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Atualizado em 5 DE maio DE 2015 ás 15:42

Jovem, precisamos falar sobre o AVC

O derrame é cada vez mais recorrente na juventude, e a principal causa é o estilo de vida descomedido

Sérgio Loureiro *
sergiodemelofilho@gmail.com

A ocorrência do acidente vascular cerebral (AVC) é mais comum na faixa etária entre 60 a 80 anos, pois está relacionada às alterações metabólicas típicas da idade e ao maior grau de alterações cardiovasculares. Obesidade, hipertensão arterial, fumo, consumo de álcool, diabetes e sedentarismo são alguns dos fatores tradicionalmente considerados de risco para o ocasionamento do AVC. O derrame, como é popularmente conhecido, pode ser de dois tipos: isquêmico – quando há a obstrução de uma ou mais artérias -, ou hemorrágico – rompimento de uma artéria ou vaso sanguíneo. No entanto, engana-se quem pensa que a doença é exclusiva do público da terceira idade: a incidência de AVC em jovens cresce a cada ano, e os números já chamam a atenção de médicos e pesquisadores.

A população jovem possui determinantes diferentes e uma maior diversidade de etiologias para a doença, o que, geralmente, requer uma investigação mais abrangente.  “O acidente vascular cerebral em jovens é uma coisa preocupante, porque é decorrente do estilo de vida adotado, como o péssimo hábito alimentar, consumo de drogas e uso de anabolizantes”, relata o doutor Antônio Andrade, presidente da Fundação de Neurologia e Neurocirurgia Instituto do Cérebro.

Além dos anabolizantes e do consumo de drogas ilícitas, há ainda outros fatores que se constituem como agentes causadores de AVC, específicos do público jovem: noites mal dormidas, estresse emocional, uso de anticoncepcionais, fatores genéticos, doenças infecciosas – ou seja, cardiopatias –, e problemas ligados a doenças valvulares. O doutor Ailton Melo, coordenador da Divisão de Neurologia e Epidemiologia (DINEP-UFBA), alerta que “aqui na Bahia temos a anemia falciforme, que é algo próprio de nosso Estado, devido à herança da genética africana, e que contribui para a ocorrência de AVC em crianças”. Ainda assim, a maioria dos fatores de risco é conhecida e potencialmente controlável, o que indica que campanhas de prevenção e detecção precoce devam ser incentivadas.

Apesar de terem diferentes etiologias, os sintomas do AVC em jovens não diferem muito dos de outras faixas etárias. Os mais frequentes ainda são a diminuição ou perda súbita dos movimentos faciais, braço ou perna de um lado do corpo; alteração da sensibilidade, com sensação de formigamento; alteração aguda da audição, fala, incluindo dificuldade para articular; forte dor de cabeça, além de eventuais desmaios.

Para Jéssica Queiroz, o mau hábito alimentar foi um dos fatores determinantes, quando diagnosticada com AVC, aos 24 anos. Hipertensa desde criança, ela alega que “possuía uma alimentação repleta de besteiras”.  No entanto, outros elementos contribuíram para o desenvolvimento do seu derrame: “além da hipertensão e da má alimentação, o fator genético foi fundamental. Tenho gigantismo, e, de acordo com o meu neurocirurgião, influenciou bastante”, conta.

Hoje, cinco anos após o AVC, Jéssica segue em tratamento e já diz ter recuperado praticamente todos os movimentos do lado esquerdo do corpo – sua área mais afetada. “Só não recuperei o movimento do polegar esquerdo, que, segundo o fisioterapeuta, não depende mais das sessões, e sim da evolução natural do meu cérebro”, explica. Para isso, Jéssica passou a estimular seu cérebro, fazendo aulas de dança e curso de inglês. “Além disso, reeduquei minha alimentação. Sei que se eu não cuidar da minha pressão, corro risco de sofrer outro AVC”, afirma.

AVC em mulheres

Segundo o doutor Aílton, “as mulheres têm uma proteção natural até o climatério, e após esse período elas perdem tal proteção, por se tratar de uma defesa hormonal”. Porém, o uso de anticoncepcionais – mais frequente na juventude – se torna um agravante no desenvolvimento de AVC’s em mulheres, caso estas estejam inseridas em outros fatores de risco, como obesidade ou ser fumante. Esse agravante se justifica pelo uso das pílulas fazer com que o sangue fique mais espesso e mais propenso a coagular – o que provoca um aumento da pressão arterial.

O doutor Antônio chama a atenção para outro elemento, que surgiu recentemente: a masculinização da mulher. “Porque hoje têm esse fenômeno [da masculinização da mulher], que seria o culto pelo corpo malhado, bombado. E muitas usam do anabolizante para obter esse modelo”, explica.

Aumento de casos no carnaval

No período do carnaval – até 30 dias após seu término –, o número de jovens vítimas fatais por decorrência do AVC aumenta consideravelmente. Estudo publicado pelo Comitê Estadual de Atenção à Doença Cerebrovascular, do Ceará, aponta que o índice de mortalidade de jovens, causado pelo derrame, cresce em 11%, no Estado. Em Salvador, onde a festa tem proporções ainda maiores, a realidade não é diferente.

A justificativa está nos abusos que os foliões – em sua maioria, jovens de 18 a 30 anos – costumam ter. Sendo assim, o doutor Antônio alerta para os riscos desse tipo de comportamento: “O indivíduo desidratado [pelo consumo de álcool], sob o impacto da música, não se alimenta, não bebe água, e ainda utiliza-se de drogas, e esses são fatores de predisposição ao AVC”.

Tratamento e Reabilitação

Mesmo com diferentes causa, o tratamento em jovens com AVC não se difere muito do tradicionalmente usado com os pacientes mais idosos. Porém, a juventude pesa como fator principal na recuperação do paciente. “Quando se tem um derrame no cérebro jovem, o melhor remédio para o tratamento é a juventude. Você acaba tendo uma recuperação mais rápida”, afirma o doutor Antônio.

Ainda segundo o doutor, nos pacientes jovens, é necessário um “tratamento multidisciplinar, com fisioterapia e acompanhamento psicológico, pois o jovem que sofre de AVC costuma desenvolver depressão muito fácil”.

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