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Atualizado em 11 DE janeiro DE 2013 ás 00:45

Líderes de opinião e a comunicação fora dos centros

Os meios de comunicação de massa coexistem com outros mecanismos de informação populares. Para Antonio Hohlfeldt da PUCRS, esse fenômeno ocorre, fundamentalmente, pela atuação dos líderes de opinião. “Você tem, de um lado, o sistema massificado, de outro, o sistema paralelo popular, não letrado, e os dois se comunicam”, diz.


lessaedvan@gmail.com

Temas de interesse público já não são pautados exclusivamente pelos meios de comunicação tradicionais. Houve um tempo em que se acreditou em efeitos absolutos do cinema, TV, rádio, ao injetar seus conteúdos diretamente em todas as pessoas. A ausência da eletricidade em comunidades remotas provou, no entanto, que eles podem ser prescindíveis. Sendo assim, o pesquisador em Comunicação Antonio Hohlfeldt, acredita que outros modos de informar foram conhecidos e o papel dos líderes de opinião se tornou fundamental no diálogo com a imprensa.

Há alguns anos houve um primeiro grande escândalo de certo senador do nordeste brasileiro, acusado de corrupção. A imprensa caracterizou o fato como “O Caso Moreno”. “No interior de Pernambuco, encontro um folheto de cordel contando a história. Só que não falava em corrupção; dizia: ‘Senador caloteiro”, relata Hohlfeldt. A publicação apresentava o mesmo fato com uma linguagem acessível. “[Ela] dava toda a história da situação do tal senador, só que não falava com aquelas palavras ‘difíceis’ da mídia urbana, da mídia massificada”, afirma.

Em lugares onde as pessoas não têm acesso à internet, o que se constata é que, mesmo à margem dos grandes centros, os grupos criam outros processos alternativos através de produções próprias. Esses dois sistemas, porém, não vivem tão paralelos ou desligados como pode parecer. E, segundo o professor, é graças ao que Luiz Beltrão, primeiro doutor em comunicação do Brasil e pioneiro ao criar o curso de Comunicação Social do país, vai chamar de agentes folkcomunicacionais – os líderes de opinião.

A expressão vem da Folkcomunicação. O estudo é sobre os procedimentos comunicacionais pelos quais manifestações da cultura popular ou do folclore convivem com outras cadeias de comunicação, sofrem modificações por influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam, quando apropriadas por essa última.

“Você tem, de um lado, o sistema massificado, de outro, o sistema paralelo popular, não letrado, e os dois se comunicam”, diz o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) que cita a campanha pré-eleições em que se utilizam automóveis, mídias digitais e, em suma, recursos de ponta acessíveis para atingir os eleitores. “O que não impede de usar o burro com a caixa de som”. Em certas cidades do interior e comunidades rurais não é algo estranho. Um sistema não exclui o outro, pois, ainda segundo Hohlfeldt, continuam funcionando.

A ideia de convivência dos meios de comunicação tradicionais com outros populares é uma das grandes contribuições de Beltrão. “Aliás, — lembra o professor — tinha sido notada pelo Paul Lazarsfield”, ressalta. Ele complementa que a influência interpessoal nos grupos faz a mediação da mídia de massa.

“Ainda que eu veja a televisão, eu vejo melhor ‘a coisa’ quando meu vizinho conversa comigo, ou meu amigo, ou companheiro, meu pai”, continua. A TV, nesse sentido, influiria em um líder de opinião que pode ser qualquer pessoa de prestígio na comunidade – o chefe do serviço, o padre, o sacerdote, o pastor da igreja, ou alguém que mantenha frequentemente contato com fontes externas. Além disso, que possui mobilidade e guarda reflexões. “Você tem um sistema de intermediação em nível pessoal”, pontua o pesquisador. Isto é, um processo de intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da massa através de agentes ligados direta ou indiretamente à cultura.

Com a consagração dos sites de rede social e apesar das controvérsias sobre os seus usos para a produção e difusão de conhecimento, nota-se uma quantidade significativa de conteúdo e informação que circula, não apenas aqueles veiculados na televisão. Esses conteúdos também são compartilhados por muitas pessoas e se tornam virais – que remete ao termo vírus, propriamente. O responsável por essa “viralização” é, muitas vezes, o estudante de ensino superior, o blogueiro, um grupo de amigos, etc, não necessariamente alguém da mídia.

Hohlfeldt, porém, não sabe dizer se é bom ou ruim o que estamos vivendo.  “Não sei se a mídia é neutra. Mas ela serve para o bem ou para o mal’’, problematiza. A sua grande constatação continua sendo que a apropriação midiática, assim como de qualquer outro equipamento, se dá através das pessoas, em contextos sociais determinados, ideológicos. “Um telefone celular numa aldeia indígena do Mato Grosso permite que um índio telefone para o hospital de Cuiabá ou Brasília e consiga trazer um médico pra salvar uma criança, isso é importante”, conclui.

*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Culura.

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