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Atualizado em 10 DE novembro DE 2012 ás 23:29

Métodos de participação social são fundamentais para a gestão ambiental

Doutora em Analise e Governança do Desenvolvimento Sustentável fala sobre a importância dos métodos de participação social no trabalho da gestão ambiental.

GILBERTO RIOS*
gilberto.rios13@gmail.com

O impacto ambiental da construção de grandes obras é tema recorrente na mídia e divide a opinião pública entre aqueles que são à favor ou contra a intervenção, pelos mais variados motivos. Mas, afinal, como são planejadas essas mudanças? Doutora em Analise e Governança do Desenvolvimento Sustentável com foco em metodologias participativas de Gestão Integrada de Recursos Hídricos, Lucia Ceccato integra o grupo de pesquisa em Recursos Hídricos da Universidade Federal da Bahia e responde a essa pergunta em seu trabalho “Métodos Participativos como Apoio ao Processo Decisório na Gestão Ambiental: o Uso de Mapas Cognitivos Difusos”.

“O desenvolvimento de políticas ambientais requer a combinação de muitos dados e conhecimentos científicos sobre o funcionamento da natureza com as incertezas e pluralidade de perspectivas legitimas”, defende a pesquisadora. Ela explica que trabalhar em projetos assim implica em coletar o maior número de fontes possíveis dos diferentes setores sociais. Portanto, estão incluídos os políticos, os empresários, os grupos sociais afetados pela mudança etc. “O gestor ambiental é o responsável, entre outras coisas, por calcular possíveis danos ao meio ambiente e tentar solucioná-los”, conta Lucia. Utilizemos o caso da usina hidrelétrica de Belo Monte, no estado do Pará. Planejado para ser inaugurado em fevereiro de 2015, o projeto original teve que ser reduzido por causa da pressão de grupos indígenas locais e de ativistas ambientais. Eles foram os stakeholders do processo – assim são chamados todos os considerados como atores sociais pelos gestores ambientais durante o estudo de impacto. “O desenvolvimento de atores diferentes ajuda a criar cenários mais robustos, mas a participação pode ser muito igualmente útil ao interpretar os dados”, sinaliza.

Nascida na Itália, Lucia também destaca que a noção de participação no Brasil é diferente da ideia europeia. Enquanto aqui nós pensamos um conceito focado em trabalho com comunidades locais, na Europa, participação é a atuação de qualquer setor, inclusive o acadêmico. “Se você não define o momento de participação, você corre o risco de não ter impactos fortes”, adverte a pesquisadora. Ela ressalta que todo projeto de gestão ambiental sério tem que partir de uma pergunta: quais os tipos de participação que você irá utilizar?

“Explicitar os modelos ajuda a compreender a forma como os atores sociais irão se organizar para a mudança de algum quadro”, explica Lucia. Fundamentalmente, existem três tipos de intervenções que um gestor ambiental pode ter: em pesquisa, em tomada de decisão e em comunidade. Como pesquisador, o gestor ambiental vai trabalhar na elaboração de um projeto, catalogando, por exemplo, os dados atmosféricos do perímetro ou a topografia local. No processo de decisão, seu trabalho é pautado nos aspectos jurídico e legislativo, pensando em que ponto algo deve ser estabelecido ou retirado a favor de uma causa. Por fim, o trabalho em comunidades é o que o Brasil mais conhece: baseia-se em informar uma comunidade sobre algum tema através de atividades.

“Um dos elementos chaves é a capacidade de sensibilidade do pesquisador”, sugere Lucia, porque “afinal, trabalhar com meio ambiente e pessoas implica em, a todo momento, mediar interesses e públicos e privados”, explica. Para auxiliar o trabalho do gestor ambiental comprometido, softwares de computador conseguem esquematizar as implicações existentes em quaisquer medidas tomadas, apontando imediatamente as causas e consequências. É como se um jogador de xadrez tivesse alguém opinando antes mesmo que ele possa tocar numa peça para fazer a jogada.

Finalmente, a pesquisadora anuncia a importância de fiscalizar também o trabalho do gestor ambiental: “a legitimidade é um problema sério ligado à representatividade e deveria existir uma metodologia ligada a isso”, confessou. Destacando a necessidade de transparência com os resultados das pesquisas e sugerindo que qualquer intervenção só deve ocorrer mediante a negociação de todos os stakeholders, Lucia dispara: “se não existe uma metodologia, é muito provável que o projeto seja escrito de forma manipulada ou superficial”, conclui.

*Gilberto Rios é bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura, estudante de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba) e integra o grupo de pesquisa sobre Cultura e Sexualidade (Cus).

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