Existe um ar mitológico que envolve os astros. Segundo o professor Wilton Carvalho (UFBA), nem sempre o que chega de lá de cima é meteorito. "Temos que fazer a análise química e depois física", diz.
POR EDVAN LESSA* E NÁDIA CONCEIÇÃO**
lessaedvan@gmail.com* e nadconceicao@gmail.com**
Existe um ar mitológico que envolve os astros. Muitas pessoas ainda desconhecem ou os estereotipam, desconhecendo as suas particularidades. O Bendegó foi achado em uma cidade próxima à cidade de Itiúba chamada Uauá e lá existia uma lenda.
De acordo com o meteoricista Wilton Carvalho, o Bendegó era uma pedra encantada e o povo acreditava que seu sofrimento com a seca era porque a pedra foi retirada do local. “Essa lenda ficou na minha cabeça. O meu povoado foi onde o Bendegó embarcou para Salvador. No local foi feito um marco de pedra que existe até hoje e todo meu trabalho foi para desmitificar a lenda e provar que ele não era encantado”, detalha.
+ METEORÍTICA
Pedras extraterrestres na Terra
Meteoros e afins
Sob o rastro de uma “estrela cadente” muitos pedidos já foram feitos. Triste é saber que eles jamais serão atendidos. Nada de sobrenatural ocorre quando um meteoro cai do céu. Trata-se de uma porção de matéria, geralmente do tamanho de um grão de arroz, que se desintegra no espaço depois de acordar de um sono em que permaneceu imutável por bilhões de anos e gera o fenômeno que avistamos. Esses corpos foram desagregados por conta da radiação do Sol, ou se orginaram de choques frequentes, especialmente no Cinturão de Asteroides (espécie de “entulho celeste”) situado entre as órbitas de Marte e Júpter.
Os meteoros também podem ser produzidos por meteoroides. Esses últimos são restos de cometas e asteroides que passeiam pelo universo e podem ser menores que um átomo,menor partícula que caracteriza um elemento químico. Ao atingirem a Terra os meteoros são chamados de meteoritos, minúsculas partículas, restos de cometas e outros corpos celestes, que pesam cerca de 10 gramas. Quase sempre têm o tamanho de grãos de feijões, mas podem ser ainda menores.
A variação do brilho dos meteoroides é resultado do atrito que este corpo sofre ao atingir a atmosfera terrestre. Nessa camada, o meteorito se inflama, causando um espetáculo no céu semelhante a fogos de artifício. A sua velocidade pode variar de 42 Km/seg para 72 Km/seg, e se manifestam a uma altura de aproximadamente 120 Km quando “acendem”, e de 70 Km quando “apagam” totalmente ao serem incinerados.
Dentro de uma rocha extraterrestre
Quando caem sobre a Terra, atraídos pela força gravitacional, tanto os meteoros quanto os meteoroides são chamados de meteoritos. Na maioria das vezes são fragmentos de rochas ou de ferro de tamanho variável e forma irregular. Sua estrutura também pode variar de microfragmentos, a pedaços de rochas de alguns metros de diâmetro.
Segundo o professor Carvalho, nem sempre o que chega de lá de cima é meteorito. Ele exemplifica que a rocha encontrada em Salvador, há pelo menos duas semanas, não é um meteorito. “Eu já posso dizer isso só visualizando. Ele é o que chamamos de canga, que são minerais que passam por um processo de hidratação, onde o ferro começa a se transformar em outros minerais.”, desmitifica. O objeto classificado como meteorito está enferrujado, o que confirma a opinião do meteoricista.
De acordo com o pesquisador, para comprovar se esses materiais espaciais são realmente meteoritos é realizada uma análise química para saber de que eles são compostos. “Podemos perceber que 90% dos meteoritos têm níquel e ferro. Então, se você acha níquel em uma rocha, há probabilidade de ser um meteorito”, detalha.
“Primeiramente fazemos uma análise no olhar, onde vemos as texturas, as crostas, [se] não tem vesícula, [se] não tem furinho, se for de ferro ou metálico…”, comenta Carvalho a respeito do primeiro contato com o meteorito. “[Contudo,] existem meteoritos de todos os tipos, logo, para ter certeza se é, e de qual [é o seu] tipo, temos que fazer a análise química e depois física”, elucida o o professor Wilton Carvalho.
Foto: Reprodução/Museu Nacional – UFRJ
A análise dos minerais em laboratório é feita por um geólogo e passa por um espectrograma para fazer o exame petrográfico, que indica as características estruturais, mineralógicas equímicas das rochas. “Existem determinados minerais que só encontramos nos meteoritos. Se você encontrar um mineral chamado hematita ou calcita em quantidade não é meteorito”, completa o pesquisador que alerta sobre os parâmetros para essa análise das rochas.
Estudos sobre meteoritos no Brasil
Os trabalhos acadêmicos sobre meteorito são raros nas universidades, institutos, centros e observatórios do país. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaicias (INPE), por exemplo, realiza projetos para inclusão e educação científica; observações da atividade solar, estudos sobre geodinâmica, astrofísica, dentre outros, mas nenhum trabalho acerca das rochas espaciais. Segundo Wilton Carvalho, o Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a instância que mais se destaca em projetos sobre meteoritos.
Na Bahia, o Observatório Astronômico Antares, vinculado à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) possui projetos sobre Astronomia Extragalática – que lida com objetos fora da Via Láctea, Lixo espacial e Física de plasma – quarto estado físico da matéria, presente no Sol, por exemplo, mas também não lida com a ocorrência de impactos de asteroides.
De acordo com o professor da UFBA, a Meteorítica, ciência que estuda os meteoritos e outros materiais extraterrestres, que ajudam a compreender a origem e história do sistema solar, ainda não tinha se constituído e a maioria dos cientistas não acreditavam na existência de rochas vindas do espaço. “As perspectivas levantadas na descoberta do Bendegó era de que havia uma valiosa jazida de minério de ferro”, afirma p pesquisador da UFBA.
O primeiro contato do professor Wilton Carvalho com a “Pedra de Bendegó” foi em 1888, em uma visita ao museu que hoje o abriga. A experiência aconteceu sete anos antes de Bendegó ter sido reconhecido como um provável meteorito, através de comunicado escrito pelo inglês Aristides Franklin Mornay, à Sociedade Real de Londres.
*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.
**Nádia Conceição é jornalista e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.