conhecer a relação entre grandeza e medida. “Aprendemos a utilizar a trena e a calcular a partir da definição de conversão de medida ensinada pelo professor e através da palestra. Outra coisa interessante foi fazer a medida do espaço com os pés, além de termos a oportunidade de fazer algo diferente durante as aulas,” conta.

Uma curiosidade é que parte dos estudantes nunca teve atividades com jogos antes em outras escolas. Essa é uma observação importante, levando em consideração que muitas escolas ainda mantêm métodos de ensino conservadores. O uso de dispositivos móveis e jogos em sala de aula não têm intenção de dispersar ou banalizar o ensino. “É possível saber qual o meio em que os jovens estão inseridos, qual o tipo de pensamento que têm em relação à tecnologia, ao mundo, ao uso dessas coisas. A partir disso, é possível costurar alguma coisa. Não deixar na mão da criança sem ter uma finalidade, e também não restringir, mas promover o equilíbrio. Percebemos que vários estudantes filavam aula ou não prestavam atenção porque estavam jogando. Então, buscamos incluir o jogo na proposta educacional”, esclarece Otávio.

Foto: Andressa Silva

Além do benefício em sala de aula, a experiência com os jogos gerou a produção de dois artigos escritos por Lemerton e Otavio. O primeiro, intitulado “Fotografia e a aprendizagem de conceitos geométricos na escola básica: uma relação possível”, submetido no I Congresso de Fotografia do Vale do São Francisco, e o segundo, “Matemática, arte e cultura digital na escola básica: uma perspectiva interdisciplinar”, apresentado na “II semana de matemática da Uneb – Senhor do Bonfim”. O objetivo foi contemplar a perspectiva interdisciplinar, fazendo uma avaliação dos resultados.

Para Lemerton, entender as mudanças e acompanhar a evolução das gerações é um desafio para professores da educação básica. Ele considera necessário estabelecer estratégias de ensino que contemplem o desejo delas. “Os professores da graduação estão mais abertos. É tanto que hoje nós temos uma discussão muito mais ampla sobre o papel das tecnologias no ensino. Em nossa proposta dentro da universidade, a gente tenta contemplá-la. É ainda um desafio para professores que já estão em serviço, para quem já que terminou a graduação a mais tempo. Ainda é possível encontrar resistência em utilizar a tecnologia, ou até mesmo em construir projetos dessa natureza, porque o desafio é atrelar a matemática do currículo ao que precisa ser ensinado,” afirma.

* Repórter da Agência MultiCiência – Agência de Notícias do curso de Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia – DCH III.

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